sexta-feira,22 novembro, 2024

Na Localiza, a inovação vem da troca de conhecimento com líderes e pensadores da tecnologia

Mais do que investir em startups, a empresa está interessada em discutir tecnologias como IA e IoT com executivos e desenvolvedores que estejam trabalhando em projetos parecidos ou atuem em outras áreas, mas possam agregar valor às propostas da Localiza

Para André Petenussi, Chief Technology Officer da Localiza&Co, nada é mais importante do que desenvolver as competências de tecnologia da empresa, seja para construir aplicações melhores para os clientes, seja para criar diferentes frentes de negócios. Foi com esse objetivo que a companhia mineira de mobilidade inaugurou, em dezembro do ano passado, o Localiza Labs de Belo Horizonte, espécie de “quartel-general” de tecnologia da empresa.

“O que a gente estamos fazendo na Localiza é tecnologia de ponta”, diz Petenussi, em entrevista a Época NEGÓCIOS. “Então, meu objetivo com esse novo espaço é reunir líderes e pensadores de tecnologia que estão fazendo coisas parecidas, ou que sejam de outras áreas, para trocar figurinhas ou nos trazer conhecimento.”

Não se trata do primeiro Labs da empresa: já existem unidades em São Paulo, Recife e Curitiba. Mas o escritório de Belo Horizonte foi feito para centralizar as discussões e os experimentos em tecnologias avançadas. “É ali que vamos pensar nas melhorias de sistemas, de produtos e de toda a operação digital da Localiza. É ali que os times de tecnologia e as equipes que operam o negócio vão colaborar todo dia para criar produtos incríveis”, diz o CTO, que já passou por empresas como Submarino, B2W Digital, Walmart e Netshoes, antes de assumir a área de tecnologia da Localiza, em 2019.

Cabe a Petenussi a difícil tarefa de reinventar continuamente a Localiza, criando formatos, ferramentas e estratégias que encantem os clientes, sejam eles da geração X, Y ou Z. “Há dez anos, as pessoas telefonavam para a agência, e depois iam lá pessoalmente para alugar um carro. Agora, entram no aplicativo, fazem a reserva e depois fazem uma selfie para confirmar a identidade e liberar o carro. E, nos próximos anos, com a IA, tudo isso deve mudar de novo”, diz o executivo.

Com 48 anos de história, a Localiza é uma empresa de mobilidade com uma frota de 600 mil veículos que atua em diversas frentes: além do simples aluguel de carros para o cliente final, também oferece assinaturas mensais para pessoas físicas e pequenas empresas, automóveis para motoristas de aplicativos e serviços de manutenção para quem tem carro próprio, sem falar na venda de carros seminovos, por conta da renovação da frota. É a soma do tradicional com as novas frentes que garantiram à empresa uma receita líquida de R$ 7,32 bilhões de julho a setembro de 2023, um avanço de 19,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Confira a seguir a entrevista que André Petenussi concedeu a Época NEGÓCIOS.

A empresa acaba de inaugurar uma unidade do Localiza Labs em Belo Horizonte. Qual o objetivo da criação desse espaço?

Há cinco anos, a Localiza vem investindo bastante na competência de tecnologia. E, com isso, nós fomos transformando a maneira como nos relacionamos com os clientes. E o que está por trás disso, no final do dia, é a habilidade da empresa para desenvolver esse novo canal de comunicação com seus clientes. Então, de 2019 para cá, saímos de um time de 150 pessoas para mais de 1500 pessoas espalhadas no Brasil. Dentro de todo esse investimento nessa revolução digital, a gente tem três grandes aspirações. A primeira é continuar a encantar os nossos clientes, agora num canal diferente. Quem era cliente da Localiza há dez anos ligava para a agência e depois ia lá pegar o carro. Hoje você faz uma reserva online, pega o carro no estacionamento da agência e faz uma selfie; nós te identificamos e liberamos o carro. A segunda aspiração é digitalizar todos os processos e operações na agência. E a terceira é gerar novos produtos e novos negócios. E para isso nós precisamos do Localiza Labs.

