Em tempos de home office, o mercado imobiliário vai fazer de tudo para tornar os prédios de escritórios mais atraentes

Nos anos que se seguiram ao início da pandemia, a questão de como ficariam os escritórios ficou em aberto. Se e até quando eles serão necessários ainda não está claro para muitas empresas, e as principais mentes ainda estão descobrindo como projetar um local de trabalho para o qual os funcionários realmente queiram voltar. 

Os próprios edifícios comerciais estão passando por uma crise existencial. Os últimos anos têm sido repletos de desafios para os escritórios em geral, mas, em 2024, designers e empreendedores vão começar a ser menos sensíveis às incertezas e mais proativos em relação a como podem reestruturar a situação. Essa é uma das principais conclusões do 2024 Design Forecast da empresa global de arquitetura e design Gensler. 

O relatório aponta oito tendências principais que eles apostam que ganharão corpo no ano que vem, além de dezenas de subtendências que são específicas para determinados tipos de prédios. Algumas incluem o crescimento de empreendimentos multigeracionais, uma gama mais diversificada de ofertas em bairros que de uma hora para outra se tornaram centrais para os negócios e a adoção de IA e de ferramentas de design que estão surgindo.

Como uma das maiores e mais movimentadas empresas de design do mundo e centenas de projetos em andamento, a Gensler está bem posicionada para fazer prognósticos sobre a direção que a arquitetura está tomando. E, com muitos projetos de escritórios em andamento, também pode fazer uma estimativa bem fundamentada sobre o rumo que o setor está tomando.

Projeto de conversão de um prédio comercial em residencial (Crédito: Gensler)

Os escritórios aparecem de várias maneiras nas previsões da Gensler. Essas projeções incluem a necessidade crescente de que os escritórios sejam destinos atraentes, o papel que os novos tipos de escritórios precisarão desempenhar em bairros de uso misto e o potencial de encontrar novos usos para escritórios que as pessoas já não querem mais. No mundo todo, eles estão sendo repensados em uma escala nunca vista em décadas.

REFORMA E CONVERSÃO

As conversões de uso serão uma parte importante dessa reformulação. A Gensler estava na vanguarda do movimento de conversão de escritórios vagos em moradias e prevê mais projetos desse tipo em 2024. 

O interesse crescente na conversão de escritórios em moradias descortinou o potencial escondido em outros espaços subutilizados. Jordan Goldstein, co-CEO da Gensler, diz que isso está fazendo com que o próximo ano seja marcado por uma gama mais ampla de projetos de conversão, incluindo de varejo para saúde, de grandes lojas para locais de entretenimento e de ainda mais escritórios para prédios residenciais.

Projeto para transformar instalações industriais (Crédito: Gensler)

“Com certeza, é mais sustentável encontrar uma nova função para os edifícios antigos do que construir do zero, do ponto de vista da pegada de carbono. Por isso, estamos vendo as oportunidades surgirem de diferentes pontos de vista, mas com o objetivo comum de descobrir o que poderia ser, o que esse ativo problemático poderia oferecer em uma nova vida”, explica Goldstein.

A Gensler desenvolveu seu próprio algoritmo para analisar o potencial de conversão dos edifícios de escritórios e descobriu que cerca de 30% poderiam ser reaproveitados de alguma forma. Isso está ampliando a visão para as possibilidades existentes.

“Os empreendedores com senso de oportunidade estão procurando iniciar projetos, analisando e estudando os edifícios, passando pelos processos de concessão de direitos, conversando com as autoridades locais sobre estudos de viabilidade e tendo esse diálogo para começar a analisar prospecções sobre o que pode ser feito”, diz Goldstein.

TESTAR E EXPERIMENTAR

Muitos escritórios, no entanto, continuarão sendo escritórios. As empresas que os utilizam – seja porque estão presas a aluguéis de longo prazo ou porque ainda veem valor neles – devem encarar o ano que vem como uma chance de redefinir o que seu escritório é capaz de fazer daqui para frente.

“É uma oportunidade de aprender. Estamos incentivando os clientes a cocriarem conosco, a aproveitarem esse momento para tentar coisas diferentes”, diz Julia Simet, co-CEO da Gensler.

Isso pode se dar por meio da reformulação de escritórios, de experimentos ou até mesmo de projetos-piloto que testam novos conceitos para o uso de interiores de escritórios comuns. “Em alguns casos, as pessoas têm espaço de sobra. Elas têm espaço e tempo para experimentar algumas dessas coisas”, ela afirma.

Um dos espaços testados pela empresa NI (Crédito: Ryan Gobuty/ Gensler)

É um trabalho que a Gensler já fez para clientes como a empresa de equipamentos de teste NI, que construiu uma série de espaços de escritório para testes beta em sua sede e fez com que os funcionários os vivenciassem como parte de um dia de trabalho real.

“Podemos reservar um tempo para testar e experimentar”, diz Simet. “Tudo isso tem a ver com a tentativa de descobrir como criar um local de trabalho atraente”, acrescenta.

Esse também é um tema recorrente no Design Forecast. Na sequência da pandemia, os designers têm tentado criar esse atrativo nos escritórios e estão começando a progredir.

A previsão da Gensler aponta que esse raciocínio se tornará mais presente na maneira como cada espaço é projetado em 2024, de escritórios a centros urbanos e bairros. “Temos que criar espaços que as pessoas queiram visitar”, ressalta Simet.

Texto: Nate Berg