Grandes corporações e startups têm papel importante para desenvolver novas soluções para os agricultores brasileiros
Para impulsionar a adoção dos agricultores brasileiros, as tecnologias tendem a ser desenvolvidas mais próximas, ao gosto, e necessidades, dos produtores. (Foto: Adobe Stock)
*Por Heather Van Nest
A agricultura tropical tem um desafio: atender à crescente demanda global por alimentos, de forma sustentável, segura e ágil. Nesse cenário, a inovação e a tecnologia emergem como as ferramentas que tornam possível que o Brasil assuma seu papel como protagonista no setor.
E, quando o assunto é inovação no campo, os produtores e as empresas sabem que o benefício gerado pela tecnologia é muito maior do que o valor inicial de investimento.
Uma pesquisa realizada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), corrobora essa tese.
O estudo revelou que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio à produção agrícola. Eles sabem que utilizar soluções inovadoras na agricultura tropical pode aumentar significativamente a eficiência e proporcionar ganhos econômicos consideráveis.
Um exemplo da conexão dos agricultores com a tecnologia são as máquinas agrícolas, que hoje trazem mapas de produtividade integrados, soluções que visam a redução do consumo de combustível e equipamentos que diminuem a compactação do solo, fazendo com que o agricultor consiga obter a máxima produtividade de sua lavoura, com redução de custos e sustentabilidade.
Avanços no monitoramento de culturas, uso de drones para mapeamento de áreas agrícolas e sistemas de irrigação inteligentes, também contribuem para uma agricultura mais precisa.
O papel das corporações…
Sob esse contexto, notícias como o lançamento do Centro Brasileiro de Desenvolvimento de Tecnologia, recentemente anunciado pela John Deere, se destacam, uma vez que a iniciativa reflete uma convergência de esforços com o objetivo de aprimorar a eficiência, sustentabilidade e rentabilidade da agricultura brasileira.
Esse será o primeiro centro de desenvolvimento e testes para a agricultura tropical da empresa no mundo e permitirá que os produtos sejam concebidos e testados em território nacional, considerando todas as variáveis: de solo, clima, níveis de conectividade e outros fatores referentes ao cenário produtivo do Brasil..
Isso reforça, mais uma vez, o protagonismo do país e mostra que a inovação no agronegócio não é uma jornada solitária, mas uma colaboração entre os setores público e privado, grandes corporações e empreendedores visionários.
…e das startups também
Ao ampliarmos o foco para além dos limites corporativos, observamos que o Brasil está testemunhando uma onda de startups e empresas dedicadas a impulsionar a inovação na agricultura.
Outro estudo realizado este ano pela Embrapa, em parceria com o Sebrae, HomoLudens e SP Ventures, mostra que o ecossistema de agtechs cresceu exponencialmente no Brasil nos últimos anos.
Atualmente, de acordo com o levantamento, uma a cada três empresas do setor já vende para outros países, e 43% desses negócios faturaram mais de R$ 1 milhão no último ano. O segmento também se mostrou um forte gerador de empregos, sendo que mais da metade dos negócios conta com mais de 10 colaboradores.
Essas empresas estão explorando desde a digitalização de cadeias de suprimentos e sistemas de monitoramento remoto, até sensores de solo e desenvolvimento de aplicativos para agricultores gerenciarem suas operações de maneira mais eficiente.
A agricultura conectada não apenas otimiza o uso de recursos, como água e fertilizantes, mas contribui para a redução do impacto ambiental. Prova disso é que o Brasil, ao mesmo tempo, é um dos países que mais produz e preserva no mundo.
A Embrapa aponta que o país protege a vegetação nativa em mais de 66% de seu território, e possui apenas 30% das terras destinadas a atividades agropecuárias.
Com este olhar, as empresas estão em busca de soluções que ajudem a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o que significa buscar e desenvolver negócios e operações com viés inovador e que ajudem a mitigar o impacto das mudanças climáticas.
Este é um momento em que a pesquisa acadêmica, a iniciativa privada e as políticas governamentais se alinham para impulsionar a agricultura brasileira rumo a um futuro mais promissor.
É fundamental reconhecer que a inovação na agricultura não se trata apenas de investimentos em tecnologia, mas do futuro do nosso Brasil e do planeta.
Estamos no limiar de uma nova era agrícola, em que a tecnologia e inovação se tornam aliadas essenciais na busca por uma produção alimentar sustentável e eficiente.
Heather Van Nest é diretora de Inovação da John Deere para a América Latina.
Fonte: PWC