A imagem é emblemática. Jovens solitários, na garagem das casas de seus pais, criando algo único, que viria a revolucionar o mundo. O glamour da inovação solitária e com poucos recursos é constantemente reforçado em palestras e no cinema. Para muitos, esse é o retrato do espírito inovador. No entanto, ao entrarmos em 2023, esse estereótipo não poderia estar mais longe da realidade. No cotidiano das organizações já sabemos: inovar é um ato coletivo, que demanda sinergia, dedicação e investimento.
Foi a junção dos conceitos de união, por meio do associativismo, e da inovação, aplicada ao desenvolvimento e à melhoria da vida das pessoas, que nos fez estabelecer este como o tema central da gestão da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul) entre 2021 e 2022. Nossa percepção era de que, no Rio Grande do Sul, as diferentes iniciativas que buscavam o desenvolvimento do Estado lutavam sozinhas contra as adversidades, sem que houvesse diálogo e parceria entre os diferentes entes.
Essa falta de conexão foi se reduzindo no período. A chegada do South Summit em Porto Alegre – e, principalmente, a decisão dos organizadores de manter o evento pelos anos seguintes – é um exemplo de como, aos poucos, o Rio Grande do Sul está se consolidando como um Estado inovador. A Federasul também deu a sua contribuição direta na redução dessas distâncias, com as Jornadas de Inovação, nas quais, juntamente com universidades, Sebrae e Instituto Caldeira, percorremos diferentes regiões do Estado para aproximar novas iniciativas, conectar pessoas e organizações e identificar novas oportunidades.
Agora, é preciso avançar. Nas últimas décadas, vimos a inovação impulsionar verdadeiras revoluções em regiões conhecidas pelo cenário de pobreza e violência. Lugares que viram na tecnologia um instrumento a favor do crescimento e passaram a utilizá-la para melhorar sua eficiência político-econômica e para amparar o seu desenvolvimento. As chamadas cidades inteligentes mostram que a inovação pode potencializar todos os aspectos da vida em sociedade. Pensando nisso, criamos, na Federasul, em dezembro, um grupo temático para discutir as oportunidades que esse cenário apresenta para nosso Estado.
Cidades inteligentes inovam, inclusive, em seus processos de participação e escuta dos cidadãos. Cada vez mais, a tecnologia é uma aliada para entender as necessidades dos diferentes setores. Fizemos algo semelhante na Federasul quando, mesmo com o distanciamento social imposto pela pandemia, realizamos nossas Jornadas de Integração. A partir da escuta das diferentes regiões do Rio Grande, identificamos as demandas dos setores produtivos e consolidamos essas reivindicações em um documento entregue aos governos federal e estadual. Parte desses pedidos têm sido atendidos, mostrando como a escuta ativa pode ser um agente integrador e norteador das ações do poder público.
Para que o potencial inovador do Rio Grande, de fato, transforme-se em desenvolvimento sustentado no longo prazo, é preciso que o poder público cumpra uma agenda de reformas importantes, especialmente em duas frentes. A primeira diz respeito à modernização da própria máquina pública, algo que vem sendo feito pelos últimos governos com engajada participação da Federasul. Essas reformas darão fôlego ao caixa para que investimentos fundamentais, especialmente em infraestrutura, sejam realizados. Além disso, o programa de concessões e privatizações deve acelerar os necessários investimentos em áreas como energia e saneamento, nas quais o Estado vive profundo atraso.
Outra frente na qual é necessário que o Estado faça uma verdadeira transformação é a educação, tema em torno do qual também nos dedicamos. Se hoje temos iniciativas inovadoras, que são destaque, inclusive, internacionalmente, isso se dá apesar do nosso ensino público. Nossa educação vive uma crise tão urgente que somos destaque negativo mesmo no cenário brasileiro. É fundamental começarmos pelo básico, melhorando infraestrutura, aprimorando a gestão e capacitando melhor nossos professores, de modo a trazer as escolas gaúchas para a nova realidade deste século.
Com o Estado fazendo a sua parte, institutos de pesquisa e universidades contribuindo com conhecimento e com os setores produtivos abertos à inovação, podemos planejar um Rio Grande mais desenvolvido, melhor para todos. O potencial existe, iniciativas já se consolidam, mas ainda há muito a fazer. O caminho está dado e ele passa pela união desses esforços, pelo trabalho colaborativo e pela convicção de que o nosso futuro depende da nossa capacidade de olhar para além do horizonte que nossos olhos alcançam, juntos. Que 2023 nos possibilite avançarmos nessa jornada.