Uma imagem do Papa Francisco vestindo uma jaqueta puffer branca deu o que falar nas redes sociais neste fim de semana. Muitos internautas – e até veículos tradicionais, como a Vogue – acreditaram que se tratava de um novo estilo adotado pelo pontífice. A imagem trata-se, no entanto, de um deepfake. Uma espécie de conteúdo sintético criado a partir da inteligência artificial – nesse caso, por meio da plataforma Midjourney, ferramenta que gera ilustrações realistas a partir de descrições.

A imagem do Papa Francisco foi criada pelo artista Pablo Xavier, de 30 anos, no Midjourney. Pablo começou a criar no ano passado artes de personagens famosos vestindo peças fashionistas de streetwear, como o Papa Francisco, Joe Biden, Oprah Winfrey, Barack Obama e Donald Trump.

O uso de inteligência artificial para criação de textos e imagens se popularizou nos últimos meses com a chegada de plataformas generativas hiperrealistas, como Dall-E, Stable Diffusion e o Midjourney. Este último pertence a uma startup de mesmo nome criada por um laboratório de pesquisa independente com sede em San Francisco, nos Estados Unidos.

O Midjourney foi criado por David Holz, cofundador da Leap Motion. O laboratório conta com onze funcionários trabalhando em tempo integral e um conselho formado por quatro renomados consultores. Entre eles estão engenheiros do Vale do Silício – incluindo o CEO do GitHub, o fundador do The Second Life, o criador do Avid Technology e um executivo com passagens pela Apple, Tesla e Intel.

“Somos uma pequena equipe autofinanciada focada em design, infraestrutura humana e IA”, informa a startup. Segundo o site da empresa, o Midjourney “explora novos meios de pensamento e expande os poderes imaginativos da espécie humana”.

A preocupação com direitos autorais e a origem dos dados utilizados para a geração de imagens costumam rondar as plataformas de inteligência artificial generativa.

Em entrevista à Forbes, David Holz afirmou que a plataforma utiliza conjuntos de dados abertos, mas admitiu que não recebeu consentimento dos criadores da arte em que o modelo foi treinado. Holz também disse que espera poder oferecer aos artistas no futuro a opção deles recusarem o uso de suas imagens para geração de novos conteúdos visuais.

Na mira do Google
Em meio à corrida das Big Techs pelas melhores tecnologias baseadas em IA, o Midjourney entrou na mira do Google, do grupo Alphabet, que já anunciou estar investindo na empresa. No dia 14 de março, a companhia informou que contratou uma enxurrada de startups de inteligência artificial para seu serviço em nuvem Google Cloud, incluindo Midjourney e o AI21, uma startup israelense especializada em Modelo de Linguagem em Grande Escala (LLM) – rival da OpenAI, dona do popular ChatGPT.

A tecnologia da inteligência artificial generativa tem suas controvérsias, mas seu apelo e acessibilidade ajudaram a proliferar plataformas que a cada dia ganham novas atualizações e conquistam mais usuários.

Embora ainda em testes, a plataforma do Midjourney recebeu uma atualização no último dia 15 e promete resultados ainda mais realistas.

Como acessar o Midjourney?
A ferramenta do Midjourney está disponível como um bot no Discord, um aplicativo estilo fórum de bate-papo. Para usá-la, é preciso baixar seu software e criar uma conta na plataforma.

Ao realizar o login e autorizar o acesso pela plataforma, o usuário é redirecionado para uma sala Discord com outros usuários. Uma vez no bate-papo, deve-se digitar “imagine/” para ativar o código que executa ações. Em seguida, basta digitar palavras em inglês para montar sua arte personalizada. Em alguns segundos, o sistema começa a gerar quatro opções de ilustração.

No formato gratuito, o usuário pode realizar 25 consultas. Para continuar usando o programa, porém, é preciso criar uma assinatura que custa entre US$ 8 e US$ 60 por mês, a depender do plano escolhido.