Com a venda de sua startup Wiz ao Google, a maior aquisição da história da big tech, o empreendedor passa a acumular patrimônio líquido de US$ 2,2 bilhões

Israel é conhecida como uma das nações mais inovadoras e empreendedoras do mundo. O apelido de “Nação Startup” se justifica pelo grande incentivo à inovação: 6% do PIB é investido em pesquisa e desenvolvimento, ante menos de 3% na média das nações desenvolvidas. Empreendedores de tecnologia são vistos com imenso respeito. Atualmente, um dos nomes mais quentes no topo desse ecossistema é Assaf Rappaport, de 41 anos. Após um período de seis anos nas Forças Armadas, ele construiu uma trajetória de sucesso no setor de tecnologia da informação e cibersegurança. Rappaport se classifica como introvertido e tem atitude despretensiosa – mas faz movimentos estratégicos altamente ambiciosos.
Há uma década, vendeu sua primeira startup, a Adallom, à Microsoft por US$ 320 milhões (R$ 1,8 bilhão), depois de atuar por dois anos como consultor na McKinsey australiana. Logo, tornou-se o CEO mais jovem da Microsoft Israel, aos 34 anos. Agora seu nome está associado à maior aquisição da história feita pelo Google: a compra de sua startup de cibersegurança Wiz, por US$ 32 bilhões (cerca de R$ 181,6 bilhões).
A aquisição não apenas marca a maior transação da história da gigante de tecnologia, mas também coloca Rappaport e os outros fundadores – Yinon Costica, Ami Luttwak e Roy Reznik – um pouco mais acima na lista dos mais ricos do mundo. A Forbes estima que o negócio fará com que os cofundadores da Wiz ganhem cerca de US$ 2,2 bilhões cada um, graças às suas participações de 10% na empresa.
A Wiz foi fundada em janeiro de 2020 pelos quatro amigos de longa data, que se conheceram no exército israelense. Eles fizeram parte da Unidade 8200, responsável por operações de guerra cibernética, reconhecida por formar profissionais que posteriormente fundaram empresas de destaque e com base tecnológica.
Rappaport já descreveu assim sua visão do negócio: “Quando as pessoas me perguntam o que coloca a Wiz em um caminho de crescimento tão forte, minha resposta é simples: um foco incansável em fornecer valor real aos nossos clientes. A Wiz se tornou mais do que apenas um único produto. Agora somos uma plataforma completa construída sobre uma base de tecnologia unificada, o que nos diferencia dos outros. Ao preencher a lacuna entre segurança e desenvolvimento, estamos garantindo que os riscos da nuvem sejam detectados e corrigidos diretamente no código antes que se transformem em grandes problemas”.
Um dos diferenciais da startup é o uso de gêmeos digitais de altíssima fidelidade de sistemas, processos ou instalações físicas, para simular ataques, identificar vulnerabilidades, fazer monitoramento e análise em tempo real. Para o Google, o movimento é parte de uma estratégia para fortalecer o negócio de nuvem e reduzir a distância em relação à Amazon e à Microsoft. A compra era considerada desde 2023, mas, na época, a gigante tech não via um cenário favorável para avançar no negócio.
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Rappaport nasceu em Tel-Aviv e foi criado só pela mãe, Tzipi, com quem ainda fala várias vezes ao dia. Ele se formou na Universidade Hebraica de Jerusalém em ciência da computação, física e matemática em 2005. Continuou seus estudos no Technion – Instituto de Tecnologia de Israel, onde obteve um mestrado em ciência da computação em 2012.
Enquanto estudava, ingressou no serviço militar, sendo aceito no Talpiot, um programa de elite das Forças Armadas voltado para estudos avançados e treinamento de liderança, em 2001. Lá, conheceu Costica, atual VP de Produto da Wiz, quando o colega cadete o salvou de ser reprovado em uma inspeção do dormitório. Os demais cofundadores, Luttwak (que se tornaria diretor de Tecnologia da Wiz) e Roy Reznik (que se tornaria VP de Pesquisa & Desenvolvimento), ele conheceu num outro grupo de elite, a Unidade 81, que desenvolve tecnologia para uso militar. A experiência proporcionou a Rappaport conhecimento técnico e uma forte rede profissional.
Apesar do status de bilionário, os amigos o descrevem como alguém que valoriza a simplicidade. Gostava muito da companhia de sua cachorra, Mika, que morreu quatro meses antes de o negócio com o Google ser concretizado. Nomeada CDO (Chief Dog Officer) da startup, Mika era uma funcionária carismática, companheira de toda a equipe, e seu perfil profissional ainda está no LinkedIn. Rappaport também prefere o transporte público a ter um carro, por circular por áreas difíceis de estacionar (ele mora em Nova York desde o final de 2023 para divulgar a Wiz, enquanto os outros fundadores continuam a conduzir o negócio de Tel-Aviv, onde residem).
O empreendedor se assumiu gay ainda jovem e está em um relacionamento há anos com Ofir Hadary, um ex-educador que também trabalha no setor de tecnologia da informação. Rappaport foi o primeiro CEO em Israel a anunciar salário-maternidade e salário-paternidade para casais gays e heterossexuais que recorram a uma “barriga de aluguel”). O empreendedor costuma manifestar suas opiniões políticas de maneira aberta: ele participou ativamente de protestos contra a reforma judicial proposta pelo governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em 2023, com o objetivo de diminuir o poder da Suprema Corte.
Esta resportagem foi publicada originalmente na edição de abril de Época NEGÓCIOS
Por: Fabiana Rolfini