Após movimentar mais de US$ 17 bilhões, mercado de ‘tokens não fungíveis’, peças virtuais únicas autenticadas digitalmente, entra em queda expressiva
Uma equipe de pesquisadores tenta explicar por que, afinal, uma espécie de macacos expressivos — estampados na foto que abre este texto — vem entrando, aos poucos, em extinção. Sim, acredite: a recente (e, até pouco tempo, badalada e exclusivíssima) coleção de arte batizada de “Bored Ape Yacht Club”, com figuras digitais de macaquinhos comercializadas por preços astronômicos, atingiu, nos últimos meses, um recorde negativo em seus números, com os valores das peças girando em torno de US$ 53 mil — antes, os preços chegavam até mais de US$ 1,29 milhão, quantia desembolsada pelo cantor canadense Justin Bieber para se apropriar de um dos primatas.
Antes alardeados como uma revolução na criptografia e na arte digital, os NFTs — ou “tokens não fungíveis”, peças virtuais únicas autenticadas digitalmente — se tornaram, em grande parte, artigos inúteis. É esse o diagnóstico do estudo intitulado “Dead NFTs: the evolving landscape of the NFT market” (“Dead NFTs: the evolving landscape of the NFT market”, em tradução livre), elaborado pela DappGambl, comunidade de especialistas em finanças e tecnologia blockchain.
Após a análise de mais de 73 mil coleções de NFT, os pesquisadores descobriram que cerca de 70 mil têm valor de mercado zero Ether (ETH), a segunda criptomoeda mais popular nesse mercado virtual. Em termos práticos, isso significa que 95% dos NFTs não renderiam um centavo hoje. A queda é muito significativa, em se tratando de ativos que movimentaram mais de US$ 17 bilhões em 2021. A estimativa é de que mais ou menos 23 milhões de investidores possuem esses “tokens não fungíveis” sem quaisquer utilidades ou valores práticos.
Quase nenhuma das obras de arte em NFT é avaliada em preços exorbitantes hoje. Menos de 1% das peças está cotada a mais de US$ 6 mil, e a maior parte das coleções anteriormente mais caras custa entre US$ 5 e US$ 100. A pesquisa aponta que quase um quinto das coleções antes no topo desse mercado possui agora preço mínimo zero. Mesmo entre os NFTs mais caros, esses preços podem ser definidos “sem qualquer influência na demanda real e tangível”, refletindo o desejo dos vendedores e potencialmente distorcendo a visão dos investidores sobre o escasso valor inerente de um NFT.
Os estudiosos ressaltam que, embora seja difícil haver outro boom no mercado de NFTs aos moldes do que foi visto entre 2021 e 2022 , os ativos digitais podem evoluir e sobreviver à destruição. A saída dos criadores e investidores nesse mercado é incutir uma função específica a tais artigos, transformando-os em passe para acesso a eventos privados e restritos ou itens virtuais negociados em videogames.
Texto: Agência O Globo