Especialistas explicam benefícios e riscos que a inteligência artificial traz para designers e pequenos empreendedores

Se há alguns anos parecia improvável que qualquer pessoa pudesse usar inteligência artificial no seu dia a dia, hoje é comum encontrar profissionais que utilizam o recurso para realizar tarefas. Entre as facilidades que as ferramentas de IA generativa proporcionam está a possibilidade de realizar atividades que exigiriam conhecimentos técnicos específicos – ou a contratação de outros profissionais.

design é uma das áreas que vêm se transformando com a tecnologia, que permite gerar imagens e até peças publicitárias em poucos segundos, com apenas alguns comandos. Segundo especialistas, o novo cenário traz vantagens e desafios, sobretudo para os empreendedores e profissionais que atuam na área.

Como designers estão incorporando a inteligência artificial no seu dia a dia?

Apesar de ser vista como uma ameaça por alguns profissionais, a inteligência artificial vem atuando como uma ferramenta facilitadora para quem trabalha com design, na avaliação de Pedro Mattos, fundador e head de design da Rebu, agência de branding que atua no Brasil e nos Estados Unidos.

“Vários softwares comuns na profissão já incorporaram ferramentas de inteligência artificial que permitem que nosso trabalho fique muito mais ágil. Coisas que antes precisavam ser feitas manualmente, por exemplo, agora são feitas de forma muito mais rápida com essa ajuda”, afirma Mattos.

Para Daniel Dahia, cofundador e CRO da Faster, startup de design por assinatura, o uso de ferramentas de inteligência artificial implica em um ganho significativo de eficiência. Segundo Dahia, a startup usa IA sobretudo em tarefas mais manuais, como a revisão de possíveis erros nas campanhas. Assim, o CRO entende que os profissionais conseguem ficar mais focados em trabalhos complexos, que não podem ser produzidos a partir das ferramentas.

Além das utilidades técnicas, a IA já trouxe mudanças para processos criativos, conforme destaca John Paul Hempel Lima, coordenador acadêmico do curso de Inteligência Artificial do Centro Universitário FIAP. “Dizemos que a IA generativa nasceu quando a IA atingiu a era da criatividade. Assim, usando aprendizado de máquina, uma IA consegue fazer peças, textos, vídeos e áudios de maneira extremamente rápida. Basta sonhar e ‘digitar’ para que os esboços apareçam, e isso é fantástico.”

Mattos ainda ressalta que a IA é útil, por exemplo, para realizar testes de reincidência e, assim, garantir que as ideias não estejam em um “lugar comum”. Para ele, o processo criativo se torna mais ágil e mais assertivo a partir de ferramentas de IA.

Empresas e profissionais de design tendem a perder clientes frente às facilidades oferecidas pela IA?

De acordo com Lima, as pessoas que antes dependiam de um designer para tudo têm agora uma maior autonomia, principalmente com as inteligências artificiais generativas – aquelas capazes de criar um novo conteúdo, como textos, imagens, áudios e vídeos.

Por outro lado, Lima destaca que isso não significa o fim desses profissionais. Apenas implica em mudanças na forma como os designers executam seus trabalhos. “Na década de 70, para poder gravar e lançar um disco, precisava-se 100% de uma gravadora. Com o avanço da tecnologia, as gravadoras não morreram, continuam sendo importantes para uma divulgação maciça e profissional, mas é muito mais fácil para pequenos produtores também participarem do jogo”, exemplifica.

Para Daniel Dahia, “a inteligência artificial não veio para substituir o trabalho criativo: veio para expandir as possibilidades de pessoas criativas, reduzir retrabalhos, aumentar a qualidade das entregas e facilitar a vida dos clientes.” Nesse sentido, o CRO da Faster assegura que, sobretudo para grandes empresas, que demandam campanhas mais complexas, os profissionais de design continuarão desempenhando um papel fundamental.

Além disso, Mattos defende que algumas áreas do design continuam complexas mesmo com o auxílio de IA, como a produção de vídeos e artes 3D. O designer também ressalta que o futuro ainda vai depender da regulamentação dos direitos autorais relacionados à tecnologia, que podem limitar o uso das ferramentas em atividades profissionais.

Segundo Pedro Henrique Ramos, professor de Direito e Tecnologia no Ibmec e sócio das áreas de Mídia, Tecnologia e Proteção de Dados do escritório de consultoria jurídica B/Luz, ainda não há uma lei específica no Brasil sobre o tema. A principal lei vigente que se conecta a essa área é a própria Lei de Direitos Autorais (lei 9.610/98).

“A lei estabelece que as obras intelectuais são aquelas criadas apenas por pessoas. Portanto, criações geradas por ferramentas de IA não são protegidas, a menos que haja uma modificação substancial feita por uma pessoa a partir da primeira versão gerada pela IA”, explica o professor.

Como pequenos empreendedores podem aproveitar a inteligência artificial para o design da sua empresa?

Segundo Lima, da FIAP, todo processo criativo depende de estudo, referências e visão, e o uso das ferramentas de IA pode ajudar nesses aspectos, principalmente para quem não estudou processo criativo ou não têm referências sólidas.

Além disso, ele destaca a possibilidade de reduzir os custos quando o negócio ainda está começando. “Pequenos negócios poderão se beneficiar de artes mais criativas e com menor custo”, diz o coordenador, que destaca que os designers profissionais vão continuar existindo e sendo essenciais para tomadas de decisão e finalização dos produtos e serviços mais complexos.

Daniel Dahia também destaca a possibilidade de alguns negócios aproveitarem as facilidades da IA. “A maioria das soluções generativas de design e texto são focadas no usuário final ou em pequenas empresas”, afirma.

Pedro Henrique Ramos destaca que, apesar de atualmente não haver políticas voltadas aos direitos autorais de criações de IAs generativas, é importante que o empreendedor adote alguns cuidados para não ferir direitos de outras marcas. “Em primeiro lugar, a pessoa empreendedora precisa garantir que a criação – especialmente quando for um logotipo – não viole nenhum direito autoral de terceiros ou gere confusão no mercado”, explica.

Texto: Pegn