A tecnologia avançou muito nos últimos anos e está revolucionando diversas áreas da vida, inclusive as relacionadas à saúde, mas é preciso cuidado e responsabilidade ao utilizá-la. Saiba mais sobre o uso da inteligência artificial na saúde.
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) ganhou muito destaque na mídia, nas rodas de conversas, na praticidade do dia a dia e na evolução de processos médicos e educacionais. Mas o assunto ficou ainda mais em destaque em 2023, com a febre do ChatGPT (chatbot online de inteligência artificial que imita a linguagem humana. Ele analisa e processa a informação e com base em probabilidades, entrega respostas que sejam as mais apropriadas para a pergunta), que foi apontado como o substituto de uma ferramenta já muito comum no nosso cotidiano: o Google.
O Google é um dos mecanismos de buscas mais famosos do mundo, e muitas pessoas recorrem a ele para pesquisar e tirar dúvidas sobre diversos assuntos, inclusive relacionados a possíveis diagnósticos.
Não é de hoje que profissionais da área da saúde pedem atenção e cautela a esses recursos tecnológicos que vão surgindo e evoluindo com o tempo, afinal, uma pesquisa na internet sobre determinados sintomas não substitui a prática médica e o olhar clínico relacionados às queixas de um paciente. Por outro lado, a inteligência artificial é uma tecnologia que veio para ficar, e precisamos nos preparar para ela.
“A IA pode servir como um portal que ajuda as pessoas a buscarem autoconhecimento, mas a maior questão é que ela é uma estrutura de dados que resume as informações. Então, ela pode atuar como a porta de entrada para um indivíduo entender que precisa de ajuda, mas ela não vai trazer cura ou tratamento para os sintomas. Mas ela pode, sim, ajudar nessa elucidação”, reflete o dr. Rodrigo Silveira, médico psiquiatra, mestre em saúde coletiva e especialista em saúde mental da infância e adolescência.
Afinal, o que é inteligência artificial (IA)?
A IA é um conjunto de sistemas computacionais programados para executarem tarefas que geralmente exigem inteligência humana (como operação de máquinas, automatização de sistemas, organização de informações, entre outros). Isso inclui também a reprodução de padrões de comportamento semelhantes ao das pessoas, através de processos que envolvem aprendizado, raciocínio, resolução de problemas, reconhecimento de padrões, compreensão de linguagem natural e tomada de decisões.
Convivemos com essa tecnologia em diversas áreas, desde assistentes virtuais em dispositivos móveis até diagnósticos médicos, carros autônomos, previsões do tempo e muito mais. Além disso, a IA apresenta capacidade de automatizar tarefas complexas e analisar grandes volumes de dados, o que a torna uma ferramenta poderosa em muitos setores, inclusive na saúde.
Como a tecnologia artificial impacta a área da saúde?
O uso da inteligência artificial na área da saúde tem revolucionado a forma como diagnósticos, tratamentos e cuidados são oferecidos. Os benefícios são inegáveis, como a contribuição para diagnósticos rápidos e assertivos, mas também há desafios a serem considerados, principalmente quando falamos de cuidados com a mente.
“A IA pode ser benéfica para detectar possíveis diagnósticos. Então, a pessoa que vai estar interagindo ali vai poder identificar melhor o que tem e compreender que aquilo pode inclusive ter um nome, como algum transtorno, como é o caso do autismo. Ela também pode ajudar em orientações gerais, mas não substitui o atendimento especializado”, explica o dr. Rodrigo.
Na medicina de uma forma geral, a IA tem demonstrado grande capacidade de analisar conjuntos de dados médicos para identificar padrões sutis e apoiar diagnósticos precisos, inclusive na detecção de anomalias em exames de imagem como radiografias, fotodermatoscopia, ressonâncias magnéticas e outros, aumentando a precisão na identificação de doenças como câncer e doenças cardíacas. Isso ajuda, por exemplo, no diagnóstico e tratamento precoce.
Em contrapartida, muitas pessoas estão recorrendo às ferramentas de inteligência artificial para tratar sintomas relacionados à saúde mental. A psicóloga Vanessa Maya Sugano Rangel, pós-graduada em saúde mental e em terapia cognitivo-comportamental pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, alerta que a IA, usada de maneira inadequada, pode trazer danos irreversíveis à saúde. “Nas áreas em que há possibilidade de colocar a vida do próprio indivíduo e de outros em risco, uma vez que a IA não decifra emoções, [a IA] não terá meios de avaliar se o indivíduo está em risco real”, explica.
