Governo americano prevê encerrar atividades de geração de energia com a queima de carvão em 2035, e revela planos para combater emissão de metano

Na continuação da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP28), em Dubai, os Estados Unidos (EUA) anunciaram neste sábado (2) a sua participação na Powering Past Coal Alliance, se comprometendo a encerrar as atividades de usinas de energia movidas a carvão no país.

O prazo determinado pelos americanos para o fim do uso de carvão na geração de energia foi fixado em 2035, ultrapassando em cinco anos a data considerada ideal para o encerramento deste tipo de atividade na economia mundial, dentro dos planos de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C até 2050.

O enviado especial do governo dos EUA, John Kerry, anunciou a entrada do país no grupo junto com França e outras nações. “Nós vamos trabalhar com parceiros ao redor do mundo para encerrar o uso do carvão, um passo absolutamente essencial para manter a meta de 1,5°C dentro do alcance”, afirmou o representante americano.

O carvão é tido como combustível fóssil mais poluente, responsável por cerca de 40% das emissões de combustíveis fósseis das atividades humanas. Os EUA têm o terceiro maior conjunto de usinas a carvão do mundo, informou o jornal The Guardian.

Depois do anúncio dos EUA, a vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, afirmou em Dubai que o mundo enfrenta um “momento crucial” na crise climática. O presidente Joe Biden não está presente na conferência. “Este é um momento crucial – a nossa ação coletiva, ou pior, a nossa inação, irá impactar milhares de milhões de pessoas nas próximas décadas. Em todo o mundo há aqueles que procuram retardar ou parar o nosso progresso. Líderes que negam a ciência climática, atrasam a ação climática e espalham desinformação”, disse.

Harris também anunciou US$ 3 bilhões para o Fundo Verde para o Clima, que visa aumentar as energias renováveis ​​e a resiliência climática em todo o mundo, embora esse dinheiro ainda tenha de ser acordado pelo Congresso dos EUA, que é parcialmente controlado pelo partido republicano – que se opõe à maioria das medidas para lidar com a crise climática.

EUA anunciam combate ao metano

Também neste sábado, o governo americano revelou planos para combater a emissão de metano na indústria de petróleo e gás. O objetivo da Agência de Proteção Ambiental (EPA) é proibir a queima rotineira do gás natural produzido por poços de petróleo recém perfurados, exigindo o monitoramento pelas empresas petrolíferas. Os americanos preveem ainda um programa de sensores para detectar grandes liberações de metano dos chamados “super emissores” da indústria.

“Esses novos padrões nos ajudarão a cumprir nossos compromissos internacionais de enfrentar agressivamente as mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade do ar para as comunidades em todo o país”, afirmou o administrador da EPA, Michael Regan, em entrevista coletiva em Dubai, relatou a agência Reuters.

Os EUA estimam que irão reduzir as emissões de metano das indústrias de petróleo e gás em 80% nos próximos 15 anos – um total de 58 milhões de toneladas até 2038. O metano tem alto potencial de esquentar o clima terrestre, com efeito 80 vezes mais forte que o CO2, colaborando para a mudança climática e gerando eventos extremos como temporais e secas.

Brasil vai entrar na Opep+ para alertar países, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado, em Dubai, que o ingresso do Brasil na Opep+ será como observador e com o papel de convencer os países produtores de petróleo a se prepararem para o fim dos combustíveis fósseis.

A Opep+ reúne os principais produtores de petróleo do mundo e aliados, como a Rússia. O anúncio de que o Brasil vai ingressar no grupo ocorreu na quinta-feira (30), em reunião com a participação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

“Da Opep+ acho importante a gente participar, porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis. E se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram para fazer investimento, para que os continentes como o africano e a América Latina possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam, sobretudo o hidrogênio verde. Porque se a gente não criar alternativa, a gente não vai poder dizer que vai acabar com os combustíveis fósseis.”

Segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o Brasil irá analisar as regras de funcionamento da plataforma para tomar uma decisão em junho do próximo ano. “Em junho, vai ter outra reunião onde aí certamente, em Viena, o Brasil vai levar e dizer ‘olha, eu topo participar, estou dentro’. E aí passar a participar das reuniões como uma espécie de membro observador.”

A categoria de observador avaliada pelo governo brasileiro visa a não comprometer a Petrobras com as cotas impostas pela Opep às nações integrantes. O Brasil é o maior produtor de petróleo da América do Sul, com uma produção de 4,66 milhões de barris de óleo equivalente ao dia (petróleo e gás) em setembro.

Lula quebra protocolo para Marina Silva falar sobre florestas na COP28

O presidente Lula se emocionou neste sábado em Dubai durante uma plenária de países que possuem vastos territórios com florestas, ao ceder a palavra a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. “Precisamos muita, muita coisa. Vinte e oito edições da COP para que pela primeira vez as florestas viessem falar por si só. E eu não poderia utilizar a palavra sobre as florestas, se eu tenho no meu governo uma pessoa da floresta. A Marina nasceu na floresta, se alfabetizou aos 16 anos”, disse.

Na ocasião, Marina Silva falou sobre as ações que o governo federal vêm tomando para a proteção das florestas do país e chamou outros setores para dividirem esta responsabilidade. “Compromisso com floresta não é só de governo, é de empresa, sociedade e da ciência. E nós contamos com toda sociedade”.

Ontem, o governo lançou na COP uma proposta para ampliar o financiamento para as florestas., em que países com fundos soberanos, entre outros investidores, colocariam recursos em um fundo criado para manter as florestas tropicais em pé e conservadas. “A ideia fundamental é incentivar a conservação e desincentivar fortemente o desmatamento e a degradação florestal”, disse o Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Os fundos soberanos são criados por alguns países para acumular riquezas. Entre os maiores fundos do mundo, estão os da Noruega, dos Emirados Árabes Unidos, da China, da Arábia Saudita, do Kuwait, do Catar, entre outros, segundo Instituto do Fundo Soberano.

EUA declaram apoio ao Plano de Transformação Ecológica brasileiro

Neste sábado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o enviado especial presidencial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry se reuniram em Dubai, durante a COP28. Na ocasião, os dois discutiram a intenção de trabalharem juntos para avançar na implementação do Plano de Transformação Ecológica.

Segundo o governo federal, foco da cooperação bilateral inclui esforços para expandir o uso de instrumentos financeiros e de apoio por governos, setores filantrópicos, privados e parceiros multilaterais. Uma das iniciativas chave da parceria é a formação de uma coalizão de atores do setor tecnológico, que deve explorar como a tecnologia, incluindo a inteligência artificial, pode acelerar a implementação de marcos regulatórios relacionados ao novo plano.

Como pontapé inicial, o governo planeja criar grupos de trabalho compostos por diversos setores da sociedade, incluindo parceiros dos EUA que vão investigar como seus recursos e ferramentas podem apoiar a implementação do plano e outras prioridades climáticas. A primeira reunião desses grupos está prevista para acontecer em fevereiro de 2024, antes do encontro ministerial do G20 – que ano que vem será realizado no Rio de Janeiro.

Presidente francês diz ser contra avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia

Mas, neste sábado (2), o presidente da França, Emmanuel Macron, surpreendeu ao se manifestar contra o acordo entre Mercosul e União Europeia, que vem sendo costurado há décadas entre os dois blocos. Em entrevista à imprensa em Dubai, durante a COP28, Macron disse que o acordo é “antiquado” e contraditório com as ambições ambientais de países como o Brasil, informa a BBC.

No entanto, Macron não deixou claro se a França vai vetar o acordo. Para que as negociações não avancem, basta um veto de qualquer um dos países do Mercosul ou da União Europeia.

A declaração aconteceu pouco depois do presidente francês se encontrar com o presidente brasileiro. “Eu tive uma discussão formidável com o presidente Lula. Porque ele é visionário, corajoso e há muita sinergia entre as nossas estratégias. E é justamente por isso, por isso mesmo, que sou contra o acordo Mercosul-UE, porque acho que é um acordo completamente contraditório com o que ele está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo”, afirmou.

