O grande diferencial da atual safra de fintechs é a forma como elas conseguem viabilizar experiências digitais extremamente eficazes de uma forma silenciosa, isto é, sem ter uma marca visível para o consumidor final
Nos últimos anos, temos observado um crescimento expressivo no número de fintechs em atuação no Brasil e vejo esse aumento como algo positivo, uma vez que elas estimulam a competição no setor financeiro, historicamente dominado pelos grandes bancos.
Além de trazerem um rol maior de opções de produtos com condições e custos mais acessíveis, as fintechs têm sido responsáveis por aportar muito valor do ponto de vista da inovação, aliando tecnologia de ponta com times altamente qualificados e especializados. Como resultado, temos um mercado financeiro mais dinâmico, inclusivo e adaptado à nova realidade digital.
Segundo dados da consultoria A&S Partners, especializada na estruturação de bancos digitais, houve um aumento de 77% no número de startups financeiras em operação no Brasil desde 2020, passando de 1.158 para 2.048. A empresa ainda fez uma projeção de um crescimento de 50% no número de fintechs até 2027, passando para mais de 3 mil. De acordo com o levantamento, o Brasil concentra quase 60% das fintechs da América Latina, número que reforça o nível de maturidade e potencial do nosso mercado.
Diferencial silencioso muda experiência do consumidor
Na minha visão, o grande diferencial das fintechs é a forma como conseguem viabilizar experiências digitais extremamente eficazes de uma forma silenciosa, isto é, sem ter uma marca visível para o consumidor final.
Isso por que parte dessas empresas atua no modelo B2B, oferecendo tecnologia que permite que empresas de outros setores — como varejo, saúde, telecomunicações ou mobilidade — disponibilizem produtos financeiros aos seus clientes, como contas digitais, cartões de crédito, pagamentos por Pix e boletos, entre outros.
Esse movimento se intensificou com a consolidação do modelo de Banking as a Service (BaaS), que permite a ampliação do portfólio de serviços oferecidos pelas empresas e melhora a experiência do consumidor final.
Oferta de soluções personalizadas promove geração de valor
Em vez de depender exclusivamente dos grandes bancos, essas companhias passam a oferecer soluções personalizadas, que fortalecem a relação com o cliente e geram novas fontes de receita. É uma relação de ganha-ganha, em que todos se beneficiam: as empresas ampliam sua relevância no dia a dia do consumidor, e o cliente encontra mais praticidade, segurança e conveniência.
Paralelamente, vivemos o que podemos chamar de uma “fintechzação” da economia. Grandes corporações, mesmo fora do setor financeiro, estão se tornando verdadeiras fintechs embarcadas, graças à integração de APIs modulares e escaláveis.
Essa nova geração de parcerias acelera a transformação digital e torna os serviços financeiros parte nativa de qualquer jornada do consumidor, seja na hora de comprar, contratar ou pagar por um serviço. Esse avanço, no entanto, não é apenas técnico ou comercial — ele tem também um papel social relevante.
As fintechs vêm quebrando barreiras históricas de acesso ao crédito e aos serviços financeiros, ao desenvolver modelos alternativos de análise de risco baseados em dados comportamentais e inteligência artificial. Isso permite atender públicos que antes ficavam à margem do sistema tradicional, como autônomos, informais e negativados, promovendo inclusão financeira e movimentando a economia real.
Ambiente regulatório progressista facilita expansão do setor
Esse cenário de expansão contínua só é possível graças a um ambiente regulatório progressista e colaborativo. O Banco Central tem sido um importante agente dessa transformação, ao implementar iniciativas como o Sandbox Regulatório, o Open Finance e, em breve, o Drex — a moeda digital brasileira.
A combinação entre inovação tecnológica e segurança regulatória está criando as bases para um setor financeiro mais transparente, competitivo e centrado no cliente. Com a consolidação de ferramentas como o Pix e o avanço do Open Finance, as fintechs passam a ter ainda mais espaço para inovar e expandir seus serviços.
Um bom exemplo é o novo modelo de crédito consignado privado, que movimentou R$ 3 bilhões apenas nas duas primeiras semanas de testes. A tecnologia que sustenta esse produto — desde o registro da operação até a verificação de margem e o cumprimento das regras de compliance — é fornecida justamente por fintechs de infraestrutura.
E por falar em compliance, a operação silenciosa das fintechs depende de uma engrenagem sofisticada de segurança e validação.
Tecnologias como biometria facial, verificação de dispositivos, análise antifraude em tempo real e motores de crédito com inteligência artificial garantem que a jornada do cliente seja não apenas fluida, mas também segura e aderente às normas regulatórias. Em um setor sensível como o financeiro, a confiança é o ativo mais valioso — e ela nasce, cada vez mais, da infraestrutura invisível por trás dos bastidores.
As fintechs podem até não aparecer para o consumidor final, mas são elas que estão reconfigurando os alicerces do sistema financeiro brasileiro — com inteligência, velocidade e precisão. No fim das contas, a inovação mais poderosa é aquela que você não vê — mas sente todos os dias
Por: Pedro Mac Dowell