Um estudo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o WWF-Brasil e outras 20 instituições parceiras, realizou uma espécie de “censo” das onças-pintadas no bioma Amazônia.
A pesquisa foi desenvolvida em 22 áreas protegidas do Brasil, Equador, Colômbia e Peru, com classificações distintas, sendo Parques Nacionais, Reservas Extrativistas, Terras Indígenas, entre outras, cobrindo habitats de terra firme e florestas alagadas de várzea e igapó (tipo de floresta alagada que ocorre na Amazônia).
Com o auxílio de armadilhas fotográficas, câmeras instaladas na floresta que fotografam a vida selvagem por meio de sensores, os pesquisadores puderam registrar, ao todo, 6.389 onças-pintadas. Cada animal é identificado individualmente por meio do padrão de suas pintas, único para cada felino. Segundo o diretor Técnico-Científico do Mamirauá, Emiliano Ramalho, um dos responsáveis pela coleta dos dados, as armadilhas fotográficas são equipamentos que não emitem som e, às vezes, nem um flash, o que permite o monitoramento de espécies de difícil detecção.
“Esse tipo de tecnologia é fundamental porque permite um monitoramento passivo das onças e de outros animais. São equipamentos que ficam muito tempo no campo e que são ativados toda vez que o animal passa na frente desses dispositivos”, disse o diretor.
De acordo com o levantamento, a densidade média de onças-pintadas foi de 3,08 indivíduos a cada 100 km². No entanto, essa estimativa varia entre cada região, segundo a análise feita com um modelo de captura-recaptura especial.
“O que mais influencia na densidade de onças dos locais é a população de presas. E, quando a gente entra em áreas mais fragmentadas ou mais degradada, em geral, você tem uma menor população de presas e as onças têm que andar mais para conseguir seu alimento”, explicou Emiliano Ramalho.
Os dados também apontaram que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá registrou a maior concentração de onças entre as áreas analisadas. Foram 9,97 animais a cada 100km² , o que corresponde a quase 10 onças dentro de uma área de 100km². Já a Reserva Biológica de Cuieiras (AM) registrou a menor densidade, com apenas 0,6 indivíduos por 100km².
“A gente já tinha uma ideia relativamente bem estabelecida de que a Reserva Mamirauá tinha uma densidade de onça muito maior do que o esperado em outros lugares, mas ver esse número marcado na tabela, principalmente comparando com outros lugares que o estudo levantou, também foi uma situação reveladora”, exaltou Jorge Menezes, líder do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia.
A equipe coordenada por Menezes atua há mais de 20 anos com pesquisas relacionadas à onça-pintada, sendo o projeto mais antigo dedicado à pesquisa com essa espécie na região amazônica.
Publicação internacional
Recentemente, o estudo sobre a densidade das onças-pintadas no bioma Amazônia foi tema de um artigo publicado na Biological Conservation, revista científica internacional que publica estudos sobre biologia da conservação.
O texto é de autoria de Guilherme Alvarenga, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá, em parceria com o WWF-Brasil e mais de 20 organizações parceiras. Na pesquisa, foram utilizados dados compreendidos entre os anos de 2005 e 2020.
O monitoramento das onças-pintadas na Amazônia continua sendo realizado. Essas iniciativas têm papel fundamental para entender a distribuição, o tamanho da população e o comportamento das onças-pintadas no bioma, permitindo assim um melhor direcionamento de políticas públicas para conservação da espécie.