Nós, mulheres, somos 52,2% da população brasileira. Apesar disso, quando o assunto é a participação feminina em cargos de liderança, estamos bem longe de sermos a maioria, com com menos de 40% dos postos. E, segundo o ranking global International Business Report, da Grant Thornton, levantamento feito com 5.000 lideranças empresariais em 29 países, de companhias de médio porte, o cenário mundial ainda fica abaixo do registrado por aqui: apenas 32% de mulheres na liderança.
Após um salto de 5% em conquista de cargos no alto escalão em 2021, o índice foi praticamente o mesmo em 2022 (perdemos 1% dos postos executivos nas empresas brasileiras de médio porte), caindo para 38% em 2022. Mas vale lembrar que esse número é 13 pontos percentuais acima dos 25% registrados em 2019.
É importante ressaltar que o aumento da participação das mulheres em postos de liderança no Brasil, acentuado em 2021, vem se mantendo de forma voluntária, sem vínculo com obrigações legais, como aconteceu em alguns países. E há um grande terreno ainda a ser conquistado.
Pressionadas a adotar políticas mais alinhadas ao ESG (sigla em inglês para os princípios ambiental, social e de governança), as empresas têm buscado criar agendas efetivas de diversidade, equidade e inclusão, tanto no quadro geral quanto na liderança, o que é muito positivo. É preciso enxergar este “ativo” como um diferencial que valoriza os negócios e não agir somente quando são impostos por leis ou regulamentos, pois a população e os consumidores são diversos. E eles querem, cada vez mais, se sentir representados.
A meta de todas as empresas deveria ser aumentar a contratação não só de mulheres, mas de todas as diversidades em posições de liderança, em um compromisso pelos próximos três anos, ao menos. Nas últimas décadas criamos a coragem de quebrar muitos paradigmas que nos impuseram e precisamos de ações imediatas para garantir um futuro de equidade. De forma prioritária devem estar ações como a equiparação de salários, grupos de afinidade para melhorar o processo de escuta da empresa com relação ao que deve ser feito para aumentar a diversidade e programas de mentoria, entre outros.
Precisamos estar atentos aos vieses culturais e históricos que associam as mulheres a papéis mais administrativos e de nível médio ou até mesmo o preconceito de assumir que elas tenham indisponibilidade de desempenhar cargos mais altos por causa da maternidade. Além disso, também por questões históricas, as mulheres muitas vezes se sentem menos qualificadas e competitivas, com menor nível de confiança. E isso impacta em suas carreiras. É necessário e urgente redefinir a trajetória das mulheres rumo à liderança, capacitando-as profissional e pessoalmente para avançar e flexibilizando horários para que a vida familiar não represente um obstáculo à carreira.
Mulheres negras na liderança
A consolidação de mulheres negras em cargos de liderança no mercado corporativo ainda é paradoxal: ao mesmo tempo em que executivas no Brasil e no mundo são inspiração para que a presença feminina negra aumente dentro das empresas, elas carregam em si o peso de mostrar que ainda temos muito o que caminhar para garantir a equidade de gênero e de raça — principalmente na perspectiva brasileira, já que 25% da população é composta por negras, segundo o IBGE. Apesar disso, uma pesquisa feita pela consultoria Gestão Kairós mostra que, entre 900 líderes entrevistados, apenas 25% são mulheres, sendo que entre elas, apenas 3% são negras.
Um dos caminhos para que a presença feminina seja alavancada nas empresas é estimular o reconhecimento de meninas e mulheres negras, a respeito da potência que elas representam. As empresas, por sua vez, também devem estar de olho na perspectiva racial e de gênero que povoa o viés inconsciente de toda a sociedade.
Na área da tecnologia, várias empresas estão apoiando a bandeira do aumento da participação feminina. O Magazine Luiza, por exemplo, abriu recentemente inscrições para o Luiza , programa de aceleração da carreira de mulheres na tecnologia, com a oferta de 100 bolsas de estudo em Python, tecnologia utilizada em data science, machine learning, desenvolvimento de web e de aplicativos. Parte das vagas é destinada ao público interno da empresa, sendo 50% das bolsas para mulheres negras.
Já a Cisco oferece cursos de tecnologia em redes gratuitos e on-line para mulheres cis e trans de todo Brasil. A iniciativa, intitulada Woman Rock It, foi lançada em apoio ao Internacional Girls in ICT Day, um movimento global que visa motivar mulheres a se dedicarem às áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
Princípios de empoderamento das mulheres
Em um estímulo a esse processo, a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres e o Pacto Global elaboraram os Princípios de Empoderamento das Mulheres, que visam orientar empresas a implementar práticas e ações que concretizem a igualdade de gênero.
Entre as metas estão estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível; garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres que trabalham na empresa; promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres; apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres por meio das cadeias de suprimentos e marketing; promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social; além de medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
Bora colocar tudo isso em prática?