sábado,23 novembro, 2024

Multinacionais assumem compromissos públicos e apostam no cacau do Brasil para alcançar metas de sustentabilidade

Depois de pelo menos 30 anos vivenciando um cenário repleto de incertezas e dificuldades, a cadeia do cacau no Brasil começa a ingressar em uma nova era de otimismo e avanço na produção. No momento em que o mercado internacional é pautado em sustentabilidade e boas práticas agrícolas, o Brasil, enquanto importante fornecedor de alimentos, sente a pressão dos mercados cada vez mais exigentes, o cacau ganha destaque.

O cultivo, que tradicionalmente teve seu início na década de 60 no Brasil e em áreas amazônicas, naturalmente já é considerado sustentável, com potencial de manter as áreas preservadas e também de recuperar áreas degradadas. Neste sentido, as grandes empresas também voltam aos olhos para o Brasil e aliado aos compromissos adotados de sustentabilidade para os próximos anos, investem na ampliação da produção cacaueira do país.

Segundo dados do relatório de impacto divulgado no ano passado pela CocoAction Brasil, entre 2017 e 2021, R$ 132,5 milhões foram investidos por grandes empresas na cadeia do cacau no Brasil. “Investimento competitivo”, como nomeia o CocoAction, representa todo aquele em que a verba foi destinado para garantir sustentabilidade de ponta a ponta na cadeia: suporte aos produtores, subsídios para insumos, pesquisa, comunicação e concursos de qualidade.

O grupo prevê ainda que no período entre 2022 e 2026 pelo menos mais R$ 448 milhões sejam injetados na produção de cacau do Brasil. Somente em 2023, segundo levantamento realizado pelo Notícias Agrícolas, pelo menos R$ 100 milhões já foram anunciados em novos projetos para alavancar a produção. Neste montante, não estão contabilizados os investimentos das indústrias nas fábricas de chocolates – que também apresentam números significativos.

Guilherme Salata, porta-voz do CocoAction Brasil explica que é preciso avaliar todas as pontas da cadeia para entender a potência do Brasil e os motivos da indústria apostar no país e não nas maiores origens produtoras, como a África por exemplo.

“Existe uma demanda crescente por sustentabilidade, isso é fato e não é só no cacau, mas em toda cultura, com as leis europeias ficando mais rigorosas e consequentemente o cacau brasileiro passa a ser uma oportunidade para essas demandas. Porque de fato o contexto do cacau brasileiro, é uma cultura que conserva e o interesse pelos players, tanto as indústrias quanto as chocolateiras, isso é um fator que realmente desperta interesse já que a África tem os próprios desafios”, afirma.

Neste contexto, o Brasil passa a ser oportunidade para entender essa demanda internacional. Ao mesmo tempo, grandes indústrias multinacionais também assumiram compromissos públicos de sustentabilidade. “A maioria dos compromissos são para 2025, então naturalmente existe uma necessidade de se investir para também cumprir esses compromissos que foram assumidos. Esse é mais um gatilho que faz com que esses investimentos aumentem”, complementa.

Guilherme acrescenta ainda que o cultivo de cacau também está muito mais aliado à bioeconomia, que também integra essa série de compromissos. “Naturalmente o cacau também vem ganhando protagonismo nessa nova narrativa porque de fato é uma cadeia que tem potencial de geração de renda, tem potencial de conservação, tem uma demanda reprimida, tudo é favorável para a cadeia do cacau, que passa a ser também explorado por fundos internacionais e pelo governo”, complementa.

O Brasil tem a necessidade de avançar em termos de produtividade, apoio técnico aos produtores, acesso a linhas de crédito. Depois da vassoura de bruxa dizimar a produção nacional, é a primeira vez que o setor enxerga nas pautas de sustentabilidade a oportunidade de se reapresentar ao mercado internacional.

“Com o restabelecimento de um ambiente de confiança entre os atores, de promoção do diálogo e de cooperação, iniciou- se um processo de retomada das parcerias. Novos projetos começaram a fornecer assistência técnica aos produtores (em expansão), o crédito passou a aumentar de maneira consistente nos últimos anos, e expressivos investimentos estão acontecendo”, destacou o último relatório da CocoAction.

Do lado da indústria, Anna Paula Losi – presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), reconhece os investimentos e afirma que os projetos no longo prazo podem sim de fato colocar o Brasil em outro patamar no mercado internacional.

“O mercado começa a reconhecer que o Brasil tem potencial de configurar o mercado internacional não só na qualidade, mas principalmente pela sustentabilidade. O cacau recompõe floresta, neutraliza pegada de carbono e tudo isso faz com o que o olhar global se volte para o Brasil”, afirma.

Anna conta ainda que essa pressão não surge apenas das demandas internacionais, mas também no mercado interno já que cada vez mais as indústrias são pressionadas em comprovar as boas práticas agrícolas.

“Tem-se o compromisso na cadeia de que até 2030 as plantas industriais estejam apenas com cacau rastreável. Quando se olha para a África, por exemplo, apesar de não se ter o problema de desmantamento, lá a produção não está ligada à recuperação de áreas, é nesse momento que o Brasil se destaca”, acrescenta.

As lideranças do setor afirmam que o grande gargalo hoje na produção brasileira é o aumento de produtividade nas áreas já destinadas para o cacau. Mas, com esses investimentos, dentro de alguns anos será possível vislumbrar um Brasil menos dependente de outras origens.

“Podemos pensar em um futuro com o país tendo amendôa suficiente para atender o mercado interno e até mesmo pensar em conquistar a exportação. Na Europa, por exemplo, o cacau precisará atender todas essas novas regras. No final, é tudo demanda do consumidor e o Brasil pode atender se aumentar essa produtividade”, complementa.

Enquanto os investimentos chegam, o setor vai trabalhando nos bastidores para avançar junto aos governos estaduais e federais em melhorar o acesso ao crédito para esse produtor, as políticas de contratação, no mesmo período em que se é trabalho os mecanismos de rastreabilidade.

“Se quiser acessar o mercado internacional tem que ter todos os processos muito bem idealizados. E para isso é ensinar o produtor a fazer gestão não só na sua lavoura, mas também nas outras áreas da fazenda. O positivo é que estamos todos juntos trabalhando em busca dessa autossuficiência e posicionamento do Brasil”, acrescenta.

Fonte: Noticias Agrícolas

Redação
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