Para Nick Clegg, legislação específica sobre direitos autorais como a que é debatida no Reino Unido seria prejudicial para uma tecnologia que já é considerada indústria

Um ex-executivo da Meta, dona de serviços como WhatsApp e Instagram, discursou contra o respeito a direitos autorais e dificuldades no uso de materiais por empresas de inteligência artificial (IA). O tema está especialmente em alta no Reino Unido, que atualmente discute alterações em leis da região.

De acordo com Nick Clegg, que foi parlamentar britânico e atuou também como presidente de assuntos globais da Meta, uma legislação mais rígida que protegeria artistas “basicamente mataria a indústria de IA no país do dia para a noite“. Ele ainda disse até concordar com artistas que pedem o direito de autorizar ou não o uso de suas obras nos treinamentos, mas considera isso inviável.

“Creio que a comunidade criativa queira dar um passo além. Muitas vozes dizem ‘Você só pode treinar com o meu conteúdo se perguntar primeiro’. E eu devo dizer que isso me parece um pouco implausível, porque esses sistemas treinam em vastas quantidades de dados“, afirmou o executivo. Ele ainda disse “não saber como” isso seria operacional, como perguntar a todos os envolvidos antes do treinamento começar.

Atualmente, Clegg está promovendo um livro da própria autoria chamado “How to Save the Internet” (Como Salvar a Internet, em tradução livre). Além disso, ele é um defensores ao veto de uma lei em debate no Reino Unido que exige maior transparência de IAs sobre que conteúdos foram usados nos modelos de linguagem. Artistas como Elton John e Paul McCartney estão do lado oposto, pedindo que os parlamentares votem a favor da proposta e ajudem a protegem os conteúdos. 

A polêmica entre artistas e o treinamento de IAs

A acusação de que empresas de IA coletam conteúdos da internet sem qualquer autorização ou compensação para uso comercial — em chatbots que possuem versões pagas, por exemplo — é um dos debates mais controversos envolvendo o tema. De um lado, as companhias dizem que os atuais modelos de linguagem não teriam a mesma qualidade atual se fossem alimentados apenas com materiais de domínio público.

“Acho que esperar que a indústria, tecnologicamente falando ou não, pergunte preventivamente antes mesmo de começar o treinamento… Eu simplesmente não vejo isso. E receio que isso simplesmente colida com a física da própria tecnologia”, argumenta Clegg. Executivos como Elon Musk e Jack Dorsey, atual e ex-dono do X (antigo Twitter), são ainda mais radicais e pedem o fim de leis de propriedade intelectual como um todo.

Uma tela de computador com o ChatGPT aberto.
O ChatGPT é um dos serviços treinados com materiais protegidos. (Imagem: Freepik.com/frimufilms)

Do outro lado, há ao menos o pedido por transparência, para que pagamentos possam ser solicitados caso materiais protegidos por direitos autorais tenham sido usados nos processos. A própria Meta, durante o período em que ele esteve na empresa, baixou ilegalmente uma altíssima quantidade de livros contidos em repositórios piratas para uso nas IAs — sabendo que isso seria considerado irregular, caso fosse descoberto.

Além disso, escritores e jornalistas já iniciaram processos contra empresas como a Nvidia e a OpenAI, dona do ChatGPT, alegando o uso de materiais sem autorização.

No caso do Reino Unido, as empresas de IA conseguiram ganhar o primeiro round. A primeira tentativa de emenda constitucional na região foi derrubada por parlamentares, sob o argumento de que a indústria local precisa de ambos os setores, o cultural e o de IA, para prosperar.

Por: Nilton Cesar Monastier Kleina