Desde o primeiro momento em que ouvimos falar sobre metaverso, dúvidas e mais dúvidas começaram a surgir em nossas cabeças. Fomos bombardeadas por novos termos e conceitos, que antes poderiam parecer invenções e cenas de filmes futuristas de ficção científica. Mas hoje, bem sabemos que, por mais abstrato que seja, o mundo virtual e o real se colidiram com força, criando uma grande fusão paralela e interligada. Diante disso, é natural que surjam questionamentos que vão além das noções tecnológicas, como, se é possível que exista sustentabilidade no mundo da moda virtual e quais impactos que essa nova realidade gera.
O universo digital causa diretamente muito mais consequências físicas, IRL – in real life, em tradução livre, na vida real -, do que se imagina. Para se ter uma ideia, por trás da faceta virtual, da ‘nuvem’, são necessários desde inúmeros bancos de dados, até os grandiosos locais que abrigam tais equipamentos, que, diga-se de passagem, consomem uma altíssima quantidade de energia. Se olharmos de modo mais superficial, o metaverso é a ‘personificação’ de um mundo ideal, mas se analisarmos do ponto de vista da sustentabilidade no mundo da moda virtual, muitas preocupações começam a surgir.
O enorme potencial de alcance que o metaverso possui de modo geral, é inegável. Basta ver por aí a velocidade com que o termo se popularizou nos diversos âmbitos, e tudo isso com pouquíssimo tempo de surgimento. Uma das grandes indústrias que aderiu ao conceito logo de cara, foi o mercado da moda, muito guiado pelo viés da inovação, mas um tanto relapso em relação à sustentabilidade no mundo da moda virtual. Muito desse movimento se deve, é claro, pelo tempo em que vivemos isolados socialmente, onde os grandes nomes e marcas fashion, viram nesse segmento uma grande oportunidade de continuar trabalhando em sua expansão. Foram criados, por exemplo, os chamados NFTs, que são ativos digitais de propriedades não fungíveis, e que só existem no mundo virtual, ou em palavras mais leigas, itens e produtos digitais, que começaram a movimentar o mercado da moda no metaverso. Hoje, a variedade desses produtos é imensa, indo desde roupas, acessórios, itens de decoração e até obras de arte.
Por mais que tais itens sejam exclusivos para o universo digital, geram grande desejo e aumento do consumo por parte das pessoas, ávidas por novidades. Podemos dizer que uma das grandes consequências é a manutenção IRL da existência virtual desses produtos, que tem causado impactos, inclusive a geração de gases de efeito estufa, muitas vezes, maiores do que a indústria tradicional. Mas, como qualquer coisa que é nova, o metaverso estimula muito mais a curiosidade em saber sobre o que é o conceito em si, do que para os reveses ou questionamentos sobre a viabilidade e sustentabilidade no mundo da moda virtual. Para se ter uma ideia, segundo um estudo recente, realizado por especialistas da área, cerca de 284 mil toneladas de dióxido de carbono são gerados para treinar um só um dos tipos de IA – inteligência artificial -, responsáveis por manter em funcionamento alguns parâmetros da ‘realidade paralela’ em questão. Assustadoramente, isso equivale mais ou menos a cinco vezes mais gases de efeito estufa do que um carro produz em sua vida útil.
Devemos ressaltar que manter o metaverso e suas grandes plataformas de imersão e interação, como Sandbox, Mirandus e o Decentraland, por exemplo, não é uma tarefa fácil, muito menos barata, principalmente em relação ao consumo de insumos industriais. Segundo cálculos realizados pela multinacional de tecnologia e IA, Intel, seria necessário um aumento de, em média, 1000 vezes na capacidade atual de processamento e das data bases atuais do mundo para que o metaverso funcionasse segundo suas prospecções, e obviamente aumentando proporcionalmente a emissão de poluentes no meio ambiente. Além disso, não podemos esquecer que cada passo, cada pequeno movimento ou mudança dentro desse universo bivalente, gera dados e informações, que por sua vez são convertidos em capacidade de processamento e armazenamento. Ou seja, dificultando ideais de sustentabilidade no mundo da moda virtual – mas não os impossibilitando.
É claro que o metaverso é um grande avanço em termos tecnológicos para a sociedade, pois tem grande potencial facilitador, além de ser mais um amplo meio de sociabilização. Alguns especialistas do segmento chegam a apontá-lo como benéfico ao meio ambiente e a sustentabilidade no mundo da moda virtual,uma vez que a imersão nessa realidade possibilita a redução de viagens físicas, por exemplo, contribuindo para a diminuição da poluição da indústria da aviação. Mas, além da elevação da pegada de carbono e da emissão de gases de efeito estufa, vale lembrar que o aumento da busca pela imersão ao universo digital também gera lixo, principalmente o de origem eletrônica. Os quais vão desde óculos de realidade aumentada, headsets e até computadores mais potentes, que a cada temporada são substituídos por equipamentos novos e melhorados.
Mas é importante dizer que a responsabilidade por gerenciar os lançamentos de poluentes no meio ambiente, é, principalmente, das grandes empresas ligadas ao mundo da realidade virtual. Recentemente, gigantes como o Meta – antigo Facebook – e a Microsoft prometeram que nos próximos anos desejam atingir emissões líquidas zero. A Microsoft também se comprometeu em buscar alternativas de combustíveis ‘limpos’ para alimentação de seus geradores. Outro nome importante desse mercado, o Google, anunciou que pretende trabalhar com energia carbon free, 24 horas por dia em todos seus centros de dados até 2030. Pequenas ações individuais, como consumir eletrônicos second hand, dar um destino adequado para o lixo eletrônico e até optar por uma transmissão de qualidade um pouco inferior a HD, também podem gerar impactos positivos para o meio ambiente.
Fonte: stealthelook