Criada na agricultura familiar, Geniane Tavares aprendeu quase tudo o que sabe com os pais: da importância de cuidar bem das mudas antes de fincá-las no solo até a paciência de ver o trabalho crescer e dar frutos. Mas esse conhecimento foi ficando de lado nos últimos anos, quando ela estava trabalhando como caixa de supermercado no município de Mãe do Rio, nordeste do Pará. “Quando soube que tinha um projeto de reflorestamento chegando na cidade, não pensei duas vezes: imprimi meu currículo e vim para a porta da fazenda debaixo de chuva mesmo. Hoje, posso dizer que realizei meu sonho de trabalhar com a floresta, fazendo o que amo e ajudando a tornar a Amazônia um ecossistema mais forte e saudável. É um resultado a longo prazo e que meus filhos e netos verão”, diz ela.
Geniane faz parte de um grupo de 50 pessoas que trabalha na Mombak, empresa que quer capitanear um movimento de reflorestamento em larga escala na Amazônia, com o objetivo de sequestrar carbono da atmosfera. A meta é retirar um milhão de toneladas de carbono por ano a partir de 2030. Somente na primeira fazenda do projeto, em Mãe do Rio, 550 mil árvores já foram plantadas nos últimos três meses. E, nos próximos três, outras 450 mil devem se juntar a elas. Assim, as empresas que emitem carbono demais para a atmosfera podem comprar créditos de carbono da Mombak, para compensar as emissões enquanto financiam o plantio de árvores.
“Apenas evitar novas emissões já não é o suficiente para mitigar os sofrimentos do ser humano em relação às mudanças climáticas. É preciso retirar o carbono da atmosfera. E reflorestar é o caminho”, diz Peter Fernandez, co-fundador e diretor executivo da Mombak.
Do mundo digital para a floresta
Antes de fundar a Mombak, Fernandez trabalhoou como diretor-executivo da 99, a primeira startup brasileira a alcançar um valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Para encarar o desafio de reflorestar a Amazônia, se juntou a Gabriel Haddad Silva, ex diretor financeiro do Nubank que passou os últimos dez anos recortando tudo o que encontrava sobre meio ambiente e mudanças climáticas nos jornais, como se estivesse montando um moodboard do Pinterest. “Não me apego a setores. Sou empreendedor e gosto de resolver desafios e problemas reais”, diz.
Uma muda de cada vez
Quem chega à Fazenda Turmalina, onde a Mombak se instalou, nota que a área de quase três mil hectares foi agredida pela criação de pastos dedicados à pecuária. A linha do horizonte é um corte preciso entre um céu azul caloroso e a floresta remanescente do local, que corresponde a 10% da fazenda. Para devolver o verde para os 90% restantes, a primeira parte da estratégia é plantar mudas. De todos os tipos.
“É um balanço entre espécies que crescem rápido, de ciclo de vida curto, mas que sequestram bastante carbono no início e estão acostumadas a bastante sol, que é a condição de um pasto. Elas crescem e criam clima e estrutura para que outros tipos de espécie, que demoram mais a crescer e sequestram muito mais carbono, apareçam e vivam 100, 200, 500 anos. É uma substituição ao longo do tempo. Começamos com espécies de recobrimento e combinamos com espécies nativas. A gente simula o processo da natureza”, diz Renato Crouzeilles, diretor de ciências da Mombak.
A segunda parte da estratégia é a aposta na regeneração passiva e na regeneração natural assistida. Com mais floresta crescendo ao redor de áreas desmatadas, melhores são as condições do solo, mais animais que dispersam sementes são atraídos para o local – e mais propício fica o clima da região. E então, as áreas de pasto vão se recuperando. É uma prática que garante escala ao projeto de reflorestamento e que na Amazônia encontra condições ideais: há pelo menos 5,2 milhões de hectares em processo de regeneração natural sem competir com o cultivo de grãos no bioma e em áreas abertas de forma rasa no passado, segundo a pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Andreia Pinto.
“Toda tentativa de solução é um pacote. É preciso conservar o que está de pé, mas também reflorestar e dar uma ajudinha na regeneração. O papel desse mercado de carbono é importante, pois provoca agentes públicos a garantirem mais ordenamento territorial e segurança jurídica na região amazônica, além de gerar emprego e renda. Quem está começando agora assume um risco de entrar em um mercado pouco explorado, mas muito provavelmente se tornará exemplo de sucesso no futuro, com práticas cada vez mais replicadas”, ela prevê.
Crescimento rápido
Quase todas as mudas são plantadas em tubetes biodegradáveis. Elas são plantadas em linhas distantes três metros e meio uma da outra, com um 1m70 de espaçamento para cada árvore, para que elas possam crescer confortáveis e com espaço. Com menos de quatro meses após o plantio, já é possível ver algumas mudas ultrapassando um metro e meio de altura e com os caules ganhando madeira durinha. Para Alex Santos, ver as plantas crescendo é a melhor parte do trabalho.
“Não é todo emprego que a gente vê o resultado do nosso esforço assim, de maneira tão palpável. Me sinto privilegiado porque estamos construindo um futuro melhor. A vida não é só usufruir do que a natureza dá. Temos que cuidar dela também. Já trabalhei na área de extração florestal e poder virar essa chave me fez pensar sobre a importância de pensar no bem comum. Muitos dizem que esse é o futuro, mas, na verdade, já é o presente”.
Texto: Eduardo Laviano, Um Só Planeta