Nos últimos três anos, a empresa lançou várias frentes novas de negócios. Esses lançamentos estão mais ligados ao processo interno de digitalização ou às demandas de uma nova economia?

Eu acredito que as duas coisas se combinam. Como a posse do carro deixou de ser tão importante para o consumidor digital, nós lançamos o Meoo, que é o nosso serviço de assinatura para o consumidor final. Daí o fenômeno dos motoristas por aplicativo nos fez criar o Localiza Zarp, voltado a esses profissionais. E uma questão estratégica fez com que a gente voltasse a atenção para os motoristas em geral, que têm seus próprios carros, mas podem fazer uso da nossa expertise em manutenção.

Como funciona o Localiza Labs?

Basicamente o Localiza Labs é a nossa área de tecnologia e inovação, responsável por viabilizar todas as transformações da empresa. Nós já tínhamos unidades do Labs em Recife, São Paulo e Curitiba. Mas o escritório de Belo Horizonte, que a gente lançou em dezembro, é diferente, porque foi projetado para ser o quartel-general da empresa. Daqui para a frente é ali que vamos pensar nas melhorias de sistemas, de produtos e de toda a operação digital da Localiza. É ali que os times de tecnologia e as equipes que operam o negócio vão colaborar todo dia para criar produtos incríveis.

Quando a gente pensa em Labs, o que vem à mente é um hub de inovação aberta. Essa área da empresa também tem essa função?

Sim, um dos propósitos desse novo prédio é que a gente use o espaço para nos conectarmos conectar com a comunidade de desenvolvimento de software local em BH. A cidade tem muitas empresas e um público de tecnologia bem extenso. Então queremos trazer discussões técnicas para o Labs, reunir desenvolvedores, pessoas com grande expertise em tecnologia, que possam trocar conhecimento com os nossos funcionários e fazer com que nosso time melhore a cada dia. Então, a ideia é que ele seja um lugar tanto para inovação interna quanto para nos conectarmos com os principais líderes de desenvolvimento de software e pensadores de tecnologia da região.

Para vocês, essa troca de conhecimento é mais importante do que o investimento direto em startups? Não é o que costumo observar na maioria das empresas que investem em inovação aberta.

Nós temos um braço de conexão com o mundo das startups que é o Órbi Connect, um hub de inovação que mantemos em parceria com a MRV e o Banco Inter. Lá nós temos acesso a diferentes empresas residentes e eventualmente fazemos parcerias com elas. E nós já fizemos aquisições de startups no passado. A mais importante delas foi a da empresa Mobi 7, que começou como uma startup de telemetria, mas que acabou criando o sistema de retirada digital que usamos hoje, o Fast.

Agora, no Labs, o objetivo é realmente outro: eu quero estimular a discussão técnica de tecnologia, debater novas arquiteturas, novos sistemas. O que a gente estamos fazendo na Localiza é tecnologia de ponta. Então, se pudermos trazer outras pessoas aqui que estão fazendo coisas parecidas, ou que sejam de outras áreas, para trocar figurinhas, ou nos trazer conhecimento, eu vou atingir meu objetivo, que é de desenvolver a competência de tecnologia da Localiza e construir aplicações melhores para os clientes.

Quais são as tecnologias sendo discutidas no Labs agora?

Nos últimos quatro anos a gente tem investido muito em IoT, internet das coisas. Hoje grande parte da nossa frota de 600 mil carros é conectada. Eu sei onde está o carro, eu sei como o cliente está dirigindo, eu sei em que condições ele deixa o carro depois. E isso tem nos ajudado a fazer uma melhor gestão dos ativos. Como eu garanto que esse carro está mais produtivo na maior parte do tempo? Como saber se está sendo bem cuidado? Porque, se eu quiser vender depois nos Seminovos e ele estiver em más condições, minha depreciação vai ser muito grande. Então cerca de 400.000 já contam com um software embarcado para a gente fazer essa gestão.

