Tradicionalmente, no Dia Internacional da Mulher, o 360 News destaca histórias de mulheres que impulsionam a inovação no Brasil. Conversamos com Naiara Galliani, Gerente Executiva de Tecnologia e Inovação do Senai Mato Grosso, que compartilhou sua trajetória e visão sobre o impacto da tecnologia na indústria.
Natural de Panorama, no interior de São Paulo, Naiara iniciou sua jornada acadêmica no Paraná, onde cursou Engenharia. Sua trajetória profissional começou na indústria, ainda como estagiária em uma multinacional de embalagens plásticas. Desde então, passou por diferentes segmentos industriais, adquirindo uma visão ampla sobre os desafios e oportunidades do setor.

Com 14 anos de atuação no Senai Mato Grosso, Naiara hoje ocupa um cargo estratégico da instituição. Como gerente executiva, ela lidera as iniciativas voltadas à tecnologia e inovação, um dos pilares fundamentais do Senai, ao lado da educação. Seu trabalho impulsiona a modernização das indústrias e contribui para o desenvolvimento do setor produtivo no estado.
Entre idas e vindas do Paraná para Mato Grosso, Naiara também empreendeu. Até que surgiu a oportunidade de atuar como professora no Senai. Confira a entrevista completa:
360 News: Como começou sua jornada no mundo da inovação e o que despertou o seu interesse para esse campo?
Naiara: Sempre há um problema a ser resolvido, sempre essa vontade de melhorar, de buscar soluções. Para mim, uma palavra essencial na inovação é relevância. Acredito que temos apenas uma vida, e ela precisa ser boa – para nós e para os outros. Sempre há espaço para evoluir.
Na sala de aula, me perguntava: como fazer meus alunos gostarem das aulas? Fiz uma pós-graduação em didática do ensino porque me incomodava. Minhas aulas eram monótonas. E eu pensava: Poxa, eu sou uma pessoa legal, estou me preparando, mas não estou conseguindo engajar. Foi aí que percebi que inovar é correr atrás do sim. Meu “sim” naquele momento era transformar a aula em algo realmente envolvente.
Acredito que o saber precisa ter sabor. E a vida também. Mas quais eram os temperos certos para tornar o aprendizado mais interessante? Esse era o problema que eu queria resolver. E encontrei vários temperos ao longo da jornada. Tenho orgulho dessa trajetória como professora, porque sinto que trouxe inovação para a prática.

360 News: O que te motivou a transformar esse incômodo com a educação tradicional em um impulso para inovar na forma de ensinar?
Naiara: Um ponto de inquietação sempre esteve presente para mim: como tornar a aula interessante e envolvente? Nunca fui fã de estudar, nunca gostei do ambiente tradicional da sala de aula – sempre achei monótono. Então, como transformar esse processo em algo estimulante e divertido?
Acredito que essa inquietação, esse incômodo constante, sempre fez parte da minha identidade e do meu comportamento. E, para mim, essa insatisfação é o ingrediente essencial da inovação. O espírito inovador nasce justamente desse incômodo.
360 News: Qual foi a sua escolha de curso na faculdade e por que essa decisão? Quais experiências, além do aprendizado acadêmico, marcaram sua trajetória e ainda influenciam sua vida hoje?
Naiara: Eu saí de casa para ser jogadora de vôlei, então antes de tudo, eu fui atleta. Essa experiência me desenvolveu uma habilidade essencial: o trabalho em equipe. No vôlei, o ponto da minha colega era o meu ponto também. Estávamos na mesma equipe, com o mesmo objetivo: vencer o jogo.
Mais tarde, a faculdade me ajudou a desenvolver outra habilidade fundamental: a resiliência. Nada era impossível. Sempre acreditei que poderia superar os desafios e concluir a graduação. Escolhi Engenharia Química, mas até hoje, na minha cidade, muita gente ainda acha que me formei em Educação Física, já que saí de lá como atleta profissional e voltei como engenheira química.
Sempre gostei de esportes e do espírito coletivo, mas também tinha facilidade com exatas. No fundo, buscamos caminhos em que acreditamos ter mais afinidade. Matemática, Física e Química eram naturais para mim – não precisava estudar muito, bastava pensar. O que sempre me instigou foi o desafio de resolver problemas. E um dia, uma professora me disse que Engenharia Química era um dos cursos mais difíceis. Aquilo me desafiou.
Na faculdade pública, enfrentei desafios desde o início, sem facilidades dos professores. Isso me ensinou a lidar com dificuldades, tornando a experiência mais desafiadora do que qualquer obstáculo na vida profissional.

