Nova configuração reforça missão original e tenta equilibrar captação de recursos com supervisão independente

OpenAI decidiu manter sob controle da entidade sem fins lucrativos a gestão estratégica da organização, enquanto converteu sua subsidiária operacional em uma Public Benefit Corporation (PBC). A mudança, anunciada na última semana, representa um recuo em relação à possível transformação total da empresa em uma estrutura tradicional com fins lucrativos.

A decisão ocorre após meses de discussões internas, questionamentos públicos e pressões de investidores e críticos. A organização, fundada em 2015 com a missão de garantir que a inteligência artificial avançada beneficie a sociedade, criou em 2019 uma subsidiária com fins limitados de lucro, chamada OpenAI LP. Essa estrutura permitia atrair investimentos, mas ainda subordinava as decisões à entidade controladora sem fins lucrativos.

Agora, a OpenAI LP será convertida em uma PBC, categoria jurídica nos Estados Unidos que permite que empresas tenham responsabilidade fiduciária não apenas com acionistas, mas também com uma missão pública. Segundo comunicado oficial, a mudança visa “reforçar nosso compromisso com a missão e ao mesmo tempo possibilitar parcerias de longo prazo”.

Com isso, o conselho da OpenAI sem fins lucrativos mantém autoridade sobre a nova estrutura. A PBC continuará executando as operações, desenvolvendo produtos e fechando acordos com empresas, como a Microsoft, principal parceira da companhia. A gigante da tecnologia investiu US$ 13 bilhões na empresa de inteligência artificial e fornece a infraestrutura em nuvem usada por modelos como o GPT-4.

A reorganização foi acompanhada por uma atualização no estatuto da organização. Entre os ajustes, está a criação de um comitê independente responsável por supervisionar o impacto das tecnologias desenvolvidas. O objetivo, segundo a empresa, é garantir que os princípios éticos da fundação continuem sendo observados, mesmo com o aumento da escala comercial.

A decisão acontece em um momento de maior escrutínio sobre a atuação da empresa. Críticos apontaram que a estrutura anterior criava conflitos entre a missão social e os interesses de retorno financeiro de investidores. Elon Musk, um dos fundadores da OpenAI, chegou a processar a organização, alegando que ela teria “se desviado de sua missão original” ao se aproximar de grandes corporações.

Sam AltmanCEO da OpenAI, também foi tema de controvérsias recentes após sua demissão e posterior retorno ao cargo em novembro de 2023. O episódio revelou disputas internas relacionadas à governança e à direção estratégica. Em resposta, a entidade reformulou seu conselho, incluindo novos membros com experiência em políticas públicas, regulação e tecnologia.

Segundo comunicado divulgado pela empresa, “a PBC foi criada para permitir que a OpenAI continue alinhada à sua missão, mantendo a flexibilidade necessária para escalar sua infraestrutura e expandir o acesso aos seus sistemas”. A nota destaca ainda que “a estrutura jurídica renovada busca garantir que decisões de longo prazo sejam compatíveis com os valores centrais da organização”.

Para investidores, a principal dúvida gira em torno do retorno financeiro permitido pela nova configuração. Embora a OpenAI mantenha o conceito de “lucro limitado”, mecanismo que limita o ganho dos investidores a um múltiplo do valor aportado, a escala comercial da empresa já é significativa. Ferramentas como o ChatGPT e APIs empresariais são amplamente utilizadas em diversos setores.

A empresa afirma que manterá políticas de transparência e governança alinhadas às melhores práticas. “Vamos continuar sendo guiados por evidências, análise crítica e diálogo construtivo com especialistas e sociedade civil”, afirma a direção em outro trecho do comunicado.

Por: Tiago Souza