sexta-feira,22 novembro, 2024

PORTUGAL SMART CITIES SUMMIT: MUNICÍPIOS REFORÇAM PROTAGONISMO, GOVERNO ACENA COM ESTRATÉGIA NACIONAL

Durante três dias, o ecossistema das cidades inteligentes voltou a reunir-se no Portugal Smart Cities Summit para apresentar produtos e soluções, debater estratégias e apontar caminhos para o futuro. O evento, realizado na FIL, em Lisboa, terminou ontem com um claro sinal de dinamismo, revelando um setor em crescimento, apostado em liderar a transição digital e ambiental do país.

Ao assumirem um papel de charneira neste caminho, os municípios encontraram na 9.ª edição do certame um terreno fértil para reforçarem protagonismo, ou não fossem eles e as cidades “por razões demográficas, de mudança no panorama tecnológico e das tendências que se avizinham, o polo estruturante das economias”, como disse o presidente da AIP, Jorge Rocha de Matos, na sessão de abertura.

Esse destaque revelou-se, desde logo, na área expositiva, com as autarquias e regiões a ocuparem as primeiras linhas de stands. Junto à entrada, a Câmara Municipal de Lisboa apresentou diversas soluções implementadas pelo município, como a Plataforma de Gestão Inteligente de Lisboa (PGIL), vários projetos de mobilidade promovidos pela EMEL e pela Carris e outros de sensorização nas áreas do ambiente e da higiene urbana.

Também o Seixal voltou a marcar presença no Portugal Smart Cities Summit, onde deu a conhecer projetos como o SIDS Seixal, que permite a monitorização de indicadores de sustentabilidade com suporte geográfico, e ainda o projeto-piloto do Sistema de Rega Inteligente, que já está a ser testado no concelho. A estes, juntaram-se outras apostas do município, como o centro de aprendizagem e experimentação Seixal Criativo, o Green Pipeline Project ou a Central de Produção de Hidrogénio Verde.

Já o Fundão trouxe à FIL vários sensores de apoio à pecuária e convidou algumas startups locais a apresentarem-se ao mercado. Foi o caso da Danyalgil, que tem trabalhado na área do blockchain e desenvolveu uma solução que permite controlar todo o percurso da cereja do Fundão, desde a árvore até ao consumidor final. A mesma aposta fez Torres Vedras, com várias empresas e associações da região a mostrarem-se no stand do concelho, como a Smart Farm Colab – Laboratório Colaborativo para a Inovação Digital na Agricultura, que desenvolveu um demonstrador nacional de tecnologia ao serviço deste setor, o DigiFarm2all.

Por sua vez, a Comunidade Intermunicipal do Oeste – Oeste CIM apresentou a Oeste Smart Region, uma plataforma de apoio à gestão dos territórios, desenvolvida pelo NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, da NOVA IMS. Houve ainda oportunidade para conhecer a Oeste Smart Beach, que contabiliza o número de pessoas nas praias do concelho, bem como drones que utilizam a inteligência artificial para detetar a presença de vespas asiáticas na região.

Também a Amadora e a Madeira fizeram-se notar no certame com stands junto à entrada do pavilhão. A primeira apresentou-se nesta edição sob o mote “Amadora, Cidade Digital” e deu a conhecer, por exemplo, o sistema de videoproteção instalado no concelho, enquanto a Região Autónoma esteve representada através de várias empresas e respetivas soluções, caso do sistema de smart parking iParque.

CIDADES E TERRITÓRIOS INTELIGENTES: AUTARQUIAS E GOVERNO AFINAM ESTRATÉGIA(S)

Os municípios também surgiram como protagonistas em grande parte das conferências e apresentações, que este ano foram mais de 20, distribuídas por vários palcos. Logo no primeiro dia discutiu-se o tema “Cidades inteligentes e sustentáveis: a realidade, os projetos e os desafios das autarquias”, trazendo para o debate o Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pedro Calado; o Presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva; o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia; e o Filip Lackovič, Vice-Presidente da cidade eslovaca de Senica. A mobilidade, a sustentabilidade ambiental, a segurança (com especial destaque para a questão da videovigilância) e o papel das novas tecnologias e da inteligência urbana nas cidades foram os principais assuntos abordados pelo painel. Filipe Anacoreta Correia, por exemplo, lembrou que um dos maiores desafios das cidades é “ter dados, mas também saber aproveitá-los para a gestão [das cidades], porque muitas vezes adquirimos a tecnologia e, depois, não investimos na sua adaptação e implementação”. Já o autarca madeirense lamentou a carga burocrática que os municípios enfrentam: “tudo é um obstáculo e um problema, seja para se lançar um concurso público, para fazer uma adjudicação de uma obra ou para ir ao encontro de todas das liberdades e garantias, quando instalamos câmaras. Há que trabalhar muito numa reforma administrativa, rápida, célere e eficaz”, defendeu.

