O Brasil se destaca como um dos maiores expoentes globais em Open Innovation, enquanto se prepara para o futuro impulsionado por IA.
No Brasil, a inovação aberta, ou Open Innovation, encontrou um terreno fértil. Segundo Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, o Brasil se tornou um dos maiores expoentes globais dessa prática, embora, paradoxalmente, o país ainda não se destaque globalmente em inovação de forma geral.
“Atualmente, talvez tenhamos o maior número de empresas formalmente estruturadas para a prática de inovação aberta. No Brasil, porém, em nossa plataforma, temos cerca de 10 mil corporações, desde empresas médias até grandes empresas”, explica.
Ele destaca que o Open Innovation passou a ser vista como a principal ferramenta de inovação nas empresas brasileiras, com o número de corporações que adotam este modelo crescendo de forma significativa, principalmente entre as médias e grandes empresas.
De acordo com Bruno Rondani, o Brasil é o único país que mede de forma tão detalhada a evolução dessa prática, com cerca de 1 mil empresas dedicadas a fomentar a inovação aberta e mais de 3 mil executivos envolvidos diretamente nesse processo.
Investimentos e crescimento acelerado
Nos últimos anos, os investimentos das corporações no ecossistema de startups demonstraram um crescimento exponencial. Há 10 anos, de acordo com o executivo, os investimentos eram inferiores a R$ 100 milhões. Em 2023, esse número ultrapassou os R$ 10 bilhões, e a expectativa é que chegue rapidamente a R$ 100 bilhões. Rondani comenta que a relação entre corporações e startups tem gerado resultados cada vez mais impressionantes, com muitas dessas startups atingindo o status de unicórnios e sendo adquiridas por grandes empresas, que buscam internalizar suas tecnologias e competências.
“Além disso, estamos promovendo uma reaproximação com universidades, agências governamentais e parques tecnológicos, que agora se redesenham para estimular o relacionamento entre corporações e startups. Esse movimento está gerando impactos muito positivos no ecossistema de inovação brasileiro”, destaca.
Impacto das novas tecnologias
Rondani também ressalta o impacto das novas tecnologias, especialmente a Inteligência Artificial (IA), no campo da inovação aberta. Ele aponta que, enquanto o foco de muitos ainda está na coleta de dados, a verdadeira revolução está em como a IA permite processar esses dados e gerar insights rápidos e precisos, acelerando o desenvolvimento de novas soluções.
“A IA é, sem dúvida, o maior avanço que vimos nos últimos tempos. Ela não só possibilita um processamento muito mais rápido de grandes volumes de dados, pois também é uma ferramenta essencial para melhorar a competitividade das empresas. No entanto, isso traz uma grande dúvida: qual é a velocidade necessária para acompanhar essas mudanças? Como as empresas podem se adaptar a essa transformação digital sem perder o ritmo?”, questiona.
Rondani observa que o mercado já está sentindo essa pressão. Enquanto algumas empresas dizem “Se eu não investir nisso agora, estou fora do jogo”, por outro lado, já há quem questione: “Será que não devemos esperar um pouco para essa tecnologia amadurecer?”. Além disso, existe ainda o surgimento de novas tecnologias em outros países, fora do domínio dos Estados Unidos.
Diante desse cenário, a grande dúvida é: como fazer essa transição, e com qual velocidade?
“Esse é um ponto crucial na competição. Afinal, o que a inovação busca? Ela busca uma posição monopolista, ainda que temporária. Quando trago um diferencial, quero uma vantagem competitiva única. Com isso, posso ganhar mercado, me tornar o único provedor daquela solução e, potencialmente, derrubar os concorrentes. Até que venha outra inovação é que o ciclo se repita. Se o Brasil não se estruturar para a IA, estaremos completamente fora do jogo. Essas apostas do ecossistema são fundamentais, e exigem cooperação”, reforça.
O futuro da inovação aberta
Olhando para o futuro, Rondani destaca algumas tendências que devem moldar a inovação aberta até 2030. Porém, elas variam de acordo com o foco dado à conversa. Para ele, uma mudança importante é a evolução do modelo de inovação aberta tradicional. Se antes as empresas apenas “abriam a porta” para as startups, oferecendo um espaço limitado para inovação, hoje, a prática precisa ser mais integrada, com gestores imersos no ecossistema de inovação.
“Hoje, todo gestor da empresa precisa estar imerso no ecossistema. Não sou mais competitivo em nenhuma função empresarial se não estiver integrado a um ecossistema”, aconselha. “A verdadeira competência está em criar uma rede, onde você tem uma turma com a qual você colabora, aprende e se prepara para se manter relevante no mercado. Essa distribuição de conhecimento e prática de Open Innovation deve estar presente em todos os departamentos da empresa, inclusive nas lideranças, para que ela possa capitalizar sobre o que está acontecendo no ecossistema”, acrescenta.
Outra tendência que ele vê é a crescente importância da IA e do desenvolvimento de tecnologias digitais. “As inovações mais profundas, com base científica, estão voltando a ser tão relevantes quanto as que impulsionaram a indústria no passado. Passamos por um período muito frutífero de alto desempenho, com o desenvolvimento dos aplicativos móveis, mas agora precisamos retornar ao trabalho nas origens, no P&D, mas com um modelo aberto”, pontua.
Gestão de ecossistemas
Ainda de acordo com Bruno Rondani, o modelo de Open Innovation deve incluir startups de tecnologia, que surgem da academia ou de clusters de conhecimento, e que podem causar um impacto transformador nas corporações. “Saber lidar com isso será fundamental”, reforça.
Em resumo, será necessário distribuir as competências em gestão de ecossistemas ou promover startups para todas as áreas de negócio. Além disso, fazer com foco em IA é o caminho. Ainda segundo Rondani, há um longo caminho para fomentar o ecossistema, atraindo mais talentos internacionais. Isso pode ser feito com apoio de governos ou de projetos colaborativos.
“Se não formos líderes locais, perderemos espaço globalmente. O Brasil, para ser relevante globalmente, precisa ser um protagonista na América Latina. Se conseguirmos destacar nossas startups, elas naturalmente vão ganhar visibilidade no mercado latino-americano. Mas se não conseguirmos esse protagonismo, perderemos esse espaço”, finaliza.
Por Jessica Chalegra