sábado,23 novembro, 2024

Por que as startups correm para ter soluções robóticas ao agro

Se as vastas fazendas do meio-oeste são o celeiro dos Estados Unidos, a Califórnia é seu departamento de produção. Mas, o maior produtor de frutas e vegetais frescos do país está com problemas, ameaçado pela escassez de mão-de-obra no campo e água, e pelo aumento das temperaturas que interferem no desempenho das lavouras.

Para enfrentar esses desafios – isso se o número crescente de startups conseguir – os campos e pomares da Califórnia, em breve, contarão com drones voadores autônomos que colhem frutas e nozes, tratores elétricos autônomos que monitoram cada linha da lavoura em busca de ervas daninhas e saúde das plantas, e abelhas polinizadoras que fazem suas casas em colmeias robóticas instaladas nas fazendas. Essas tecnologias de tom futurista não estão a décadas de distância – elas já estão implantadas no campo, agora.

“Esse é o único veículo autônomo elétrico disponível comercialmente que você pode comprar hoje”, diz Praveen Penmetsa, CEO e cofundador da Monarch, apontando para um de seus tratores MK-V, enquanto testa loops em um pomar montado para espectadores na World Ag Expo, que aconteceu em Tulare, Califórnia, no mês passado.

Sua startup, com sede em Livermore, Califórnia, que arrecadou cerca de US$ 110 milhões (R$ 575,5 milhões) e conta com o herdeiro do vinho Carlos Mondavi como cofundador, começou a vender seus tratores autônomos de US$ 89 mil (R$ 465 mil) no ano passado, equipados com sensores para monitorar a saúde das plantações.

“Seja mão de obra ou água, ou mesmo fertilizantes e pesticidas, todos são recursos muito caros. Com nosso trator, com os dados que estamos coletando, (os agricultores) podem ser mais eficientes com todos esses recursos”, disse Penmetsa à Forbes. “Em vez de um operador sentado em um trator subindo e descendo por talhões, esse mesmo operador pode gerenciar três ou quatro tratores ao mesmo tempo e concluir a operação mais rapidamente.”

A urgência em resolver desafios de longo prazo para a produção de alimentos coincide com os avanços tecnológicos habilitados para IA (inteligência artificial) – a mesma tecnologia subjacente que automatizou fábricas e impressionou milhões com sua capacidade de gerar texto e imagens fantasiosos (bem como promete fazer robotaxis e carros auto dirigíveis se tornar realidade nos próximos anos). E, embora o financiamento de risco tenha esfriado para muitas tecnologias emergentes, as tecnologias para o agro continuam sendo um ímã de dinheiro, aspirando US$ 10,6 bilhões (R$ 55,4 bilhões) de investidores em 988 negócios no ano passado, de acordo com a PitchBook.

A Califórnia, liderada por suas fazendas altamente produtivas de San Joaquin Valley, gerou no ano passado mais de US$ 51 bilhões (R$ 267 bilhões) em receita com uvas, amêndoas, pêssegos, alface, cenoura e outras culturas de alto valor agregado, ou 12% da produção agrícola total dos EUA em valor, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).

Isso está muito à frente de estados com agricultura de mesmo nível, como Iowa e Nebraska. No entanto, encontrar pessoas suficientes para trabalhar nos campos fica mais difícil ano após ano, principalmente com a queda na mão-de-obra agrícola migrante, resultante de controles de fronteira mais rígidos no país. O problema ficou claro no auge da pandemia de Covid-19 em 2020, quando as safras no ponto de colheita foram deixadas em pousio no campo porque não havia trabalhadores suficientes para colhê-las, provocando a escassez de alguns produtos nos supermercados.

“A falta de produtos nas prateleiras dos supermercados não ocorreu porque os agricultores pararam de cultivar e criar gado para fornecer uma fonte de alimento para o país”, disse a American Farm Bureau Federation, em um blog recente. “Foi porque cada etapa da cadeia de suprimentos carecia da mão de obra necessária para acompanhar a demanda.”

O problema é grave para os produtores da Califórnia, que produzem safras que exigem mais mão-de-obra do que os vastos campos de trigo e milho do Meio-Oeste. “Praticamente, todos os anos, nossos associados acham que não vão conseguir pessoas suficientes para fazer o que precisam ou gostariam de fazer”, disse Bryan Little, diretor de assuntos trabalhistas do California Farm Bureau Federation. Foi isso, também, que levou esses produtores a serem mais receptivos a tecnologias que economizam mão-de-obra, como o uso de máquinas que sacodem amendoeiras e pistache há cerca de 20 anos.

“A Califórnia se tornou o principal produtor mundial de amêndoas. Antes, você precisava de uma equipe de, tipo, 30 pessoas com varas compridas e sacos caminhando pelo pomar e derrubando as amêndoas das árvores e daí recolher o que caía no chão”, disse Little. “Agora 2 ou 3 pessoas podem fazer o trabalho de 30.”

O trator da Monarch, que trabalha nos vinhedos de Mondavi desde 2020, custa cerca de duas vezes mais que um trator a diesel de tamanho semelhante. A Penmetsa diz que a economia de combustível e mão de obra significa que ele se paga em cerca de dois anos – e na Califórnia, ele ainda se qualifica para incentivos a equipamentos agrícolas não poluentes de até 80% do seu valor. Suas câmeras e software permitem irrigação precisa e uso de fertilizantes e pesticidas, resultando em mais economia de custos para os produtores, disse ele.