“Como estão as cidades do Litoral em matéria de adaptação e mitigação das alterações climáticas?” foi a questão levantada noutra conferência. As respostas surgiram pela voz de Carlos Antunes, investigador no Instituto Dom Luiz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), José Pimenta Machado, Vice-Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), e Joana Pinto Balsemão, Vereadora no Município de Cascais. No debate, a responsável pelas políticas de ambiente, descarbonização e Cidadania e Participação da autarquia defendeu a necessidade de valorizar mais a importância dos municípios (nesta e noutras temáticas), lembrando que o “território municipal é o local de maior prova das políticas e onde essa batalha vai ser ganha ou perdida”. “Constato que, muitas vezes, na elaboração de legislação, seja a nível europeu ou nacional, o papel dos municípios não é devidamente considerado. Há uma consulta, mas sem a permeabilidade que devia ter e depois o resultado final, seja a legislação ou o pacote financeiro, não reflete a realidade, ou seja, o facto de os municípios serem os alicerces fundamentais da transição ambiental”, disse Joana Pinto Balsemão à Smart Cities no final da conferência.

Já no último dia da feira debateu-se a temática das Cidade e Territórios Inteligentes, com a presença do secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo. O governante aproveitou a ocasião para anunciar que a Estratégia Nacional de Territórios Inteligentes deverá ser apresentada “dentro de poucas semanas”, explicando que esta tem como objetivo “transformar o desafio das cidades do futuro em oportunidades de inovação tecnológica, mas também, e muito mais, de inovação social”. Entre as metas definidas para 2030 estão, por exemplo, promover as boas práticas, apoiar a implementação local de territórios inteligentes, promover sinergias e iniciativas, otimizar os investimentos públicos, adotar princípios comuns e garantir um alto nível de interoperabilidade.

O secretário de Estado apelou a uma cooperação alargada entre os diversos agentes, como autarquias, empresas e academia, “para que esta Estratégia descole do papel”, e relembrou o investimento extra de 60 milhões de euros alcançado com a reprogramação do PRR. Até 2026, o governo quer fazer “com que pelo menos 100 entidades, entre municípios, CIMs e áreas metropolitanas contem com plataformas de gestão que estarão ligadas ao primeiro cockpit de inteligência territorial do país”. Nesse contexto, deu conta da criação de um Portal dos Territórios Inteligentes que divulgará, por exemplo, fontes de financiamento e casos de utilização, bem como do lançamento da primeira Plataforma Eletrónica de Submissão de Procedimentos Urbanísticos. Por fim, anunciou um investimento de 6 milhões de euros em projetos de capacitação para a sustentabilidade e a inteligência territorial e de mais meio milhão de euros “para pôr esta Estratégia no terreno (…) através de um roteiro próprio e de apoio a diversos projetos, entre os quais um tool kit que permita aos autarcas e às autarquias apropriarem-se dos domínios-chave dos territórios inteligentes”.

EMPRESAS REVELAM SOLUÇÕES… E OTIMISMO

Além dos municípios, também as empresas continuam a ter um papel fundamental no Portugal Smart Cities Summit, cabendo-lhes a maior parte da área expositiva e fazendo deste evento “o local de convergência e o marketplace físico de criação de oportunidades para o mercado nacional e internacional”.

Entre elas voltou a estar a Ubiwhere, a tecnológica de Aveiro que apostou na divulgação da sua Plataforma Urbana, uma ferramenta que reúne todos os dados disponíveis numa cidade, disponibilizando-os de forma integrada através de um dashboard. Para André Guimarães, business marketing manager da empresa, o certame mostrou que “o futuro do ecossistema das smart cities é muito promissor”: “Até agora, cada um foi procurando as soluções que pretendia e agora o mercado começou a ajustar, por isso admito que estamos a preparar-nos para uma nova fase em que as cidades e as comunidades intermunicipais trabalhem ainda mais com conjunto com as empresas”.

Presença habitual no Portugal Smart Cities Summit é também a Soltráfego que, este ano, apresentou soluções de controlo de tráfego e estacionamento, videovigilância urbana de última geração e bike sharing. Nuno Oliveira, administrador da empresa acredita que o mercado ainda tem muito para crescer e elogia a importância de alguns municípios que têm sido mais inovadores, “desde logo na implementação de projetos-piloto para testar e validar soluções”, mas acrescenta que “falta passar desse projeto-piloto, da demonstração, do POC [prova de conceito] para a implementação efetiva, com base em contratação pública, mas com uma escala em que os cidadãos percebam que o território se transformou e é mais amigável porque passa a ser gerido com dados”.

Outro exemplo de sucesso é a NEC, que este ano voltou a apostar na Plataforma Urbana CCOC (Cloud City Operations Center), já implementada no município de Lisboa. Mas a empresa também trouxe algumas novidades, com destaque para uma plataforma de gestão e reporte de ocorrências por parte dos cidadãos, que lhes permite informar os serviços municipais das mais variadas ocorrências, como uma lâmpada fundida na rua ou lixo espalhado junto ao ecoponto.

Saiba mais sobre o evento na próxima edição em papel da Smart Cities (outubro/novembro/dezembro de 2023).

Publicado por Nelson Jerónimo Rodrigues 

Redação
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