O nosso Universo é regido por um conjunto de leis que permitem aos cientistas avaliar todas as possibilidades de algo existir, mas somente a partir da observação, medição e experimentação é possível determinar o que é verdadeiramente real.
Em 1916, com a publicação da Teoria da Relatividade Geral por Albert Einstein, uma das primeiras consequências encontradas do seu conjunto de equações foi a possibilidade da existência de corpos celestes chamados de buraco negros: regiões do espaço com tanta matéria e energia que nada, nem mesmo a luz, poderia escapar de sua influência gravitacional.
Essas estruturas são comumente formadas quando uma estrela massiva chega ao fim de sua vida, com o colapso do seu núcleo metálico com o próprio peso que produz uma estrutura muito densa.
Descobrindo os buraco negros
Ao longo das décadas seguintes, a existência dos buracos negros foi confirmada através de diversos tipos diferentes de observações, desde a dinâmica orbital de estrelas até imageamento indireto (uma vez que, sem luz, não há imagem direta da singularidade), demonstrando que esses corpos não são apenas reais, mas também bastante abundantes em todo o Universo.
Primeira imagem do horizonte de eventos de um buraco negro.Fonte: Event Horizon Telescope
Entretanto, o outro lado desta consequência das equações de Einstein é uma solução matemática igualmente válida que apresenta a possibilidade da existência do inverso de um buraco negro: um buraco branco. O que seriam tais estruturas? Seriam elas igualmente reais?
A resposta mais simples é esta: buracos brancos são regiões cósmicas teóricas que funcionam de maneira oposta aos buracos negros. Se nada pode escapar de um buraco negro, nada pode entrar num buraco branco.
Se fizermos um experimento mental onde nos aproximássemos de um buraco branco numa espaçonave, nós e o restante da tripulação veríamos certas características comuns a um buraco negro: ele teria massa, poderia estar em rotação e um anel de poeira e gás poderia se acumular em torno do seu horizonte de eventos (o limite que define a fronteira entre a singularidade e o espaço ao redor).
Concepção artística de um buraco branco.Fonte: NASA
Mas não seria necessário muito tempo para percebermos que é uma estrutura inteiramente diferente de um buraco negro, pois logo perceberíamos a ejeção constante de matéria e energia do seu interior.
Mas afinal, existem buracos brancos no universo?
Astrofísico comumente descrevem buracos brancos como o resultado da reversão do tempo de um buraco negro, isto é, um “vídeo” de um buraco negro reproduzido ao contrário, da mesma forma que andar para trás é a reversão do tempo de andar para frente.
Enquanto o horizonte de eventos de um buraco negro é uma esfera do qual há um ponto sem retorno, o horizonte de eventos de um buraco branco é uma fronteira cuja admissão é negada a tudo e todos no Universo.
Representação de buracos negros e buracos brancos.Fonte: NASA/Futurism
Dessa forma, nossa espaçonave jamais alcançaria o horizonte de eventos de um buraco branco. Os objetos dentro dele podem sair e interagir com o mundo exterior, mas como nada pode entrar, o interior fica isolado do passado do Universo: nenhum evento externo jamais afetará o seu interior.
Mas essas estruturas realmente existem? A verdade é que nunca vimos um e, infelizmente (ou não), não parece ser provável que encontremos um em nosso Universo. Isso porque, além de buracos brancos poderem ser altamente instáveis, os horizontes de eventos são muito bons em esconder tudo o que ocorre do outro lado deles.
Por exemplo, pode haver algo muito interessante no que quer que tenha dado origem ao nosso Universo e também nos locais centrais dentro de cada buraco negro, mas nunca seremos capazes de acessar essa informação.
Por mais que detestemos este fato, a quantidade de informação presente no Universo é finita e somos incapazes de reconstruir o que se passa ou o que aconteceu no “outro lado” destes acontecimentos.
Contundo, vale a pena ter em mente que a Relatividade Geral de Einstein, uma das teorias científicas mais bem-sucedidas de todos os tempos, admite a existência matemática de buracos brancos com uma possibilidade equivalente aos buracos negros e nos possibilita, pelo menos, especular e imaginar.
Texto: TecMundo