Apoiada por US$ 110 milhões (R$ 575,5 milhões) em financiamento da fabricante de equipamentos agrícolas CNH Industrial e VCs (venture capital), incluindo Trimble Ventures, At One Ventures, Tri-Valley Ventures e Western Technology Investment, a empresa também está se movendo rapidamente para colocá-los em uso generalizado no campo. Ela licenciou a tecnologia para a CNH e tem um acordo com a Foxconn para aumentar rapidamente a produção de MK-Vs em sua fábrica em Lordstown, no estado de Ohio.

Enquanto a Monarch e outros fabricantes de tratores robóticos, incluindo o peso-pesado da indústria John Deere, estão focados na manutenção e monitoramento da colheita, a Tevel Aerobotics Technologies está usando tecnologia autônoma de colheita. A startup israelense, que recentemente abriu operações nos EUA no vale de San Joaquin, oferece pequenos robôs autônomos e voadores equipados com visão de câmera e algoritmos para identificar frutas maduras, colhê-las com um braço de alta sucção e depositá-las suavemente em uma esteira.

Em uma demonstração na World Ag Expo, o sistema “Alpha-Bot” da empresa de oito robôs voadores autônomos, amarrados a um transportador automatizado, colheu e depositou uma peça de fruta (incluindo maçãs, pêssegos, ameixas, damascos e nectarinas) a cada 2,5 segundos. A velocidade não é notável, mas o sistema foi projetado para ser preciso e funcionar ininterruptamente, na luz ou na escuridão, algo que os humanos não podem fazer.

“Especialmente na Califórnia, com as leis trabalhistas, você não pode fazer com que os catadores trabalhem mais de oito horas por dia”, disse Ittai Marom, gerente geral das operações da Tevel nos Estados Unidos, enquanto observava os robôs colhendo maçãs presas com ímãs a árvores falsas sob uma tenda montada na World Ag Expo. “Trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana, é uma virada de jogo para toda a cadeia.”

A primeira unidade entrou em operação no ano passado na HMC Farms, uma produtora de frutas em grande escala, em Kingsburg, Califórnia. As colheitadeiras voadoras da Tevel também serão utilizadas em pomares localizados em Washington e também na Itália. O custo da unidade, que ainda está sendo modificada, será “inferior a US$ 200 mil (R$ 1 milhão)”, disse Marom.

Ela também não se destina a substituir o trabalho humano, mas “preenche uma lacuna quando um produtor não tem trabalhadores suficientes em um determinado dia ou quando dois lotes diferentes estão maduros para colheita e não há pessoas suficientes trabalhando à noite ou fazendo horas extras,” disse ele.

Mas o trabalho humano não é a única escassez para fazendeiros. A diminuição da população de abelhas, essencial para a polinização, está se tornando uma crise ainda mais séria, especialmente para as fazendas de frutas e nozes da Califórnia. O problema do distúrbio do colapso da colônia, onde as abelhas operárias abandonam sua colméia e rainha, está ligado a danos causados ​​por pesticidas, perda de habitat, ameaças de outras espécies e má nutrição, de acordo com a EPA (Agência de Proteção Ambiental) dos EUA.

“Estamos perdendo as abelhas do planeta, cerca de 35% das colônias de abelhas todos os anos”, disse Saar Safra, CEO e cofundador da Beewise, que levantou US$ 120 milhões (R$ 628 milhões) para construir colmeias robóticas que cultivam abelhas em um ambiente seguro e controlado. “Considerando o fato de que as abelhas polinizam 75% de todas as frutas, vegetais, sementes e nozes do planeta, perder 35% ao ano nos coloca em apuros.”

Sua startup, com operações divididas entre Oakland e Oshrat, em Israel, implantou até agora 1.000 de suas colmeias robóticas, alimentadas por painéis solares integrados. As caixas metálicas, contendo dez colônias de abelhas (que podem ter até 100.000 abelhas em cada uma), são equipadas com câmeras e software habilitado para IA para monitorar suas necessidades e saúde, com robótica de precisão para fornecer comida e água e eliminar pragas que ameaçam o abelhas.

“Basicamente, o robô faz 97% do que um apicultor faria no campo para as abelhas – o robô faz [isso] automaticamente”, disse Safra. “Nós os colocamos no campo e as abelhas fazem o que querem. Polinizam, coletam pólen, produzem mel. E quando voltam para casa, garantimos que não entrem em colapso. O ambiente não está muito quente, não está muito frio. É um hotel cinco estrelas para abelhas.”

Na verdade, a empresa estima que reduziu a taxa anual de colapso das colônias para apenas 8%, da média de 35%.
As colmeias de robôs da Beewise são alugadas para produtores durante a temporada de polinização para culturas específicas e alternadas para outras fazendas, à medida que os cultivos progridem. Safra não fala sobre valores, mas planeja expandir a produção para 10.000 colméias anualmente, de 1.000 por ano atualmente, e vê potencial para criar um “negócio multibilionário”.

“As abelhas são estratégicas para nós. Se continuarmos perdendo abelhas a uma taxa de 35%, em 20 anos compraremos um tomate por US$ 100 e o comeremos no jantar de sexta-feira com todos comemorando o feito. É para lá que estamos indo.”

Por Alan Ohnsman

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