360 News: Como foi a sua trajetória até alcançar a posição de gerente de inovação no Senai?
Naiara: Tem um livro chamado O Andar do Bêbado, de Leonard Mlodinow, que fala sobre o impacto da aleatoriedade na nossa vida. A ideia é que, assim como o andar de um bêbado, o próximo passo é incerto. Vejo minha trajetória profissional dessa forma.
Eu estava satisfeita como professora e queria melhorar minha aula. Nesse contexto, descobri o papel de interlocutora de inovação no Senai, incentivando os alunos a resolver problemas, apresentar ideias e usar ferramentas como o Business Model Canvas. Eu gostei de aprender e ensinar esses conceitos.
Na indústria, o progresso ocorre pela adoção de tecnologias. A missão do Senai é elevar a competitividade industrial por meio da tecnologia, seja ensinando, aplicando ou desenvolvendo inovação. Sempre buscamos estimular esse pensamento nos alunos.
Foi assim que comecei, e esse papel despertou em mim o interesse pela consultoria. Como professora, meu foco era a sala de aula; como consultora, passei a atuar diretamente com empresários, ajudando a melhorar produtividade, reduzir desperdícios e resolver desafios como eficiência energética e segurança alimentar.
Depois eu fui convidado para ir ao Senai do Espírito Santo para estruturar, inaugurar e liderar o primeiro hub de inovação do Senai no Brasil. Passei quatro anos lá, consolidando esse projeto. Depois, retornei ao Mato Grosso, onde estou há dois anos, com a missão de reorganizar a área de tecnologia e inovação, agora com um foco voltado para a agroindústria, setor essencial para o desenvolvimento econômico do estado.

360 News: Quais são os principais fatores necessários para que a inovação aconteça e como viabilizar esse processo na prática?
Naiara: Quando falamos de inovação, gosto de usar uma frase que define bem esse processo: para que a inovação aconteça, é preciso cérebro, braço e bolso. O cérebro representa a competência técnica, e no nosso caso, contávamos com alunos e professores capacitados. O braço simboliza a disponibilidade e a infraestrutura, como os laboratórios, que também estavam à nossa disposição. O bolso refere-se ao financiamento, pois normalmente as empresas não investem em algo incerto, mas existem diversas fontes de recursos e subvenções econômicas que podem ser acessadas. Foi assim que estruturamos um projeto, captamos recursos e, a partir disso, conseguimos desenvolver um trabalho que trouxe melhorias e agregação de valor para a indústria.
360 News: Como a sua forma de aprender e lidar com desafios influenciou sua trajetória na inovação e sua maneira de encarar opiniões externas?
Naiara: Acredito que quem trabalha com inovação precisa gostar de desafios, pois, no fundo, gosta de aprender. Sempre valorizei o aprendizado, mas de um jeito próprio – gosto de ler, ouvir palestras, pensar e estruturar ideias. Cada um tem seu estilo de aprendizado, e respeitar essa individualidade é essencial.
Outro aprendizado importante foi valorizar minha trajetória e me preocupar menos com a opinião dos outros. Não é fácil, mas tem um efeito muito positivo. No fim, é sobre ter clareza dos próprios princípios e seguir firme no caminho escolhido.
360 News: Qual o conselho para quem está começando nessa carreira?
Naiara: Estar conectado com pessoas que contribuem para sua jornada é essencial. No meu caso, essa conexão aconteceu de forma natural, sem planejamento, e me trouxe grandes oportunidades. Conheci pessoas que admiro e respeito profundamente. Para quem busca atuar com inovação, é fundamental estudar, participar de eventos e se conectar com aqueles que compartilham um mindset semelhante. Trabalhar com inovação significa enfrentar desafios, lidar com o novo e se adaptar constantemente às mudanças. Por isso, estar cercado de pessoas com um comportamento alinhado ao que você deseja desenvolver faz toda a diferença.

A trajetória de Naiara é um exemplo de como as mulheres têm ocupado espaços estratégicos no setor industrial e tecnológico. Em um mercado tradicionalmente dominado por homens, sua liderança reforça a importância da diversidade e da inovação como motores do progresso.
Histórias como a de Naiara mostram que, com dedicação e visão de futuro, as mulheres podem transformar o cenário da tecnologia e da indústria. Seu trabalho no Senai Mato Grosso reflete o impacto positivo da inovação no crescimento econômico e na qualificação profissional.