Para o tratamento de casos precoces de Alzheimer, os resultados da terceira e última fase antes da aprovação de um novo remédio são altamente promissores. Nos testes, a medicação Lecanemab reduziu, com sucesso, o avanço do declínio cognitivo causado por esta doença, considerada irreversível até o momento.
Desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Biogen e a japonesa Eisai, o remédio Lecanemab é um tipo de anticorpo monoclonal — a estratégia já é adotada no combate de outras doenças, como câncer e covid-19. Os resultados da Fase 3 do estudo clínico foram publicados na revista científica New England Journal of Medicine (Nejm).
Estudo de Fase 3 de nova medicação contra o Alzheimer
No estudo de Fase 3, os pesquisadores recrutaram cerca de 1,7 mil voluntários, com mais de 50 anos, sendo que 898 participantes receberam o remédio Lecanemab. Os outros 897 foram “medicados” com um placebo — substância sem ação contra a evolução do Alzheimer.
No grupo que recebeu a medicação, foi possível identificar uma desaceleração do declínio cognitivo em 27%. “O Lecanemab reduziu os marcadores da [proteína] amiloide associados à doença de Alzheimer precoce e resultou em declínio moderadamente menor nas medidas de cognição e função do que o placebo em 18 meses”, afirmam os autores do estudo.
Por outro lado, os cientistas apontam que a medicação “foi associada a eventos adversos”. Por exemplo, entre os efeitos colaterais, foi possível identificar casos de hemorragias cerebrais, inchaço no cérebro e dores de cabeça. Inclusive, alguns participantes precisaram deixar a pesquisa.
Neste cenário, os pesquisadores sugerem que “ensaios mais longos são necessários para determinar a eficácia e segurança do Lecanemab no início da doença de Alzheimer”.
Como age o remédio contra a doença do Alzheimer?
Segundo o estudo de Fase 3, o grupo de voluntários que recebeu o medicamento Lecanemab teve o progresso da doença retardado em aproximadamente 27% em comparação com os voluntários que receberam o placebo. Este é um bom indicativo da eficácia da fórmula contra o Alzheimer.
Administrado por infusão intravenosa, o anticorpo monoclonal promove a “limpeza” das placas que se formam no cérebro e são constituídas pelo acúmulo das proteínas beta-amiloides na região — são uma espécie de gosma pegajosa. No momento, o consenso científico é de que essas formações são uma das responsáveis por provocar o quadro de Alzheimer, já que a afetam a comunicação entre neurônios.
Os primeiros benefícios da medicação foram identificados após os seis primeiros meses do início do tratamento experimental. No entanto, o quadro de melhora se perpetuou até o final do estudo (18 meses).
Anticorpo para retardar o Alzheimer já pode ser usado?
A medicação contra o Alzheimer ainda não pode ser usada em nenhum lugar do globo, já que, até o momento, nenhuma agência de saúde aprovou o uso do anticorpo monoclonal. Para adiantar os processos de análise, a farmacêutica Eisai solicitou anteriormente o modelo de aprovação contínua para a agência Food and Drug Administration (FDA), nos EUA.
Se aprovada, a expectativa é que a medicação seja prescrita para pessoas com comprometimento cognitivo leve (MCI) devido ao Alzheimer e à demência precoce de Alzheimer.
Quais são as expectativas com o remédio do Alzheimer?
Apesar das limitações, os resultados já obtidos do remédio contra o Alzheimer são promissores. “Este tratamento pode mudar significativamente o curso da doença para pessoas nos estágios iniciais da doença de Alzheimer”, afirma a Alzheimer’s Association, em comunicado.
Quando aprovado, “o Lecanemab proporcionará aos pacientes mais tempo para participar da vida diária e viver de forma independente. Isso pode significar muitos meses a mais reconhecendo seu cônjuge, filhos e netos”, completa o grupo.
Fonte: Biogen, Nejm e Alzheimer’s Association