Mulheres avançam na ciência e tecnologia, mas desafios persistem. Inclusão e políticas públicas são chave para um futuro mais diverso e inovador
O Brasil tem avançado significativamente na inclusão das mulheres no mercado de trabalho, mas quando se trata de ciência e tecnologia, a realidade ainda é desafiadora. A trajetória feminina nesses campos é repleta de barreiras muitas vezes invisíveis para quem não acompanha de perto as dinâmicas de gênero no cenário científico e empreendedor.
Nos últimos anos, houve um crescimento expressivo na presença feminina no ensino superior. Dados da CAPES mostram que, entre 2022 e 2025, o número de bolsas de pesquisa para mulheres no Brasil aumentou em mais de 10%, passando de 42 mil para 50 mil. Esse avanço demonstra uma maior adesão feminina à ciência. No entanto, em áreas como computação e engenharia, a presença feminina ainda é tímida. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2022, apenas 15,7% dos estudantes de tecnologia da informação eram mulheres.
A desigualdade de gênero também se manifesta na produção científica. As mulheres publicam mais artigos em áreas tradicionalmente associadas ao cuidado, como enfermagem (80%), farmacologia e toxicologia (62%) e psicologia (61%). Já em tecnologia e engenharia, a representatividade feminina ainda é baixa – apenas 21% das publicações científicas em ciências da computação e 24% em engenharia foram assinadas por mulheres entre 2018 e 2022, segundo o relatório da Elsevier-Bori.
Essa sub-representação tem um impacto direto na forma como a inovação é desenvolvida e implementada. O viés de gênero na ciência e na tecnologia afeta desde a escolha dos problemas a serem resolvidos até as soluções criadas. No entanto, há sinais positivos de mudança. Mulheres estão rompendo barreiras e conquistando destaque no cenário global, como Jaqueline Goes de Jesus, a cientista brasileira que sequenciou o genoma do coronavírus em tempo recorde.
Para que mais mulheres cheguem ao campo da ciência e da tecnologia, não basta apenas boa vontade – são necessárias políticas públicas e ações concretas. Programas de mentoria, fomentos voltados para empreendedoras e ambientes acadêmicos e corporativos mais inclusivos são algumas das medidas que podem acelerar essa transformação.
O Brasil tem um enorme potencial para avançar nesse movimento. Mas para que isso aconteça, é fundamental enfrentar as barreiras históricas e culturais que ainda afastam mulheres dos espaços de construção do futuro. Uma sociedade que valoriza e promove a equidade de gênero na ciência e na tecnologia não apenas corrige injustiças históricas, mas também impulsiona o desenvolvimento tecnológico e econômico de forma mais diversa, justa e eficiente. Quando as mulheres ocuparem igualmente estes espaços, a inovação será mais representativa e, consequentemente, mais transformadora para todos.
Por Ana Calçado