Pesquisadores da Embrapa Café (DF) e do Instituto Agronômico (IAC) desenvolveram um método simples e sensível para diferenciar variedades do grupo Bourbon de outras de café arábica plantadas no País
A metodologia se baseia em marcadores genéticos do tipo microssatélites ou simple sequence repeat (SSR), e seu detalhamento está publicado no Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 6, disponível no site da Embrapa. O trabalho foi realizado no âmbito do Consórcio Pesquisa Café e contou com recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé).
O café Bourbon é uma variedade do Coffea arabica, originário da ilha de Reunião (antigamente denominada Bourbon), a leste de Madagascar. É preferido por suas características sensoriais com sabor mais doce e suave, que se assemelham ao chocolate e à avelã. As cultivares de Bourbon são menos produtivas e mais suscetíveis a pragas e doenças, se comparadas com outros materiais comerciais de café arábica, e são destinadas ao nicho de cafés especiais. Os consumidores desse tipo de bebida têm demandado do setor produtivo maior transparência das informações relacionadas ao produto.
“Essas informações solicitadas vão muito além do tipo de torra e da espécie ofertada. Elas incluem a origem do material genético, o sistema de produção e processamento, aspectos físicos e sensoriais, rastreabilidade da produção, entre outras”, explica Lilian Padilha, pesquisadora da Embrapa (foto à direita) e líder do projeto. Segundo ela, exportadores de cafés especiais muitas vezes têm dificuldade de garantir ao comprador que seu produto é realmente Bourbon. “O que é exportado é o grão e a olho nu não é possível fazer essa diferenciação em relação às demais cultivares”, afirma.
Como é a técnica
Nesse trabalho de pesquisa, o primeiro passo dos pesquisadores foi identificar o marcador genético que diferencia materiais do grupo Bourbon de outras cultivares. Eles chegaram então ao alelo SSR-LEG2. Em seguida os cientistas buscaram confirmar o poder de discriminação desse marcador. Ele foi utilizado para avaliar a pureza de amostras de folhas e sementes obtidas de plantas identificadas como cultivares antigas do grupo Bourbon.
Até o momento, a discriminação dos materiais tem sido feita a partir das características fenotípicas e agronômicas. “Mesmo com a experiência do melhorista, alguns materiais podem ser confundidos na lavoura. Assim, a confirmação de materiais do grupo Bourbon em campo é outra aplicação que pode ser realizada com a utilização do SSR-LEG2. “Uma vez que C. arabica é uma espécie autógama [que realiza autofecundação], os próprios produtores costumam multiplicar seus melhores materiais identificados como do grupo Bourbon, os quais, muitas vezes, podem ser confundidos com outros materiais de porte alto, como Mundo Novo”, exemplifica Lilian Padilha.
Esse foi o caso de uma análise de amostras de folhas coletadas nas áreas experimentais de Franca e Brodowski no estado de São Paulo. O marcador ligado ao grupo Bourbon (alelo SSR-LEG2) foi encontrado apenas em amostras oriundas de Franca, e não observado nas amostras de Brodowski. E entre o total das 182 amostras de Franca, o alelo do grupo Bourbon foi observado em apenas 67 amostras.
Os resultados da pesquisa demonstram que o marcador SSR-LEG2 pode ser incorporado em análises de pureza genética de amostras de folhas ou sementes de cultivares de C. arabica, visando ao controle de qualidade de estoques genéticos de materiais elites de programas de melhoramento, bem como à checagem da pureza de sementes ou grãos verdes destinados à comercialização. “Essa técnica é caracterizada pela simplicidade e rapidez”, avalia a pesquisadora.
O café Bourbon
No Brasil, são cultivados dois tipos de Bourbon, os de frutas vermelhas e de frutas amarelas. No Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura e Pecuária, além do ‘Bourbon Vermelho IAC 662’, estão registradas sete cultivares de Bourbon Amarelo 7, todas do Instituto Agronômico (IAC).
O café Bourbon está inserido na classificação de cafés diferenciados, que recebem essa distinção por possuírem qualidade superior; também recebem essa classificação cafés que possuem alguma certificação de práticas sustentáveis. Esses produtos corresponderam a 17% das exportações totais brasileiras em 2022, chegando a 6,7 milhões de sacas.
Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). De acordo com a instituição, o preço médio do produto diferenciado ficou em US$ 281,26 por saca, proporcionando uma receita de US$ 1,885 bilhão nos 12 meses, equivalente a 20,4% do obtido com os embarques totais. No comparativo anual, o valor é 18,5% maior do que o apurado em todo o ano de 2021.
No ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados no ano passado, os Estados Unidos estão na ponta, com a importação de 1,6 milhão de sacas, alcançando 23,9% do total desse tipo de produto exportado. Na sequência, vêm Alemanha, com 1,2 milhão de sacas e representatividade de 17,4%; Bélgica, com 846 mil sacas (12,6%); Itália, com 410 mil sacas (6,1%); e Japão, com 310 mil sacas (4,6%).
Fonte: Embrapa Café