Ela ainda complementa que, no caso da psicologia, por exemplo, uma pessoa que apresenta taquicardia não necessariamente está em crise de ansiedade, mas ao consultar a Inteligência artificial, ela pode “se autodiagnosticar” com ansiedade, quando na realidade pode ser outra causa. A especialista ressalta que o inverso também pode ocorrer.
IA e a revolução na saúde mental
Quando falamos de psicologia, a IA tem sido usada para analisar padrões de fala e linguagem em pacientes, ajudando a identificar sinais de distúrbios como depressão e ansiedade, e já existem chatbots alimentados por IA programados para fornecer apoio emocional e terapia online, ampliando o acesso a cuidados relacionados à saúde mental.
A psicóloga Hegli Norimar de Menezes, pós-graduada em saúde mental pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, diz que é possível, através da tecnologia, encontrar novas formas de atuação clínica e de terapia psicológica, mas que nenhuma máquina pode reconhecer características e emoções como os seres humanos.
“A psicologia não avalia apenas o relato do paciente ou diagnóstico, vamos além, observamos gestos, olhares, tom de voz, choro, sorriso, ou seja, qualquer reação fisiológica, emocional ou comportamental que possa ocorrer durante a sessão ou que seja relatada pelo paciente quando em contato com elemento que possa desencadear algum sinal ou sintoma para o qual ele buscou ajuda”, explica Hegli.
Ela ainda complementa que há benefícios para os terapeutas, no que diz respeito às informações, dispositivos (como relógios inteligentes que monitoram frequência cardíaca e sono do indivíduo), softwares e outros. Entretanto, os profissionais devem estar capacitados para avaliar e filtrar o conteúdo que irão receber como resposta a uma pesquisa ou avaliação, bem como o funcionamento de determinados dispositivos e a segurança das informações a serem captadas e analisadas, já que nem todas as fontes são seguras.
Ética, empatia e humanidade
É importante debater a privacidade e a segurança dos dados, visto que a IA lida com informações sensíveis dos pacientes. Aqui entra a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), legislação brasileira que tem como objetivo regular a coleta, o armazenamento, o processamento e a transferência de dados pessoais, visando proteger a privacidade e os direitos dos indivíduos em relação às suas informações pessoais.
A lei estabelece diretrizes e exigências para o tratamento responsável e seguro desses dados por empresas e profissionais, além de conferir aos cidadãos maior controle sobre suas informações e direitos em relação a elas.
Por isso, o uso da IA na saúde deve ser ponderado, levando em consideração os direitos e a privacidade dos pacientes, já que ainda não há uma regulamentação específica para o uso adequado da inteligência artificial.
Além disso, em situações que requerem julgamento, empatia e interpretação complexa, a supervisão humana é essencial para evitar erros graves e algum tipo de risco para as pessoas.
A inteligência artificial tem o potencial de revolucionar a saúde e o bem-estar da população de modo geral, melhorando diagnósticos e tratamentos. No entanto, é crucial encontrar um equilíbrio entre seu uso e a experiência humana, garantindo que a tecnologia seja utilizada de forma ética, segura e eficaz em benefício das pessoas.
“Precisamos manter a clareza e a compreensão a despeito da nossa impressão de que o dia a dia tem acontecido cada vez mais em um universo digitalizado. É muito importante que, por conta disso, a gente mantenha viva a noção de que somos seres biológicos, que somos bichos que dependem de uma vida offline, rica em contato com a natureza, em contato com as pessoas olho no olho, para conseguir uma melhor regulação e expressão na saúde. Se a gente viver só no online, tem ficado cada vez mais claro que isso só traz adoecimento para a população”, alerta o dr. Rodrigo.
Para se manter ativo e longe da tecnologia, pratique atividades ao ar livre, como caminhadas, trilhas e pedaladas. Exercite o hábito da leitura de livros físicos. Pratique atividades físicas como ioga, natação, dança, entre outros. Também é possível colocar em prática técnicas de relaxamento, meditação, alongamento ou outras atividades que promovam o bem-estar físico e mental.
Fonte: Portal Drauzio Varella