A China Agricultural University (CAU) recebeu uma comitiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para discutir sobre inovações, tecnologia e sustentabilidade. A CAU também é parceira da USP, o que tem proporcionado o intercâmbio técnico-científico com professores de diversos institutos: a Esalq; a Escola de Artes, Ciências e Humanidades; a Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto; a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, em Pirassununga; e a Escola de Engenharia de São Carlos.
“A instituição chinesa mostrou, à delegação do Mapa, o potencial que existe. A CAU é ranqueada como a número um aqui na China e, nos rankings internacionais, aparece entre as primeiras do mundo na competência de agricultura. Ela tem um papel fundamental, é uma universidade antiga, tem um pouco mais de 100 anos, e tem uma liderança muito expressiva”, comenta o professor Luiz Gustavo Nussio, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Esalq).
Projetos
“A direção da CAU apresentou todo o potencial de colaboração que pode ser exercitado com o Brasil e eu entendo que a equipe ficou bastante impressionada com o que viu. Isso é comum quando as pessoas do Brasil, ou do Ocidente de forma geral, visitam as universidades chinesas. A própria distância geográfica e também um isolamento cultural levou a um desconhecimento”, diz o especialista. É importante ressaltar que, mesmo a China sendo uma das maiores importadoras de alimento do mundo e também do Brasil, ela também é um dos países que mais produzem.
O país do Leste Asiático possui muita capacidade agrícola: “Quando a gente se aproxima da academia chinesa, entende as linhas de pesquisa e todo o esforço que fazem para inovação. É um país muito grande, mas com uma boa parte das áreas não agricultáveis por limitações muito sérias, especialmente de água. Isso nos leva a compreender que, para ela ter uma produção muito elevada e ainda fazer isso numa área relativamente pequena, precisa ter alta produtividade. Essa produtividade não é desacompanhada de tecnologia e inovação. Hoje, na China, temos centros de treinamento de talentos, são sempre equipes numerosas e com um grande investimento em pesquisa. Eu diria que, nos últimos dez ou 15 anos, eles avançaram muito rápido na produção científica com visibilidade global. Essa produção expressiva de ciência na agricultura traz uma inequívoca liderança ao país”, pontua Nussio.
Um ponto importante na parceria é a complementaridade entre os dois países, como o professor caracteriza: “O Brasil e a China são parceiros muito interessantes do ponto de vista da agricultura devido à complementaridade. São dois países grandes, dois países com uma agricultura pujante. O Brasil está na área tropical e é líder de tecnologia na área tropical e a China, na zona temperada, onde é muito competente”.
Desenvolvimento
Toda essa tecnologia é fruto de investimento, tanto na formação de profissionais por meio de uma boa educação, quanto nas pesquisas. “São frentes que se unificam e geram um ambiente de investimento em pesquisa e educação, que acaba precipitando condições para a inovação. Além disso, é preciso criar uma cultura de investimento em pesquisas e também precisamos educar os talentos dos nossos alunos nesse sentido”, diz o especialista. Ele ainda acrescenta que o foco na sustentabilidade também é importante, como na busca pelo melhor uso da água e a descarbonização da agricultura: “Quando eu falo de negociações globais de produtos agrícolas, cada produto embarcado passa a ser analisado com foco e com uma lupa na sua competência de sustentabilidade. Em outras palavras, eu vou rastrear esses produtos para poder, de alguma maneira, encontrar o seu rastro histórico de produção e, a partir disso, criar bandeiras verdes ou não tão verdes que acabam colocando esses produtos no mercado mundial com maior ou menor aceitabilidade.”
Porém, segundo Nussio, o que incentiva tudo isso é o aumento da produtividade: “Tudo isso passa por incentivar o aumento da produtividade. A maneira é investir em produtividade. É uma lógica de que, com o uso de tecnologia, de uma visão sistêmica da nossa área de abordagem no sistema de produção, isso pode culminar em conseguir fazer as coisas diferentes do que nós temos feito. Essas informações se tornaram muito valiosas, não só do ponto de vista da soberania dos governos dos países que têm agricultura”.
Fonte: Jornal da Usp