O dispositivo evita a compressão dos seios e a radiação presente na mamografia convencional, facilitando rastrear o câncer de mama.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) desenvolveram um novo dispositivo para exames das mamas que usa micro-ondas no lugar do raio-X e dispensa a necessidade de compressão do peito da mamografia convencional. A novidade, revelada recentemente, também possui custo baixo.

Apresentando formato que lembra um sutiã, o aparelho foi inspirado em um mecanismo semelhante ao dos radares. Ele transmite um sinal e, ao recebê-lo de volta, usa ondas eletromagnéticas para registrá-lo, permitindo a formação da imagem que pode ajudar no rastreamento do câncer de mama.

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O dispositivo se assemelha a um sutiã. (Imagem: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP/Reprodução)

Como funciona a mamografia por micro-ondas?

A tecnologia criada pelos pesquisadores brasileiros é baseada em ondas iguais às emitidas por celulares e fornos micro-ondas, além do Bluetooth, de acordo com o professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, Bruno Sanches. Isso torna o sistema menos agressivo à saúde.

  • Operado manualmente, o aparelho dispara um pulso eletromagnético que atravessa a pele da paciente;
  • Essas ondas são capazes de identificar as densidades dos tecidos que formam a mama;
  • O sinal refletido é captado por um microchip, enquanto um algoritmo entra em ação para processá-lo, criando um mapa indicando se há a presença de tumores e onde eles estão;
  • A técnica inclui uma interface com computador, possibilitando visualizar as imagens feitas;
  • O exame é feito de maneira circular, em volta da mama, sem apertá-la, eliminando o desconforto do método tradicional.

Ainda de acordo com o líder do projeto, a tecnologia se diferencia da mamografia atualmente usada por oferecer diferentes ângulos de registros, “da ordem de, talvez, 64, ou até centenas de ângulos”, afirmou ao site da USP. Ele também disse que o método lembra o exame de ultrassom.

Outro detalhe sobre o mamógrafo desenvolvido pelos especialistas da USP e do IFSP é que ele possui uma utilidade ainda maior no caso das mulheres com seios densos. Nelas, o exame convencional pode falhar, dificultando a detecção dos tumores, caso eles existam.

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O exame é baseado em micro-ondas. (Imagem: Revista Pesquisa FAPESP/Reprodução)

Custo reduzido e outras vantagens

Desenvolver um equipamento acessível para todos, que permita o acompanhamento constante da saúde, é outro objetivo do projeto. Enquanto uma máquina de mamografia tradicional pode custar até US$ 240 mil, o equivalente a R$ 1,3 milhão pela cotação do dia, o protótipo exige gastos de apenas US$ 175, ou R$ 997, para ser produzido.

Além do menor custo de produção, a novidade não depende de um radiologista para ser operada, o que também ajuda a tornar o exame mais barato, de uma forma geral. Outra vantagem é a realização do procedimento sem a utilização de qualquer medicamento ou contraste químico.

Vale destacar, ainda, a mobilidade, oferecendo facilidades para transportar o equipamento para qualquer lugar, inclusive áreas remotas nas quais o acesso aos hospitais não é tão simples. Os pesquisadores planejam até mesmo criar uma versão doméstica do aparelho, que permitiria o autoexame.

“A gente fica muito feliz de colocar o Brasil no mapa dos seletos países que têm essa tecnologia. São bem poucos. Hoje em dia a mamografia é uma tecnologia que pode ser muito benéfica”, explicou Sanches. No momento, o dispositivo ainda está em fase de testes.

Por: André Luiz Dias Gonçalves