Desse montante, cerca de US$ 71 trilhões estão concentrados em cinco grandes economias: Estados Unidos (25,3 trilhões), China (19,9), União Europeia (17,6), Japão (4,9) e Reino Unido (3,4). Ou seja, 68% do bolo global. Um jogo de pesos-pesados, altamente concentrado, relativamente estável (em termos históricos) e de difícil mudança de posições, embora efervescente em disputas. Os EUA, por exemplo, têm a maior economia mundial desde 1871 e, ano passado, completaram 150 anos nessa posição.
Nesse mundo de economia e poder tão concentrados, pergunta-se frequentemente qual papel ou voz cabe a países com PIB equivalente a modesta fatia da riqueza dos “desenvolvidos”. O Brasil, por exemplo, tem PIB de US$ 1,8 trilhão, mas saldo na balança comercial agrícola de US$ 100 bilhões. É (ou tem potencial para ser) protagonista da geopolítica internacional, por sua relevância para a segurança alimentar mundial. As grandes economias do mundo sabem, hoje, que a solução para o abastecimento global de alimentos passa por aqui e pela agricultura tropical. Sem falar ainda do papel de potência ambiental que o país pode desenvolver.
Estimativas da ONU apontam que a população global estará em 8 bilhões de habitantes ao final de 2022, chegando a 8,5 bilhões em 2030, com mais da metade desse avanço em países como Índia, Paquistão, Egito, Congo, Nigéria e Etiópia, todos localizados na faixa tropical do planeta. A agricultura dos trópicos é o fator estratégico para melhor e mais rápida resposta aos desafios de insegurança alimentar, atuais e próximos, com o Brasil na liderança desse processo, dados os nossos expressivos números de produção e produtividade agrícolas.
Além disso, o país também se destaca por ser fonte geradora da ciência e tecnologia que viabilizaram a revolução agrícola tropical. Uma transformação que aos poucos se estende para países da África e América Latina, sob o impulso de programas de cooperação técnica nos quais nosso país é protagonista, exportando o conhecimento que tornou as degradadas savanas brasileiras em áreas produtivas e competitivas com os mais altos padrões da agricultura mundial. O Brasil tornou-se sinônimo de inteligência em agricultura tropical.
Este é um fator geopolítico que precisamos saber usar e multiplicar, com um projeto de desenvolvimento econômico e social na mesa, e com engajamento de toda a sociedade, para servir como bússola em nossa inserção diplomática e comercial pelo mundo. Tradição para isso já temos. E o momento, aliás, é propício, pois a fome voltou a ser um desafio global e os últimos números da ONU dão conta de mais de 900 milhões de pessoas em condição de insegurança alimentar severa, no mundo.
Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)
Fonte: CCAS