Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento pela indústria farmacêutica seguem altos mesmo após o fim da pandemia, tendo atingido um valor recorde de US$ 138 bilhões investidos pelas 15 maiores empresas farmacêuticas em 2022. É o que indica o estudo “Tendências globais em Pesquisa & Desenvolvimento 2023: Atividade, Produtividade e Habilitadores”, conduzido pela empresa americana IQVIA Institute for Human Data Science.
Em relação ao ano passado, o estudo aponta um aumento de 1,7% no valor investido pela indústria no setor em comparação a 2021. Já em comparação com patamares anteriores à pandemia, houve um aumento de 43% em relação a 2017.
Além disso, os investimentos não cresceram como uma resposta ao incremento das vendas, mas de forma paralela. Enquanto em 2020 20,4% dos recursos investidos em pesquisa e desenvolvimento advinham da receita de vendas, esse volume passou a representar 18,8% em 2022.
O instituto de pesquisa afirma que o estudo não recebeu financiamento industrial ou governamental e teve o objetivo de prestar informações relacionadas ao sistema global de saúde, que passa por um momento de reequilíbrio após a pandemia de Covid-19.
Outro aspecto importante ressaltado pelo IQVIA Institute é a respeito dos estudos clínicos, que demonstraram apenas um pequeno declínio de 1% no número de estudos iniciados (fase I, II e III) não relacionados a Covid-19 na comparação entre 2021 e 2022.
Na prática, o volume de testes para o desenvolvimento de novas tecnologias praticamente se manteve em nível semelhante, mais elevado do que em anos anteriores à pandemia.
Foram registrados 5.756 estudos em 2022; em 2021, foram 6.042. Comparando com 2019, o resultado do ano passado é, porém, 8% maior – em 2019, haviam sido feitos 5.008.
Ainda sobre estudos clínicos, o relatório demonstra um maior número de pessoas envolvidas em testes clínicos, com aumento recorde nos últimos quatro anos. Assim, as amostras têm se tornado mais completas e abrangentes, com maior nível de precisão sobre os resultados.
Em 2021, quase 4 milhões de participantes foram envolvidos em estudos; em 2022, outros 1,9 milhão. O aumento foi maior em estudos para doenças infecciosas, mesmo excluindo Covid-19 e ebola, com quase 600 mil pessoas inscritas em 2022 contra 125 mil em 2018.
A realização de testes clínicos é essencial para garantir a segurança e eficácia dos medicamentos. Para os pesquisadores do IQVIA Institute, a indústria farmacêutica tem uma grande oportunidade nesse aumento de interesse das pessoas em participar dos estudos clínicos.
“Conforme as pesquisas clínicas de vacina para a Covid-19 diminuem, a indústria tem a oportunidade de manter o grande número de indivíduos envolvidos em pesquisas, atraindo para estudos clínicos, em andamento e futuros, para outras doenças”, afirmam os autores do estudo.
Como o investimento em pesquisa se reflete na economia brasileira
Esse aumento nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento observado nos últimos anos é reflexo da eficácia do sistema de propriedade intelectual.
No Brasil, a indústria farmacêutica, por meio da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), tem defendido que um sistema de propriedade intelectual eficiente, com um tempo menor para a concessão das patentes e proteções reconhecidas internacionalmente, é fundamental para atrair investimentos para pesquisa e desenvolvimento para o país, além de melhorar o acesso dos brasileiros a novos medicamentos e terapias.
Essa forte relação entre propriedade intelectual e investimentos em pesquisa pode ser observada nas conclusões de estudo realizado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Publicado em 2021, o estudo dimensiona o espaço ocupado pelos setores intensivos em propriedade intelectual, como é o caso da indústria farmacêutica, na economia brasileira.
“A proteção da propriedade intelectual gera incentivos para a realização do investimento financeiro, mental e de tempos necessários às criações. Ainda, para muitos autores, ambientes favoráveis à geração e proteção da PI seriam capazes de beneficiar a competitividade das empresas e o desenvolvimento tecnológico de um país, além de aumentar a sua atratividade para investimentos estrangeiros”, afirma o relatório.
Entre os dados apresentados pelo estudo do INPI, alguns chamam a atenção para a importância do setor para a economia brasileira: os setores intensivos em propriedade intelectual empregaram diretamente 19,3 milhões de pessoas, em média, no triênio 2014-2016. Este número corresponde a cerca de 36% do total de 54,3 milhões de pessoas ocupadas (média anual) neste período. Os salários pagos aos trabalhadores vinculados a esses setores também foram 11% superiores do que os de outras áreas.
Além disso, outro destaque é o peso que o setor tem no valor adicionado bruto total à economia brasileira. No período analisado, o total adicionado à economia pelos diferentes setores foi de R$ 4,8 trilhões, sendo que os setores intensivos em propriedade intelectual responderam por R$ 2,1 trilhões. Dito de outro modo, uma participação de 44,2% no valor adicionado bruto total.
Na avaliação por setor específico, a fabricação de medicamentos para uso humano aparece em destaque, respondendo por R$ 20,5 bilhões.
“A participação dos setores intensivos em propriedade intelectual no valor adicionado bruto total da economia é maior que sua participação no total de pessoas ocupadas, o que demonstra, de maneira geral, maior produtividade dos setores intensivos em comparação com os setores não intensivos”, conclui o estudo.
Na lista dos setores mais intensivos em patentes de invenção, a área de pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais, que incluiria os estudos que dariam origem a medicamentos, aparece na liderança.
Por: REDAÇÃO JOTA