O francês disse ainda que é preciso pensar num acordo que seja mais “geoestratégico” e consistente com as estratégias europeias, e não mexer num acordo “à moda antiga”. “Não posso pedir aos nossos agricultores, aos nossos industriais na França, em toda a Europa, que façam esforços, que apliquem novas linguagens para descarbonizar, para abandonar certos produtos, enquanto são removidas todas as tarifas para importar produtos que não aplicam essas regras”, disse Macron.

Reino Unido fará novo aporte no Fundo Amazônia

O governo do Reino Unido revelou nesta sexta (1) que fará um aporte de R$ 187,5 milhões ao Fundo Amazônia. O anúncio na COP28 se soma aos R$ 500 milhões anunciados anteriormente pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak.

“O Reino Unido é um líder mundial na busca pelo Net Zero, por isso é vital que apoiemos os nossos aliados internacionais, como o Brasil, no cumprimento das suas ambições climáticas”, afirmou a secretária britânica de energia, Claire Coutinho.

Neste sábado, Reino Unido e Brasil assinaram um acordo de cooperação para a descarbonização da indústria brasileira. O Hub de Descarbonização Industrial no Brasil (HDIB), alocado no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, deve funcionar como um centro de articulação de parcerias internacionais, incluindo provedores de assistência técnica, doadores internacionais de financiamento climático, investidores privados e outras iniciativas industriais com a finalidade de facilitar a identificação, o alinhamento e a correspondência das medidas propostas.

Brasil e Reino Unido assinam memorando de cooperação na descarbonização

Brasil e o Reino Unido firmaram hoje em Dubai, durante a COP28 um acordo de cooperação em projetos de apoio à descarbonização do setor industrial que recebeu o nome de Hub de Descarbonização Industrial no Brasil (HDIB). Segundo o governo, a iniciativa vai funcionar como um centro de articulação de parcerias internacionais que tenham interesses na descarbonização da indústria, como provedores de assistência técnica, doadores internacionais de financiamento climático, investidores privados e outras iniciativas industriais.

Colômbia anuncia fim de novos contratos de exploração de combustíveis fósseis

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou durante agenda em Dubai que o país sul-americano não irá firmar novos contratos de exploração de combustíveis fósseis, como petróleo e gás. “Isso não significa que ficaremos sem petróleo, carvão e gás, porque já existem estes combustíveis em exploração e há muitos contratos de exploração em vigor. O que não queremos é que se expandam mais”, disse Petro.

UE anuncia EU 2,3 bilhões para transição energética no mundo

Neste sábado repleto de anúncios importantes na COP28, em Dubai, a União Europeia anunciou que vai investir EU 2,3 bilhões nos próximos dois anos para apoiar a transição energética tanto dentro do bloco como no resto do planeta. A informação foi divulgada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no lançamento do compromisso global sobre energias renováveis e eficiência energética. “”O consumo de energia representa três quartos das emissões globais de gases de efeito de estufa e as energias renováveis ainda não são suficientemente competitivas em muitas partes do mundo”.

Energia nuclear

Em uma declaração conjunta, cerca de 20 países, incluindo os Estados Unidos, a França e os Emirados Árabes Unidos, apelaram à triplicação das capacidades de energia nuclear no mundo até 2050, em comparação com 2020, para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. A China e a Rússia, hoje os principais construtores de usinas nucleares do mundo, não estão entre os signatários. Já a Bélgica anunciou que organizará a primeira cúpula nuclear mundial em março de 2024, juntamente com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

116 países firmam acordo para triplicar capacidade de gerar energia limpa

Um grupo de 116 países se comprometeu a triplicar suas capacidades para energias renováveis até 2030, “trabalhando juntos” para aumentar as capacidades renováveis globais (energia eólica, solar, hidroelétrica, etc.) até 11.000 gigawatts (GW), em comparação com os cerca de 3.400 GW atuais. Outros 20 países, como Japão, EUA e França, prometeram também triplicar a geração nuclear até 2050, em um gesto já considerado histórico, mas que também foi alvo de críticas.

