Cada vez mais explorada na iniciativa privada, a inteligência de dados tem revolucionado a maneira como se define a estratégia de uma organização na nossa sociedade.
O volume de dados que produzimos e a forma como os interpretamos têm evoluído a passos largos. No setor público, estamos vivendo o início desse processo já consolidado na iniciativa privada e a tomada de decisão começa a ser direcionada por uma visão Data Driven. Mas o que os dados têm a ver com isso?
As políticas públicas são baseadas em evidências. Não se cria nada com base em achismo. E os dados são fonte crucial para determinar os caminhos a serem seguidos. Porém, no contexto atual, existe, para além de outros fatores, um gap de informação e mensuração de dados que pode estar custando muito dinheiro e vidas. Esse gap cria uma demora acentuada na mudança do curso e na tomada de decisão, o que pode agravar muito o problema público e dificultar a vida das pessoas.
Como a inteligência de dados se aplica no setor público?
Imagine que uma determinada política pública possa ser implementada ao primeiro sinal de incoerência ou inconsistência das métricas e indicadores utilizados para estabelecer um nível adequado de prestação do serviço público. Seria excelente, não?
Exemplo, se uma prefeitura começa a olhar para o número de novas unidades habitacionais ou loteamentos sendo aprovadas no município e confrontar com a capacidade de seu sistema público de saúde e educação de absorver essa nova demanda, a prefeitura pode, em seu orçamento, indicar a construção de novas unidades escolares e postos de saúde a fim de atender essa nova população e evitar a sobrecarga do sistema atual. É prever o que vai acontecer para se antecipar e evitar problemas futuros.
Outro exemplo é quando olhamos para o volume de débitos de um município. Pode-se avaliar o montante da dívida produzida nos últimos dois anos e comparar com o histórico para perceber o cenário atual e projetar os cenários possíveis.
Neste contexto, você pode indicar caminhos de cobrança desse débito com base no comportamento dos contribuintes e na sua capacidade de quitação. Para além disso, pode efetuar um programa de atividade educativa para os novos devedores, a fim de esclarecer e informar sobre o que são aqueles tributos e débitos, como “evitá-los” e se manter em conformidade. Ou seja, você pode dar início a múltiplas políticas públicas com base na análise e cruzamentos que você fez com algumas bases de dados.
Então por que os dados são importantes para a gestão pública?
Diagnóstico da situação
Entender o cenário em que a administração pública está inserida. Seus recursos, indicadores, gravidade e reais problemas para que se possa traçar caminhos em busca da melhoria contínua e da qualidade de vida do cidadão.
Desenho de Políticas Públicas
Políticas públicas pautadas em evidências, indicadores e dados propõem-se a atingir objetivos tangíveis e concretos dentro de seu campo de atuação. Parte-se de uma perspectiva lógica que busca promover maior eficiência na aplicação dos recursos públicos.
Monitoramento e medição de resultados
Toda e qualquer atividade administrativa ou gerencial, na gestã pública, pode ser melhorada através da aplicação da inteligência de dados. Seus resultados podem ser medidos e assim tornar possíveis uma avaliação da eficiência de determinado processo. Deste modo, corrigir o curso ou intensificar/replicar uma prática se torna mais precisa.
Tempo de resposta
A exemplo da pandemia da COVID, os países que tiveram maior eficiência no controle e combate à crise sanitária foram os que conseguiram, através dos dados, enxergar o cenário de contaminação e agir prontamente em seu enfrentamento. O tempo de resposta aqui é crucial para salvar vidas.
Tomada de Decisão
Diariamente os chefes dos entes e órgãos governamentais precisam deliberar sobre inúmeros temas dos quais necessitam de profundidade. As decisões pautadas em dados tendem a ser mais eficientes do que as pautadas na intuição. Assim se reduz a margem de erro e fortalece uma determinada posição com embasamento lógico. O sucesso da gestão está conectado à capacidade de tomar melhores decisões.
Esse contexto de inteligência de dados ainda é um sonho distante para a maioria dos municípios do Brasil que só atuam quando o problema já está enraizado, mas é perceptível o esforço que vem sendo empregado para que essa idealização se torne realidade.
Pode parecer simples implementar esse tipo de solução em um município, mas percebam que uma prefeitura tem que estar atenta a muitas áreas e preocupada em atender a demanda de inúmeros setores da sociedade e, para além disso, gerir um volume de dados absurdo. Faltam pessoas para olharem os dados e produzirem inteligência com eles.
Os esforços que venho percebendo nos últimos anos estão concentrados na modernização da máquina pública em dois principais investimentos: infraestrutura tecnológica e de telecomunicações.
Esses dois caminhos foram incentivados por programas governamentais e por políticas de conectividade/interação a fim de promover a transparência pública. Seu município tem “wifi grátis”? Então, é por aí.
Mas ainda sim as equipes/times de tecnologia em uma prefeitura, em sua maioria, são limitadas a poucos profissionais. É necessário atrair talento ao setor público ou construir parcerias com a iniciativa privada em prol da construção de uma central de inteligência a fim de subsidiar as políticas públicas e otimizar a gestão como um todo.
As prefeituras detêm uma riqueza de informação em dados absurda, mas saber manejá-la, estudá-la e produzir informação para a tomada de decisão ainda é um caminho longo a ser trilhado.
Leonardo Teixeira, é Gerente de Produto da Inovally, lidera o planejamento, desenvolvimento e implementação de estratégias de produto na empresa. Na Inovally, uma GovTech reconhecida por sua inovação no setor público, ele gerencia times técnicos e de prototipação, focando em soluções que integram Ciência de Dados, Inteligência Artificial e Automação de Processos para otimizar a entrega de serviços públicos.
Texto: Leonardo Teixeira
