O diretor do Centro de Inovação Global sobre Alterações Climáticas da ONU, Massamba Thioye, considera que as pessoas têm de estar no centro do progresso que pode salvar o Planeta. Uma ideia defendida, quinta-feira, numa sessão de trabalho que juntou, no CEiiA, em Matosinhos, investigadores, organizações públicas, empresas, escolas e jovens a pensar soluções para um dos mais graves problemas da Terra. Durante os trabalhos, foi apresentada a plataforma AYR, desenvolvida pelo CEiiA que permite quantificar as emissões de carbono evitadas ao trocar o uso do carro por modos suaves de transporte.
Massamba Thioye, “muito impressionado pelas soluções desenvolvidas” pelo Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Matosinhos, reforçou a mensagem política da organização, que passa necessariamente pela cooperação global. “Não há inovação nos mercados de carbono sem considerar as emissões evitadas. O Centro de Inovação Global [da ONU] está ansioso para aumentar a visibilidade do AYR como uma solução climática inovadora que pode ser dimensionada para um mercado global”, disse.
“Contribuir para acelerar e ganhar escala no combate às alterações climáticas através da tecnologia significa focar-nos nas soluções necessárias para responder às necessidades das pessoas”, estabeleceu Massamba Thioye, no início do debate que sentou à mesma mesa vários agentes ligados ao ambiente e às preocupações com a preservação da Terra. Na sala de congressos do Centro de Engenharia e Desenvolvimento, entre outros, juntaram-se representantes da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, das câmaras municipais de Matosinhos, do Porto e de Gaia, da Academia e das escolas.
Na visão daquele responsável da ONU, é preciso perceber como é possível acelerar a resposta sem tirar da mira três aspetos fundamentais no combate às alterações climáticas: a preocupação e empatia de inovar focada no que as pessoas precisam, a partilha de conhecimento e experiência e a ousadia de se ser ambicioso.
A abordagem otimista de Massamba Thioye estabeleceu o tom para a discussão que durante quase duas horas animou os trabalhos. Pedro Gaspar, responsável pela área de negócio de tecnologia futura do CEiiA, refletiu sobre o momento em que as empresas precisam de cooperar, em vez de competir, em nome da inovação, em soluções para minimizar as alterações climáticas. “Sendo necessário, exige uma mudança de mentalidade do setor privado”, referiu.
Pedro Gaspar sublinhou que uma das grandes questões no caminho dos inovadores é saber como integrar determinada solução numa escala global, por um lado, e ultrapassar o enorme desafio que é “descobrir o momento certo para o mercado aceitar a solução”, por outro.
Ainda na ótica da inovação no campo do combate às alterações climáticas ao serviço das necessidades das pessoas, Catarina Selada, responsável de políticas do CEiiA, chamou a atenção para a importância de se fazer uma análise ao estado da arte relativamente ao conceito e às metodologias para quantificar as emissões evitadas. O BEN, o novo veículo para ser usado e partilhado como serviço nas cidades e que permite a contabilização em tempo real das emissões de carbono evitadas, serviu de exemplo para a premência da sistematização do conhecimento na área.
Nuno Figueiredo, engenheiro a desenvolver um dispositivo que quantifica a captura de emissões de carbono pelas plantas, o Herbi, falou pelos mais novos, na sala e no Mundo. Desafiado no programa de desenvolvimento de jovens líderes Sustainable Living Innovators para pensar em soluções tecnológicas para o combate às alterações climáticas, desenvolveu a ideia do dispositivo que se encontra atualmente em fase de teste no CEiiA.
Segundo explicou Nuno Figueiredo, a possibilidade de se perceber a importância de quantificar a captura de carbono das plantas servirá para sensibilizar mais a sociedade e as cidades, com números concretos, a incorporar áreas verdes no espaço público. “Permitirá também uma ligação emocional entre os cidadãos e as plantas, a natureza”, referiu.
O envolvimento dos jovens no combate às alterações do clima e na procura de soluções para o problema, a forma como é possível passar do plano da intenção para experiências práticas capazes de mobilizar os mais novos, e por essa via chegar à comunidade, foi outra das ideias debatidas neste encontro de especialistas e vontades, no CEiiA.
Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, questionou em que medida é possível fazer mais, designadamente ao nível dos dois grandes desafios que as cidades enfrentam: a mobilidade, que não estando relacionada com o transporte, mas com o território, deve ser usada apenas para o que é necessário; e a construção, setor a braços com a necessidade extrema de novas soluções, sublinhou o vereador que tem os pelouros do Ambiente e Transição Climática e o da Inovação e Transição Digital na cidade Invicta.
“Foi um momento inspirador e catalisador, mas acima de tudo, revelador da urgência na adoção de tecnologias, serviços e produtos que transformem a vida urbana, valorizando a sustentabilidade nos comportamentos das comunidades e dos cidadãos, promovendo qualidade de vida, inclusão, elegância e urbanismo sustentável”, disse Vladimiro Feliz, diretor Diretor do CEiiAbyCOLAB, Smart & Sustainable Living. “Este workshop faz-nos acreditar, ainda mais, que o desenvolvimento e implementação de soluções como como a Plataforma de Sustentabilidade AYR estão cada vez mais presentes”, acrescentou.
As conclusões desta sessão de trabalho serão divulgadas pelo CEiiA e pela ONU.
Publicado por Maria Cláudia Monteir