Apesar das alegações de que o modelo é seguro, ativistas contrários à energia nuclear lembram dos duradouros impactos de acidentes nucleares Chernobyl (1986) e, mais recentemente, Fukushima (2011), que levou vários países, como a Alemanha, a suspender a operação de centrais atômicas.

Petroleiras se comprometem a reduzir emissões de metano

Cinquenta petrolíferas, que representam quase metade da produção global do combustível fóssil, comprometeram-se a atingir emissões quase nulas de metano até 2050, de acordo com o presidente COP28, o sultão Al Jaber. O compromisso inclui grandes empresas petrolíferas estatais, como a Saudi Aramco, Petrobras e Sonangol e multinacionais como Shell, TotalEnergies e BP.

“O mundo não funciona sem energia. No entanto, o mundo entrará em colapso se não corrigirmos as energias que usamos hoje, mitigarmos as suas emissões numa escala de gigatoneladas e não fizermos a transição rápida para alternativas de zero carbono”, disse Al Jaber. O anúncio recebeu críticas de ambientalistas. “A promessa é uma cortina de fumaça para esconder a realidade de que precisamos eliminar gradualmente o petróleo, o gás e o carvão”, afirma uma carta assinada por mais de 300 grupos da sociedade civil.

Brasil quer centro de cooperação internacional para combater crimes na Amazônia

O Brasil tem liderado esforços para a criação de um centro de cooperação internacional de combate ao crime organizado na Amazônia a ser instalado em Manaus, no coração da floresta. Humberto Freire, diretor para Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal (PF) defendeu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, sede da COP28, maior integração dos países nos aspectos de segurança e combate às ilegalidades, tendo em vista que o “assalto” à floresta alimenta uma cadeia complexa de exportações mundiais.

Ao apresentar a proposta do Centro Internacional de Cooperação Policial para a Amazônia em um painel no movimentado pavilhão do Brasil, na Expo Dubai, palco da COP28, Freire destacou o caráter global da investida policial, que contará não só com países e estados, mas também com as agências Interpol, Ameripol e Europol.

PNUMA lança metas globais e financiamento para salvar os recifes de corais

Neste dia 2 de dezembro, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente lançou oficialmente o 2030 Coral Reef Breakthrough, um marco na ação global para salvar o ecossistema mais ameaçado do mundo, que inclui as primeiras metas mundiais para ações em recifes de coral e compromissos financeiros de líderes públicos e privados.

O Coral Reef Breakthrough visa a garantir o futuro de pelo menos 125 mil km² de recifes de corais tropicais de águas rasas com investimentos mínimo de US$12 bilhões para apoiar a resiliência de mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo até 2030. Os avanços foram desenvolvidos em colaboração com os Campeões de Alto Nível das Alterações Climáticas das Nações Unidas (HLCC), a Iniciativa Internacional dos Recifes de Coral (ICRI) e o Fundo Global para os Recifes de Coral (GFCR), com o apoio do governo da Suécia e do principado do Mônaco.

BNDES anuncia R$ 450 milhões do Fundo Amazônia para projetos de restauração florestal

O BNDES lançou neste sábado (2), durante a COP28, a Iniciativa Arco de Restauração na Amazônia. O banco informou que a primeira ação da iniciativa é a abertura do edital Restaura Amazônia, que destinará R$ 450 milhões do Fundo Amazônia a projetos de restauração ecológica de áreas desmatadas ou degradadas.

O edital pretende conjugar recursos de países, empresas e governos para a agenda da restauração e selecionar três organizações com experiência e capacidade para atuar como parceiros gestores da iniciativa nos territórios. A ideia é que cada parceiro gestor seja responsável por uma das três macrorregiões estabelecidas no planejamento: Acre, Amazonas e Rondônia; Mato Grosso e Tocantins; e Pará e Maranhão.

Texto: Redação do Um Só Planeta