Investidores resumem o cenário nacional e internacional e dão dicas de direcionamento para quem quer participar de rodadas neste ano

O cenário econômico brasileiro para 2025 começa desafiador. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, a expectativa do mercado na primeira semana do ano era de que a inflação fechasse 2025 em 4,96%, e o mercado projeta que o dólar continue em alta. A situação é desafiadora, mas ela fará com que VCs e CVCs recuem das rodadas de investimentos em startups neste ano? Conversamos com investidores para entender as previsões deste setor e as expectativas para o ano novo são altas.

O mercado de venture capital na América Latina ainda não se recuperou do que ficou conhecido como o “inverno das startups” – desde 2021, o número de investimentos e o capital investido nessas empresas estão em declínio, e 2024 foi um ano de retração. No entanto, esse movimento era esperado por especialistas, que já projetam melhora em 2025. “A retração de 2024 foi uma consequência de fatores macroeconômicos globais e de ajustes no mercado, mas já vemos sinais de maior confiança dos investidores, especialmente em setores estratégicos”, explica João Kepler, CEO da Equity Fund Group.

Para Jaana Goeggel, cofundadora do Sororitê Ventures, o mercado de Venture Capital no Brasil enfrenta uma carência de liquidez, uma vez que os investidores estão sendo pressionados pela necessidade de exits. “A escassez de saídas, como M&As e IPOs, restringe a liberação de capital para reinvestimentos, criando um gargalo significativo, especialmente no estágio de growth, enquanto o early stage se manteve estável em 2024. Em 2025, M&As devem liderar as oportunidades, impulsionados pelo interesse de empresas locais e estrangeiras, com a desvalorização cambial favorecendo aquisições”, explica a executiva. 

Queda dos juros nos EUA e posse de Trump impactam visão dos investidores 

De olho nos impactos do cenário internacional nos investimentos no Brasil, os especialistas esperam ver, ainda em 2025, as primeiras repercussões no mercado com a posse de Donald Trump, que acontece no próximo dia 20, mas projetam seus reais efeitos a partir de 2026. 

Para Phillip Trauer, Managing Director da Wayra Brasil e Vivo Ventures, a queda dos juros nos EUA pode ter um impacto positivo no setor de VC, ao tornar o custo de capital mais acessível, o que incentiva investidores a alocar recursos em startups. “Espero também um cenário mais favorável para os mercados públicos a partir da segunda metade de 2025, pois a administração Trump tem um viés mais pro-business, o que deve impulsionar uma nova onda de M&As e IPOs nos EUA. Este cenário é mais provável para 2026, mas veremos indicativos em 2025”, conta o executivo.

 para Itali Collini, diretora na Potencia Ventures, a oportunidade que vem com a queda de juros nos EUA e a aproximação de Trump com figuras relevantes da tecnologia e investimentos, está nos capitais de risco.

“Acredito que as movimentações políticas e econômicas que estão ocorrendo nos EUA influenciarão nesse cenário. O presidente eleito, Donald Trump, tem uma forte relação com gigantes da tecnologia, como o Elon Musk, o que acaba influenciando seu governo, ações e decisões. Além disso, o vice-presidente de Trump, J.D. Vance, é um ex-investidor de capital de risco que possui vínculos com o meio tecnológico, o que pode influenciar fortemente nas decisões governamentais relacionadas ao ramo. Atrelado a isso vejo que, com a queda da taxa de juros, os investidores se aventuram em capitais de risco, o que abre oportunidades para startups em estágio inicial”, explica Collini.

Fintechs e startups de soluções de IA devem ser foco dos investimentos em 2025

Com as novas regras do PIX, a segunda fase de implementação do Drex – que deve passar a ser utilizado em 2026, um menor crescimento do crédito e expectativa da Febraban de inadimplência um pouco mais alta este ano, as fintechs devem se destacar no cenário de investimentos em 2025. “Enquanto houver problemas financeiros estruturais a serem resolvidos, as fintechs seguirão como protagonistas na captação de venture capital”, explica Kepler.

Para Goeggel, as “startups que explorarem o uso do DREX e inovarem em soluções para consumidores e empresas terão vantagem competitiva, como contratos inteligentes, crédito tokenizado ou sistemas de pagamento mais eficientes.” A investidora também afirma que as startups que focam em soluções de inclusão financeira e as demandas corporativas terão destaque. ”O Brasil ainda possui milhões de pessoas desbancarizadas ou subbancarizadas. Fintechs inovadoras continuam sendo essenciais para democratizar o acesso ao crédito, serviços financeiros e seguros. Além do consumidor final, cresce a demanda de empresas por soluções financeiras digitais, como gestão de fluxo de caixa, crédito para PMEs e pagamentos automáticos”, afirma.

“Olhando para a frente, devemos ver um aumento de investimentos em fintechs principalmente vindos de fundos com visão estratégica e de longo prazo, como os CVCs com atenção voltada para o mercado B2B, oferecendo soluções voltadas para pequenas e médias empresas e serviços de infraestrutura financeira, como o Banking as a Service”, conclui Trauer.

No âmbito da Inteligência Artificial, os investidores concordam que essa tecnologia é básica para startups que querem conquistar investimentos neste ano. “A inteligência artificial continuará sendo um foco em 2025, mas está se tornando cada vez mais um requisito básico para startups de tecnologia. Empresas que não integram IA em suas plataformas terão dificuldade em competir. O ano será marcado por um foco em aplicações de IA, especialmente na automação de processos operacionais de ponta a ponta com o uso de agentes de IA”, analisa Jaana.

“A inteligência artificial segue transformando setores inteiros, de saúde a logística. Os VCs continuarão alocando capital em startups que utilizam IA para criar soluções escaláveis e disruptivas. Em 2025, veremos um foco maior em aplicações práticas da tecnologia, especialmente em setores tradicionais que estão passando por transformação digital”, finaliza João Kepler.

Por Cecília Ferraz