quinta-feira,19 setembro, 2024

Por que cientistas tatuam células e órgãos com tinta de ouro?

Quão pequena pode ser uma tatuagem? Para os pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, é possível “tatuar” células vivas e até fazer pequenos desenhos no cérebros de roedores, com uma técnica que envolve nanopontos e nanofios de ouro. Todo o processo em nanoescala é ainda incipiente, mas, um dia, poderá integrar a eletrônica com a biologia humana.

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Diferentes das tatuagens tradicionais na pele, feitas por estética ou como símbolos de uma comunidade, as tatuagens de ouro em células têm outras finalidades. A ideia é experimentar técnicas e conceitos da eletrônica, como a criação de circuitos, em matéria orgânica — e viva.

Por que tatuar com ouro células vivas?

Publicado na revista científica Nano Letters, o estudo é o primeiro passo para a criação de circuitos eletrônicos complexos em células. Por enquanto, explora o desenvolvimento de biossensores que não sejam tóxicos e nem invasivos para o corpo (humano ou animal), preenchendo a lacuna que há entre os tecidos vivos e os materiais eletrônicos e os sensores convencionais.


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Cientistas fazem tatuagem de ouro em células vivas (Imagem: Kam Sang Kwok e Soo Jin Choi, Gracias Lab/Universidade Johns Hopkins)

“Estamos falando em aplicar algo como uma tatuagem eletrônica em um objeto vivo, dezenas de vezes menor que a cabeça de um alfinete”, explica David Gracias, professor de química da universidade e um dos autores do estudo, em nota. “É o primeiro passo para conectar sensores e componentes eletrônicos em células vivas”, completa. Hoje, os sensores, com diferentes composições, já são uma aposta recorrente na área da saúde.

Entenda os testes práticos com as tatuagens de ouro

Embora a melhor imagem para a tecnologia seja a de uma tatuagem, o mais correto seria o de um adesivo. Isso porque o “desenho”, mesmo contendo pontos e fios, não é feito diretamente na célula com uma máquina de tatuagem adaptada, mas, sim, colado após várias etapas de desenvolvimento. É mais um decalque “definitivo”, formando uma imagem semelhante a de um QR Code ou um emaranhado de fios duorados.

Em um dos experimentos mais interessantes feitos até agora, os pesquisadores conseguiram tatuar um tipo de célula responsável por manter a integridade do tecido conjuntivo, os fibroblastos. A estrutura de ouro permaneceu fixa por 16 horas, mesmo quando as células se moviam. Além desse caso, a mesma técnica foi usada para fixar os nanofios do metal em cérebros de ratos ex vivo.

Técnica permite realização de tatuagem no cérebro de um roedor (Imagem: Kam Sang Kwok e Soo Jin Choi, Gracias Lab/Universidade Johns Hopkins)

“Mostramos que podemos anexar os nanopadrões complexos a células vivas, garantindo que a célula não morra”, destaca o cientista Gracias. “É um resultado muito importante que as células possam viver e se mover com as tatuagens, porque, muitas vezes, há uma incompatibilidade significativa entre as células vivas e os métodos que os engenheiros usam para fabricar eletrônicos”, acrescenta.

Aplicações futuras das tatuagens em células e órgãos

Agora, os pesquisadores planejam formas de fixar nanocircuitos mais complexos e que possam permanecer nas células por períodos mais longos. Em paralelo, os testes devem envolver mais tipos de células, além dos fibroblastos.

“Se imaginarmos para onde isto vai nos levar, gostaríamos de ter sensores para monitorar e controlar remotamente o estado de células individuais e o ambiente do entorno dessas células em tempo real”, explica Gracias.

“Com tecnologias para rastrear a saúde de células isoladas, talvez, pudéssemos diagnosticar e tratar doenças muito mais cedo e não esperar até que todo o órgão seja danificado”, completa sobre os possíveis impactos na saúde. Vale lmebrar que, em maior escala, as tatuagens na pele já podem ajudar a monitorar a saúde de um usuário, como a pressão arterial.

Fonte: iTechNews

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