Mas, para que isso aconteça, muito ainda precisa ser feito

Nos últimos meses, ganhou força a narrativa de que o Brasil seria o país mais bem colocado para se tornar o líder global na produção de hidrogênio verde. Peça-chave da transição energética, especialmente para alimentar setores que não podem ser eletrificados, o hidrogênio verde deve ter sua demanda global ampliada em 163 vezes até o fim desta década, segundo o Boston Consulting Group.

Em números, a consultoria Roland Berger estima que o Brasil pode faturar R$ 150 bilhões anualmente até 2050, sendo dois terços desse montante vindos de exportação. E o principal mercado de olho nessa promessa é o europeu: em julho, a Comissão Europeia anunciou investimentos de 2 bilhões de euros em parcerias para produção do componente no Brasil.

Em tese, um novo relatório financiado pelo governo alemão e realizado pela consultoria Fraunhofer ISE reforça essa visão, já que coloca o Brasil – mais especificamente, o Rio Grande do Norte – como a região de maior potencial para fornecer hidrogênio verde líquido para a Europa em 2030, à frente de polos na Colômbia e na Austrália. Mas o estudo deixa claro que ainda falta muito para o país estar pronto. A seu favor, o RN teria abundância de parques eólicos, custo de capital mais baixo, um bom aeroporto internacional e distância relativamente pequena da Europa (na comparação com a Ásia).

Mas, para permitir a exportação de hidrogênio líquido, o porto de Natal teria que ser ampliado e reformulado, e sua localização atual não favorece essa expansão – o que aponta para a necessidade de construção de outras instalações. A regulação do mercado interno também é um ponto crítico. E, no longo prazo, será necessário prestar atenção no custo do capital, que está atrelado à situação política do país.

Ranking do custo de produção de hidrogênio verde líquido, incluindo transporte

POSIÇÃOPAÍSCUSTO (euros/MWh)

1ºBrasil171 / 207

2ºColômbia176 / 318

3ºAustrália217 / 232

4ºÁfrica do Sul231 / 266

5ºNamíbia237 / 271

6ºÍndia238 / 313

7ºMéxico242 / 285

A força do mercado

– US$ 100 bilhões oriundos da iniciativa privada já foram investidos em hidrogênio verde em todo o mundo; o poder público foi responsável por aportes na ordem de US$ 70 bilhões

– 3,1 bilhões de euros é o investimento necessário para que o Brasil produza energia eólica e fotovoltaica destinada ao hidrogênio verde

– 10 milhões de toneladas é quanto a Europa prevê importar de hidrogênio verde até 2030

– 20 dias é o tempo médio de transporte do hidrogênio verde entre o Nordeste brasileiro e a Europa por navio – são 14 dias a menos do que a Austrália

– 60 vezes é a estimativa do aumento de geração de energia renovável no Brasil até 2050, em relação à capacidade atual (de 6mn TJ)

– 163 vezes é o quanto deve aumentar a demanda por hidrogênio verde no mundo em 2030 em relação a 2020

Fontes: Power-to-X Country Analyses 2023, Fraunhofer Institute; Brazil Climate Report 2022, Boston Consulting Group

Texto: Andressa Rovani e Juliana Pio, da Época Negócios