Um grupo de empresas liderado por iFood e pela XP Inc. deixou a concorrência por profissionais de tecnologia de lado e decidiu arregaçar as mangas para mudar a situação. Foi lançado oficialmente nesta quarta-feira (20), em São Paulo, o Movimento Tech, que reúne 20 empresas, já captou R$ 6 milhões e que começou suas primeiras ações há cerca de um ano.
Mais do que resolver um problema de falta de mão de obra qualificada no segmento de tecnologia, o grupo quer capacitar e empregar profissionais vindos de grupos de menor poder aquisitivo e, com isso, ajudar a transformar a vida dessas pessoas e de suas famílias. De quebra, o Movimento pretende trazer mais diversidade às empresas num segmento dominado por homens brancos.
A expectativa é de que o grupo capte em até três anos R$ 100 milhões para financiar suas ações. Ainda no segundo semestre deste ano, com as negociações já em curso, deve ser alcançada a marca de R$ 10 milhões. iFood e XP entraram no projeto como mantenedoras, com participação no conselho estratégico e o compromisso de investir anualmente R$ 300 mil cada um, por um período mínimo de três anos.
Empresas patrocinadoras (que não participam do conselho) entram com uma cota menor — cheque de R$ 50 mil para o projeto ou R$ 200 mil em serviços. “Já temos conversas avançadas com outras três grandes instituições que devem entrar como mantenedoras”, afirma Gustavo Vitti, vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade do iFood.
Vitti conta que o movimento surgiu depois da percepção de que as empresas tinham entrado em um jogo de “rouba monte”, tirando os profissionais qualificados umas das outras diante do apagão de mão de obra no país. “É uma situação que não se sustenta e em que ninguém ganha. E tínhamos também esse cenário incômodo da baixa diversidade e de baixo acesso às pessoas de menor renda.”
Nos últimos dois anos, com a pandemia de coronavírus e a rápida aceleração do trabalho remoto, o apagão de profissionais qualificados de tecnologia se acentuou ainda mais porque as empresas brasileiras passaram a competir com as estrangeiras (que pagam em dólar ou em euro) na atração da mão de obra, segundo Gabriel Santos, vice-presidente de Tecnologia da XP Inc.
O Movimento Tech tem quatro ações mapeadas, sendo duas já em execução. Em maio foi lançada a Maratona Tech, uma Olimpíada de Tecnologia que em sua primeira edição já teve a participação de 80 mil alunos do 9º ano e do ensino médio de escolas públicas e privadas. O objetivo foi o de despertar o interesse por tecnologia entre os alunos.
A plataforma Potência Tech (https://potenciatech.com.br/ [potenciatech.com.br]), lançada pelo iFood no primeiro trimestre, oferece cursos gratuitos, bolsas e vagas para pessoas de baixa renda ou menor representatividade no mercado de trabalho, como mulheres, negros ou pessoas LGBTQIA+.
Até o fim do ano, a expectativa é de lançar duas iniciativas voltadas para jovens, uma com foco em emprego e outra em formação: o Jovem Aprendiz Tech e o Empodera Tech. “Hoje, 95% dos jovens aprendizes são assistentes administrativos. Queremos capacitá-los para que eles sejam aprendizes de tecnologia e isso é algo totalmente novo”, diz Vitti. No Empodera Tech, liderado pelo Arco Instituto, o foco será o de ampliar a formação de jovens em situação de vulnerabilidade social hoje atendidos por várias organizações.
Com as primeiras ações, o Movimento Tech já ajudou a empregar 500 pessoas — 50 delas no iFood, que tem ainda outras 100 vagas abertas. Na XP, são pouco mais de 100 vagas de tecnologia também abertas. Estima-se que em todo o país haja 100 mil vagas de tecnologia não preenchidas.
Santos e Vitti, da XP e do iFood, destacam que um desenvolvedor júnior tem hoje um salário de R$ 4 mil a R$ 6 mil, acima do verificado em muitas profissões e que pode ajudar a transformar a vida de muitas pessoas. “Acreditamos em um movimento exponencial”, afirma Santos.
Além de iFood e XP, o Movimento Tech é patrocinado por Accenture, Arco Instituto, Grupo Boticário, Buser, Ci&T, Cubos Academy, Digital House, Fundação Behring, Gama Academy, Instituto Localiza, Kenzie Academy Brasil, Let’s Code, ONE (Oracle Next Education), RD – RaiaDrogasil, Rocketseat, Semantix, Telles Foundation e VTEX.
Por: Raquel Balarin