Dos dez municípios que mais emitem gases de efeito estufa no Brasil, oito estão na região da Amazônia.
A constatação é da segunda edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) Municípios, feito pelo Observatório do Clima, para estimar as emissões anuais do país.
Para o relatório, o sistema calculou a produção de gases como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) nos 5.570 municípios do país de 2000 até 2019.
De acordo com o SEEG Municípios, as cidades com maiores emissões estão localizadas exatamente onde o desmatamento é a principal fonte dos gases de efeito estufa.
Altamira, no Pará, aparece em primeiro, com mais de 35,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e) emitidos nas duas décadas. Em seguida, aparecem São Félix do Xingu (PA), Porto Velho (RO), Lábrea (AM) e São Paulo (SP).
Juntas, as dez cidades acumulam mais de 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente – o que, segundo o relatório, é maior do que as emissões de países como o Peru e a Holanda.
As estimativas são geradas segundo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base nos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Para o relatório, o sistema analisou diversas fontes de dados de todos os 5.570 municípios do país para realizar os recortes e analisar as principais causas das emissões de gases de efeito estufa.
Emissões per capita
De acordo com o SEEG Municípios 2022, a região da Amazônia concentra o ranking de emissões per capita no país. Dos dez municípios com mais emissões por habitante, seis estão no Mato Grosso, três no Pará e um no Amazonas.
Em Novo Progresso, no Pará, por exemplo, a emissão é de 580 toneladas de dióxido de carbono por ano – o que, segundo o relatório, é 14 vezes a emissão feita por um cidadão no Qatar, por exemplo, que é considerado o país com maior quantidade de carbono per capita.
“É como se cada morador de Novo Progresso tivesse mais de 500 carros rodando 20 km por dia com gasolina. A média global é de 7 toneladas de CO2e ao ano por habitante”, informa o relatório.
A cidade é a sétima que mais emite gases de efeito estufa no país.
A relação entre gases de efeito estufa e o desmatamento
Dentre os dez municípios, quatro estão no Pará: Altamira, São Félix do Xingu, Pacajá e Novo Progresso. E oito estão na região da Amazônia Legal, sendo o Rio de Janeiro e São Paulo os únicos fora da região amazônica.
Segundo o SEEG Municípios, na análise por setor responsável pelas emissões, todos apontados como principais na mudança de uso da terra e florestas estão na região.
Essas 10 cidades da Amazônia também representam 21% do total de emissões nacionais causadas pela mudança do uso de terra.
A região Norte é responsável por 60% das emissões do setor.
De acordo com a plataforma Terra Brasilis, que reúne dados do DETER do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pará é o estado que concentra área desmatada na região.
Na plataforma, que reúne dados de agosto de 2015 e foi atualizada até o dia 03 de junho de 2022, o estado acumula 771,9 km² apenas neste período.
É a unidade federativa que lidera o desmatamento na Amazônia Legal de acordo com a plataforma desta análise.
Já segundo análise do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), a Amazônia perdeu cerca de 74,6 milhões de hectares em cobertura vegetal entre 1985 e 2020. A área equivale a um Chile.
Causas das emissões por setores
De acordo com o SEEG Municípios 2022, o setor da agropecuária é o principal responsável pela maioria das emissões de gases de efeito estufa no país.
Dentre as cidades brasileiras, 3.731 possuem o setor como principal emissor – o que representa 67% do total dos municípios do país.
Já em seguida estão 1.004 cidades por mudança de uso da terra e florestas – 18% do total.
Energia aparece como terceiro setor como o principal dentre os municípios brasileiros, com 755 (13,6%); 62 (1,1%) possuem o setor de resíduos e 19 com processos industriais e uso de produtos (0,3%).
Por: Giovanna Bronze da CNN