sexta-feira,22 novembro, 2024

Planeta está mais salgado – e a culpa é nossa, diz estudo

Se você acha que o preço de tudo anda mais salgado, saiba que não para por aí. Nosso planeta está mais salgado, graças às atividades humanas. É o que alerta uma pesquisa, divulgada na revista Nature Reviews Earth & Environment, na terça-feira (31).

Para quem tem pressa:

  • Atividades humanas têm causado um aumento nos níveis de salinidade do planeta, afetando desde o solo até o ar;
  • Isso tem gerado sérios problemas no abastecimento de água doce em diversas regiões do mundo;
  • Um estudo recente alerta que a salinização é um problema muitas vezes negligenciado, mas que pode representar uma ameaça existencial para os suprimentos de água doce;
  • Nos últimos 50 anos, os íons de sal aumentaram em córregos e rios devido ao aumento da produção e uso de sais. Cerca de 2,5 bilhões de acres de solo tornaram-se mais salgados globalmente;
  • Atividades como agricultura, mineração e uso de sal em estradas estão contribuindo para esse aumento de salinidade, comprometendo um recurso vital para as gerações futuras.

O aumento dos níveis de salinidade afeta desde o solo até o ar. Além disso, causou sérios problemas no abastecimento de água doce em diversas regiões ao redor do mundo, conforme publicado pelo jornal The Washington Post.

Nos EUA, por exemplo, moradores em Montgomery, cidade no Alabama, ficaram intrigados com a cor da água que saía das torneiras. Já em Flint (Michigan), os cidadãos enfrentaram uma crise de água contaminada por chumbo.

Planeta mais salgado

Visão panorâmica da cidade de São Paulo durante pôr do sol
(Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Apesar de não representar uma ameaça tão evidente quanto um evento catastrófico, os especialistas ouvidos pelo jornal alertam que o problema da salinização é um “gigante adormecido” muitas vezes negligenciado. Segundo Sujay Kaushal, autor principal do estudo, pode ser o “problema mais chato, mas contemporâneo, que temos”.

O estudo revelou que, nos últimos 50 anos, os íons de sal têm aumentado em córregos e rios devido ao aumento da produção e uso de sais. Globalmente, cerca de 2,5 bilhões de acres de solo – área equivalente ao tamanho dos Estados Unidos – tornaram-se mais salgados. Além disso, lagos salgados estão secando e liberando poeira salina no ar.

O aumento nas concentrações de sal pode tornar-se uma “ameaça existencial” para nossos suprimentos de água doce, alertam os autores do estudo.

As atividades humanas têm alterado o ciclo natural do sal nas últimas décadas. Agricultura, mineração, construção, tratamento de água, estradas e outras atividades industriais estão aumentando a quantidade de sal presente em solos, sistemas de água doce e até mesmo no ar.

Fontes como a irrigação de lagos salgados, comum em regiões como o oeste dos Estados Unidos, contribuem para o problema. A evaporação da água deixa o sal para trás, que pode penetrar no solo e prejudicar as plantas.

Além disso, o sal usado nas estradas para o degelo durante o inverno representa uma grande fonte de contaminação. De 2013 a 2017, o sal de estrada correspondeu a 44% do consumo total de sal nos EUA.

Outros impactos

Visão aérea da Amazônia
(Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil)

A contaminação por sal não apenas afeta os recursos hídricos, mas também pode prejudicar as tubulações utilizadas para fornecer água potável.

Quando grandes quantidades de sal provenientes das estradas entram em tubulações mal protegidas, podem empurrar metais como chumbo ou cobre, elementos prejudiciais tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana.

“A magnitude com a qual alteramos um dos ciclos naturais da Terra é alarmante”, destaca o ecologista Bill Hintz, que não esteve envolvido na pesquisa. Apenas cerca de 3% da água da Terra é doce. E o aumento da salinidade está comprometendo esse recurso vital.

A pesquisa reforça a necessidade de políticas ambientais proativas para lidar com essa ameaça crescente à água doce. A preservação desse recurso é essencial para assegurar a qualidade de vida das gerações futuras.

Texto: Pedro Borges Spadoni

Redação
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