sábado,23 novembro, 2024

Minas Gerais vai usar dados e IA para prever eventos climáticos e responder melhor a eles

Nos últimos anos, Minas Gerais tem sido palco de uma série de eventos climáticos adversos e desastres ambientais sem precedentes. Em 2019, o rompimento de uma barragem operada pela Vale em Brumadinho deixou cerca de 270 mortos. A partir de 2020, problemas causados pela crise climática se agravaram. De 2021 a 2022, o estado sofreu com uma quantidade anormal de chuvas, deixando mais de 400 municípios em situação de emergência e 70 mil pessoas desabrigadas, afetando principalmente famílias de baixa renda.

Com o clima cada vez mais imprevisível e a ressaca de anos tão atípicos, a Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (SEDESE-MG) decidiu recorrer à tecnologia para evitar surpresas desagradáveis e elaborar com precisão ações de prevenção, principalmente em áreas de deslizamento. Foi daí que surgiu o primeiro projeto do país capaz de prever desastres naturais por meio de inteligência artificial.

Mapeia Minas é um programa capaz de monitorar barragens, enchentes, secas e outros eventos climáticos extremos, utilizando uma tecnologia inédita no país. Para responder às demandas sociais com maior facilidade, ele está integrado à localização das famílias que contam com assistência do governo — como pessoas ribeirinhas, em situação de vulnerabilidade ou em áreas de risco.

Na prática, o programa fornece um cruzamento de dados que traz previsibilidade e agilidade ao governo. Com os dados geológicos e metereológicos, é possível localizar as áreas de risco antes dos eventos climáticos e traçar planos preventivos ao lado da Defesa Civil. A ferramenta também conta com o servidor do CadÚnico — com todas as famílias de baixa renda registradas — dando às autoridades um mapeamento de onde estão as pessoas mais suscetíveis a precisar de ajuda.

Elder Gabrich, assessor especial da SEDESE de Minas e um dos idealizadores do projeto, explica que a tecnologia surgiu como uma forma de apoiar a política de assistência social, que não tinha como dar respostas rápidas para as pessoas necessitadas. O ano de 2021 atípico serviu como gatilho para buscar uma mudança.

“Nessas famílias existem crianças, idosos, pessoas com deficiência e pessoas com mobilidade reduzida, e precisávamos criar um plano de ação para conseguir dar uma resposta mais rápida a todas essas pessoas”, afirma Gabrich.

Em conjunto com Wesley Matheus, atual Chefe de Gabinete da Secretaria Nacional de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos (SMA/MPO), começou a se pensar em meios de viabilizar ações preventivas por meio do mapeamento das áreas mais suscetíveis a serem afetadas pelas chuvas.

Tecnologia de prevenção

Com o problema e o plano de ação já em mente, Matheus, que já havia trabalhado anteriormente com prevenção de desastres, e Gabrich buscaram a parceria da AWS, braço de serviços computacionais em nuvem da Amazon, e da SoftwareOne, empresa que empregou mais de 600 horas no desenvolvimento do programa.

Além de ajuda no financiamento, as duas empresas chegaram a uma ferramenta de georreferenciamento e análise de dados capaz de aprimorar a tomada de decisões dos entes governamentais, e que agora deve servir de inspiração para outros estados.

Gabriel Luiz Santos de Oliveira, cientista de dados da equipe do Escritório de Dados da SEDESE, explica a importância da novidade. “Fomos capazes de criar um sistema que atende às duas pontas: a gestão de risco e a de desastres. Temos informações para tomar decisões baseadas em evidências, tanto para promover políticas públicas preventivas, quanto para apoiar as famílias vulneráveis após o evento climático, o que é algo pioneiro no Brasil”, diz.

Mapeia Minas: desenvolvimento e expansão

Segundo Cleyton Leal, líder de serviços de aplicativos da SoftwareOne, o tipo de solução desenhada em parceria com a SEDESE já é comum em países desenvolvidos, como os Estados Unidos.

Para desenvolver o programa, a companhia realizou o tratamento de dados de localização em nuvem. Depois, amostras do banco de informações do CadÚnico — que contém o registro das famílias de baixa renda de todo o Brasil — foram integradas. O sistema também está vinculado aos alertas enviados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A ideia é que o projeto siga para outras regiões do país. A próxima parada devem ser os estados que fazem parte do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud).

Para Leal, Minas Gerais é o primeiro grande teste. O objetivo é que as informações cheguem corretamente para todos os municípios do estado já no próximo período chuvoso, entre outubro e março. “É possível reduzir as perdas da população, impactando diretamente a qualidade de vida da sociedade”, finaliza.

Além do governo de Minas Gerais, o programa também conta com o apoio e participação do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil-MG e entidades que atuam em prol da causa climática.

Por Jasmine Olga

Redação
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