Se as vastas fazendas do meio-oeste são o celeiro dos Estados Unidos, a Califórnia é seu departamento de produção. Mas, o maior produtor de frutas e vegetais frescos do país está com problemas, ameaçado pela escassez de mão-de-obra no campo e água, e pelo aumento das temperaturas que interferem no desempenho das lavouras.
Para enfrentar esses desafios – isso se o número crescente de startups conseguir – os campos e pomares da Califórnia, em breve, contarão com drones voadores autônomos que colhem frutas e nozes, tratores elétricos autônomos que monitoram cada linha da lavoura em busca de ervas daninhas e saúde das plantas, e abelhas polinizadoras que fazem suas casas em colmeias robóticas instaladas nas fazendas. Essas tecnologias de tom futurista não estão a décadas de distância – elas já estão implantadas no campo, agora.
“Esse é o único veículo autônomo elétrico disponível comercialmente que você pode comprar hoje”, diz Praveen Penmetsa, CEO e cofundador da Monarch, apontando para um de seus tratores MK-V, enquanto testa loops em um pomar montado para espectadores na World Ag Expo, que aconteceu em Tulare, Califórnia, no mês passado.
Sua startup, com sede em Livermore, Califórnia, que arrecadou cerca de US$ 110 milhões (R$ 575,5 milhões) e conta com o herdeiro do vinho Carlos Mondavi como cofundador, começou a vender seus tratores autônomos de US$ 89 mil (R$ 465 mil) no ano passado, equipados com sensores para monitorar a saúde das plantações.
“Seja mão de obra ou água, ou mesmo fertilizantes e pesticidas, todos são recursos muito caros. Com nosso trator, com os dados que estamos coletando, (os agricultores) podem ser mais eficientes com todos esses recursos”, disse Penmetsa à Forbes. “Em vez de um operador sentado em um trator subindo e descendo por talhões, esse mesmo operador pode gerenciar três ou quatro tratores ao mesmo tempo e concluir a operação mais rapidamente.”
A urgência em resolver desafios de longo prazo para a produção de alimentos coincide com os avanços tecnológicos habilitados para IA (inteligência artificial) – a mesma tecnologia subjacente que automatizou fábricas e impressionou milhões com sua capacidade de gerar texto e imagens fantasiosos (bem como promete fazer robotaxis e carros auto dirigíveis se tornar realidade nos próximos anos). E, embora o financiamento de risco tenha esfriado para muitas tecnologias emergentes, as tecnologias para o agro continuam sendo um ímã de dinheiro, aspirando US$ 10,6 bilhões (R$ 55,4 bilhões) de investidores em 988 negócios no ano passado, de acordo com a PitchBook.
A Califórnia, liderada por suas fazendas altamente produtivas de San Joaquin Valley, gerou no ano passado mais de US$ 51 bilhões (R$ 267 bilhões) em receita com uvas, amêndoas, pêssegos, alface, cenoura e outras culturas de alto valor agregado, ou 12% da produção agrícola total dos EUA em valor, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).
Isso está muito à frente de estados com agricultura de mesmo nível, como Iowa e Nebraska. No entanto, encontrar pessoas suficientes para trabalhar nos campos fica mais difícil ano após ano, principalmente com a queda na mão-de-obra agrícola migrante, resultante de controles de fronteira mais rígidos no país. O problema ficou claro no auge da pandemia de Covid-19 em 2020, quando as safras no ponto de colheita foram deixadas em pousio no campo porque não havia trabalhadores suficientes para colhê-las, provocando a escassez de alguns produtos nos supermercados.
“A falta de produtos nas prateleiras dos supermercados não ocorreu porque os agricultores pararam de cultivar e criar gado para fornecer uma fonte de alimento para o país”, disse a American Farm Bureau Federation, em um blog recente. “Foi porque cada etapa da cadeia de suprimentos carecia da mão de obra necessária para acompanhar a demanda.”
O problema é grave para os produtores da Califórnia, que produzem safras que exigem mais mão-de-obra do que os vastos campos de trigo e milho do Meio-Oeste. “Praticamente, todos os anos, nossos associados acham que não vão conseguir pessoas suficientes para fazer o que precisam ou gostariam de fazer”, disse Bryan Little, diretor de assuntos trabalhistas do California Farm Bureau Federation. Foi isso, também, que levou esses produtores a serem mais receptivos a tecnologias que economizam mão-de-obra, como o uso de máquinas que sacodem amendoeiras e pistache há cerca de 20 anos.
“A Califórnia se tornou o principal produtor mundial de amêndoas. Antes, você precisava de uma equipe de, tipo, 30 pessoas com varas compridas e sacos caminhando pelo pomar e derrubando as amêndoas das árvores e daí recolher o que caía no chão”, disse Little. “Agora 2 ou 3 pessoas podem fazer o trabalho de 30.”
Fonte: Forbes