Mobile também é um dos grandes temas, em duas vertentes. Como criar serviços mais convenientes, para que o cliente complete a sua jornada de mobilidade com os nossos serviços? A outra vertente se refere ao celular como ferramenta de trabalho. Como ele pode me ajudar a organizar os carros dentro de uma agência? Como posso fazer a gestão de abastecimento, levando em conta que talvez sejamos um dos maiores compradores de combustível do Brasil? Então essas questões roam na dos nossos colaboradores que trabalham com aplicativos mobile.

E a inteligência artificial, também é tema de discussões?

Nós usamos IA há muito tempo: temos, por exemplo, um sistema de big data que a cada cinco minutos analisa as reservas e a disponibilidade de carros, para que a gente faça a reposição do estoque para os próximos 45 dias. Então acredito que o que está mais em jogo hoje é a IA generativa, baseada em modelos de linguagem. E aqui entre nós, existe um hype gigante sobre o tema, não é? Veja, eu fui para o MIT em setembro do ano passado para fazer um curso específico de generativa. Daí vejo muito release de empresas falando da tecnologia, mas quando você vai procurar, não está disponível no app, nem site. Então me arrisco a dizer que a esmagadora maioria do que está sendo feito hoje é experimental. É um jeito de você testar a tecnologia, de aprender com ela. Mas o foco está mais no aprendizado do que na real potencial de geração de valor para o seu cliente ou para sua linha produtiva.

É uma preparação.

Sim. Veja, nós entramos na lista de empresas no Brasil que está testando o Copilot em parceria com a Microsoft. Então estamos aprendendo como esse modelo de linguagem pode ajudar no dia a dia do pacote colaborativo, integrando a ferramenta nos processadores de texto e até nas áreas de comunicação, como o Microsoft Teams. Como usar para apoiar os desenvolvedores? E como usar esses mecanismos de inteligência artificial generativa para criar coisas tailor made para a Localiza? Então é um aprendizado. É o começo de uma tecnologia nova que vai mudar radicalmente o jeito como as empresas trabalham, nos próximos 2 a 5 anos. Então eu acho que o momento é de entender e monitorar os impactos potenciais, tentando entender como as corporações vão trabalhar com isso no futuro. O importante é participar dessa jornada. Não é o caso de lançar qualquer coisa, se não for para gerar um update importante na sua operação. A gente gosta de ser mineiro nesse assunto. Então é fazer mais, falar menos.

Ao longo da jornada de digitalização dos processos da empresa, algo deu errado?

Não deu exatamente errado, mas só conseguimos mesmo na segunda tentativa. Nós já tínhamos a opção de retirar o carro remotamente desde antes de 2020, mas a gente não conseguia aumentar a penetração do modelo. Por quê? Porque dependia de um GSM, um cartão de celular. Mas tinha a agência que ficava na estrada, ou em algum lugar subterrâneo, e daí não pegava o 4G. A solução foi parear o celular do cliente com o próprio carro, sem depender da conexão externa. E isso permitiu que a gente praticasse uma retirada digital eficiente, o que gerou um alto grau NPS de satisfação do cliente. Então começou errado, mas depois deu certo.

Tem algo que você gostaria que a Localiza fizesse, mas ainda não conseguiu? Algum exemplo de outra empresa que gostaria de seguir?

A Amazon é uma super referência e inclusive é um dos nossos grandes parceiros aqui em tecnologia. Se você me perguntar do ponto de vista de uma tecnologia específica tem tantas, mas eu acho que elas são meio, elas não são fim. O que eu mais me interesso é em como essas companhias conseguem pegar um negócio pequeno enorme. Como elas conseguem ter um modelo de trabalho de experiência contínua, até que consegue chegar na meta almejada? Putz, isso aqui agora tá pronto para estar no celular, no bolso de todo cidadão que quer fazer uma compra na internet, por exemplo. E aí explode. Porque parecem duas musculaturas diferentes. Uma da descoberta e do aprendizado, quase de artesanato. E a outra de gestão e distribuição massiva, de como colocar na mão de todos os clientes. Então é isso que eu quero aprender a fazer.

Fonte: Época Negócios

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