“Enigma não resistiria à computação e às estatísticas modernas”, disse Michael Wooldridge, professor de Ciência da Computação e especialista em inteligência artificial na Universidade de Oxford
O famoso código Enigma, sistema de codificação militar utilizado pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial para proteger suas comunicações secretas, levou anos para ser decifrado pelos aliados. Se fosse hoje, com a tecnologia disponível, esse processo teria sido feito em poucos minutos.
“Enigma não resistiria à computação e às estatísticas modernas”, disse Michael Wooldridge, professor de Ciência da Computação e especialista em inteligência artificial na Universidade de Oxford, da Inglaterra, ao The Guardian.
O Enigma era uma máquina eletromecânica que lembrava uma máquina de escrever, com três rotores, cada um com 26 posições possíveis, um refletor que enviava o sinal de volta pelos rotores e um painel de tomadas que trocava pares de letras. Pela sua configuração, mesmo que a mesma tecla fosse pressionada duas vezes, uma letra diferente seria produzida a cada vez. Além disso, as configurações iniciais eram alteradas a cada 24 horas.
“Essencialmente, os dispositivos Enigma obtiveram seu poder porque o número de maneiras possíveis de criptografar uma mensagem era astronomicamente grande. Grande demais para um humano verificar exaustivamente”, apontou Wooldridge.
O trabalho para decifrar esse código foi árduo, começando com especialistas poloneses na década de 1930, que construíam máquinas anti-Enigma, e terminando com o matemático Alan Turing e sua equipe na década seguinte, responsáveis pelo desenvolvimento de uma máquina conhecida como Bombe.
Mas, na atualidade, seria algo simples, principalmente por causa de uma tecnologia da qual o próprio Turing foi pioneiro, a inteligência artificial.
“Seria simples recriar a lógica das Bombes em um programa convencional”, afirmou Wooldridge, afirmando que o ChatGPT foi capaz de fazer isso. “Assim, com a velocidade dos computadores modernos, o trabalho árduo das Bombes seria concluído em um prazo muito curto.”
Segundo o professor, uma série de técnicas estatísticas e computacionais modernas também poderiam ser implementadas. “E o poder dos data centers modernos é difícil de imaginar. Enigma não seria nem de longe páreo para isso.”
O The Guardian destaca que, embora a computação moderna tenha rapidamente desbancado a invenção nazista, técnicas como a cifra Rivest-Shamir-Adleman (RSA), sistema desenvolvido inicialmente em 1977 e baseado em grandes números primos, continuam robustas.
“No caso do RSA, o problema é a fatoração de números muito grandes. Técnicas de força bruta – analisar todas as alternativas – simplesmente não funcionam nesses problemas”, indicou Wooldridge. “Se os computadores quânticos algum dia cumprirem sua promessa teórica, talvez precisemos de técnicas completamente novas para manter nossos dados seguros”, completou.
Por: Renata Turbiani