Um dia após o Brasil registrar 4,2 mil mortes nas últimas 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar a adoção de medidas restritivas para tentar frear o avanço da Covid-19 no Brasil e disse que não haverá um lockdown nacional.

As ações para restringir a circulação de pessoas têm sido defendidas por autoridades sanitárias para enfrentar a pandemia no país, que vive seu maior pico e responde hoje por um em cada três mortos pelo novo coronavírus no mundo.

“Vamos buscar alternativas, não vamos aceitar a política do fique em casa, feche tudo, lockdown. O vírus não vai embora. Esse vírus, como outros, vieram pra ficar, e vão ficar a vida toda. É praticamente impossível erradicá-lo”, disse.

Durante o evento, em que todos utilizavam máscara de proteção, Bolsonaro voltou a defender o chamado “tratamento precoce”, com o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença e que, segundo a Associação Médica Brasileira, deveriam ter seu uso contra a Covid banido.

“Eu não sei como salvar vidas, eu não sou médico, não sou enfermeiro, mas eu não posso escolher a liberdade do médico ou até mesmo do enfermeiro. ele tem que buscar uma alternativa para isso”, afirmou.

O presidente também disse que os médicos devem ter autonomia para escolher o tratamento ao citar os medicamentos sem eficácia.

“Não podemos admitir impor limites ao médico. Se o médico que receitar aquele medicamento, que não receite. Se outro cidadão qualquer acha que aquele medicamento não está errado, não está certo porque não tem comprovação científica que não use, é liberdade dele. O off-label, fora da bula, é o remédio pro paciente. Hoje tem aparecido medicamentos ainda não estão comprovados, que estão sendo testados e o médico tem essa liberdade. Tem que ter. É um crime querer tolher a liberdade de um profissional de saúde”, disse.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, relacionou a autonomia dos médicos com a recuperação dos pacientes e elogiou o sistema aplicado no município.

“Os profissionais de saúde e sobretudo os médicos, que têm o ofício milenar, já fazem com muita propriedade e baseado nos princípios bioéticos bem sedimentados, como o principio da beneficência e como o princípio da autonomia. O presidente me deu autonomia para, no ministério, construir uma equipe técnica com o objetivo de implementar políticas públicas e, conforma a constituição federal, é um direito de todos e um dever do estado. Essas políticas públicas têm que atender a todos, independente de orientação política e elas têm que chegar a cada um dos 220 milhões de habitantes”, explicou o ministro.

Além disso, ele também falou sobre a implementação da campanha de vacinação contra a Covid-19 e os trabalhos para constituir um complexo industrial para ter autonomia na produção de insumos. “Hoje o Brasil já tem acertado mais de 500 milhões de doses de vacinas e nas mais de 37 mil salas de vacinação espalhadas em todo o Brasil nós já vacinamos todos os dias 1 milhão de brasileiros”, disse.

Bolsonaro citou o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir celebrações religiosas coletivas em todo o país e defendeu que a liminar seja mantida ou haja pedido de vista. “Parece que no Brasil só tem Covid. Acabaram as outras mortes, os outros sofrimentos. Não. Nós acreditamos no provo brasileiro. Noventa por cento da população um pouco mais acredita em Deus e acreditando em Deus eu espero que daqui a pouco como tá previsto no Supremo Tribunal Federal julgar a liminar do ministro Castro Nunes ou que a liminar seja mantida ou que alguém peça vistas pra que nós possamos discutir um pouco mais a abertura ou não de templos religiosos”.

O presidente também negou o apoio das Forças Armadas aos governadores nas medidas restritivas de isolamento. “O nosso Exército brasileiro não vai a rua para manter o povo dentro de casa”.

A justificativa para não ter restrições no país usada pelo presidente foi a liberdade dos brasileiros e também a crise econômica, por isso defendeu que o Brasil “não vai parar para empobrecer mais”. “Temos que estudar Chapecó, temos que ver as medidas tomada pelo prefeito e pela governadora […]. O problema está aí, soluções algumas aparecem como a de Chapecó outras virão. Temos que ter coragem para decidir se ficar parado esperando solução o problema além desse do vírus, teremos outro do desemprego que leva a depressão, leva a falta de esperança, leva a que outras doenças sejam agravadas”, disse. Também afirmou que nenhuma das decisões visa as eleições presidenciais de 2022.

Chapecó tem aceleração da pandemia

Elogiada por Bolsonaro pelo trabalho de combate ao coronavírus, a cidade soma mais mortos pela Covid-19 do que a média nacional e estadual. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes da doença no município é de 240,6, enquanto no Brasil é de 160,3. Já em Santa Catarina, índice está em 161,2. Os dados são do Ministério da Saúde desta quarta-feira (7).

Das 339 mortes registras pela doença até a noite de terça-feira (6), 76% ocorreram em 2021. Foram 415 óbitos entre janeiro e abril. Desde o início da pandemia até dezembro de 2020 o município havia registrado 124 mortes (veja o quadro abaixo).

Com o colapso na saúde, o município de 224 mil habitantes suspendeu as atividades não essenciais por 14 dias no fim de fevereiro. Alguns serviços, como restaurantes e mercados, que puderam ficar abertos tiveram mudanças no horário de funcionamento e redução da capacidade de clientes.

Nas últimas semanas a cidade registrou diminuição do número de casos ativos de coronavírus e de pacientes com a doença fila por UTI. O prefeito Rodrigues atribuiu a melhora da situação da pandemia à testagem rápida, tratamento imediato e medidas de restrição e fiscalização.

“Nós tratamos imediatamente todos os pacientes com a testagem rápida que fizemos. Nós não fizemos lockdown em Chapecó, nós fizemos uma paralisação parcial da cidade por 14 dias em fevereiro para montar os equipamentos. Então, tudo tem ajudado”, defendeu Rodrigues.

Em 5 de março, a cidade tinha 3,2 mil casos ativos da doença. Na segunda (5), eram 620 pessoas em tratamento, segundo o governo estadual.

Fonte: G1

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