Diversidade é uma palavra-chave, dentre tantas, para explicar e entender o
nosso tempo. As experiências de inúmeras empresas, e pesquisas, estudos e
levantamentos já mostraram que equipes com maior diversidade entre seus
membros — de gênero, etnia, idade, entre outras — gera mais ideias,
ampliando as possibilidades de inovação e eficiência. Talvez se possa fazer
uma adaptação do conceito de diversidade para estendê-lo a parcerias entre
empresas. Como funcionaria algo assim, por exemplo, entre hospitais e
empresas de fora do setor de saúde?
A princípio, há vantagens mais facilmente reconhecíveis. Por exemplo, há a
maior eficiência em termos de custos. Desenvolver projetos pode ser caro
demais em alguns momentos, e buscar parcerias que permitam repartir esses
custos pode fazer com que uma iniciativa deslanche.
Esse aspecto é particularmente relevante no contexto da saúde pública. O
governo já dispõe de um órgão, o Cati (Comitê da Área de Tecnologia da
Informação, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), e de
legislação — a Lei de Informática (nº 8.248) — para incentivar essa
aproximação dos setores público e privado na área da saúde. A lei, que é de
1991, foi criada num momento em que o Brasil se encontrava muito atrasado
na incorporação da tecnologia digital, que ganhava velocidade em outros
países.
Hoje, mais de 30 anos depois de criada, ela tem um caráter talvez até mais
importante, uma vez que a saúde digital é um caminho sem volta. Com
inteligência artificial auxiliando em diagnósticos, procedimentos à distância,
robôs em salas de cirurgia e tantas outras aplicações, os incentivos fiscais
teriam potencial para impulsionar parcerias entre hospitais e empresas de
informática.
E não seriam só os hospitais a se beneficiarem desse trabalho conjunto, claro.
Empresas brasileiras da área de tecnologia que trabalhem com hospitais e
empresas de saúde se capacitam para lidar com um setor em altíssima
demanda no mundo pós-pandemia. Equipamentos, aplicativos, processos últimos três anos; quem oferecer um produto ou serviço que traga reais
ganhos de eficiência estará muito à frente de competidores.
Uma experiência recente, esta no setor privado, foi a parceria que o Hospital
Israelita Albert Einstein fez com a Epson, fabricante de impressoras e
projetores, para desenvolver um projeto que envolve realidade aumentada.
Ambos trabalharam no desenvolvimento de uma experiência para facilitar a
realização de exames em crianças. A experiência já entregou resultados
consideráveis: em cerca de seis meses, foi possível reduzir em cerca de 40% o
uso de sedativos para que as crianças fizessem tomografia computadorizada.
A questão é que vivemos um tempo em que procedimentos médicos e
administrativos, na saúde como em basicamente todo e qualquer outro setor,
vão embutir cada vez mais conteúdos tecnológicos. Dispositivos vestíveis,
smartphones, mesmo tablets e notebooks vão auxiliar o dia a dia de pacientes
e profissionais de saúde de formas irreversíveis. Aproximar hospitais e
empresas especializadas em soluções de tecnologia já é inevitável, e o ideal é
que se torne mesmo natural. Quanto mais próximos forem, mais facilmente
cada uma saberá expor suas necessidades e ideias.
Há ainda um caminho a ser percorrido em termos de regras e controles. São
ajustes finos, que com o tempo certamente virão — a realidade mesma do
progresso nos serviços de saúde demandará isso. Mas que o trabalho de
aproximação entre hospitais e empresas de tecnologia (principalmente, mas
não só) pode ter início desde já, isso é certo. Chegará o momento em que a
demanda por soluções que empreguem dispositivos digitais, aplicativos e
recursos desse tipo será incontornável; para hospitais privados, estabelecer
parcerias com quem tiver essa expertise será uma enorme vantagem
competitiva — e para os públicos, pode representar uma economia de
recursos valiosa.
Fonte: Veja