Indígenas da região central do Maranhão estão registrando rituais em um esforço de preservação cultural.
A dança ainda de madrugada marca o início do ritual. É a cerimônia que põe fim ao luto de quase um ano pela morte do cacique ancião da aldeia Rubiácea, na Terra Indígena Governador, região central do Maranhão. Só agora, com o fim do período de reclusão, os indígenas podem finalmente cortar os cabelos e se pintar para a festa.
Na aldeia vivem cerca de 200 pessoas da etnia Gavião, que ainda preservam a língua e os costumes de antes da chegada dos portugueses ao Brasil.
Em um exemplo de tradições que se mantêm por séculos, uma dupla de irmãos só pode sair de casa dentro de esteiras. É a passagem da infância para a puberdade, que dura seis meses.
Além da persistência dos mais velhos, a preservação dos costumes se deve em boa parte pelo interesse de jovens indígenas que vêm usando a tecnologia para registrar o que os mais velhos fazem há séculos.
Mauro da Silva Gavião tem 21 anos e grava com o celular os cantos dos anciões da aldeia durante os rituais. Vai servir para as próximas gerações.
José Rui fez um curso de fotografia para registrar os hábitos e costumes dos indígenas do povo Gavião. Ele usa as redes sociais para divulgar e manter um acervo de registros.
O ponto alto da festa de fim de luto é a corrida entre dois times formados por indígenas da aldeia Rubiácea contra as outras aldeias da região, carregando toras de 130 quilos e se revezando em duplas. Participam as mulheres da aldeia e os homens. São dois carregando e os outros ficam equilibrando a tora, ao lado.
Na chegada, a lamúria dos parentes e amigos sobre as toras, que representam o homenageado morto.
A partir de agora, o luto acaba e o antigo cacique fará parte do passado, enquanto o futuro dessas tradições que misturam espiritualidade e festa depende da proteção dos povos indígenas de todo o país.