sábado,23 novembro, 2024

IA na moda: como a tecnologia está transformando o setor

As IAs generativas de text-to-image estão avançando tão rapidamente que há menos de um ano falamos no The BRIEF sobre um sistema promissor chamado DALL-E. De lá para cá, ainda chegaram ao conhecimento do público o rival Stability Diffusion, além de resultados de pesquisas de modelos da Google (Imagen) e Meta (Make-a-Scene). Agora já existem no mercado versões altamente refinadas da tecnologia, como o Midjourney, Adobe Firefly e NIVIDA Picasso. 

Fato é que a produções dessas ferramentas estão ficando assustadoramente realistas. E setores ligados à moda se ligaram nessa capacidade, ao estamparem capas de revistas e catálogos digitais com modelos de pixels. Saca só! 

Como a IA é usada na indústria da moda 

Empresas, veículos de notícias, agências e estúdios já estão experimentando as potencialidades da IA generativa. Esse foi o caso da Vogue Brasil que lançou em março seis capas, desenvolvidas com ferramentas dessa categoria.  

Segundo a revista, o objetivo foi discutir “criatividade e a inteligência artificial na indústria da moda”. O processo em si contou com fotógrafos e artistas, que puderam colocar sua identidade em uma dinâmica diferente do convencional, com vários profissionais. 

  • Daí surge a pergunta: a IA pode acabar com profissões artísticas? Provavelmente, não. A expectativa é de que esses recursos funcionem como um acelerador ou “aprimorador” de tarefas. Como comparativo podemos usar as máquinas fotográficas e editores de imagem, que não substituíram pinturas ou obras artísticas. 

Vogue Brasil mostrou que é possível explorar imagens ultrarrealistas de pessoas para composição de capas de revista. Porém, os resultados podem variar entre produções “opacas” e frias ou de fato ultrarrealistas.  

Vogue Brasil lançou uma série de seis capas produzidas com ajuda da inteligência artificial
Fonte: Vogue Brasil/Reprodução

Lembra-se da imagem do Papa Francisco usando uma jaqueta puff branca? Tudo não passava de uma criação feita no Midjourney, postada inicialmente por um usuário do Reddit. Aliás, a produção parecia tão realista que enganou a equipe da Vogue Brasil, que tinha noticiado a informação como verdadeira.

Processos acelerados por inteligência artificial 

A consultoria Mckinsey, por exemplo, listou uma série de atividades que poderão ser aceleradas na parte de produtos de moda por meio da IA. Separamos algumas mais interessantes: 

  • Conversão de sketches, moodboards e descrições altamente detalhadas (por exemplo, modelos 3D de roupas e acessórios). 
  • Enriquecimento da ideia de produtos na colaboração de variantes de uma mesma ideia ou produto, a partir de dados, como linhas de produtos anteriores, imagens inspiradoras e estilos. 
  • Personalização de produtos para consumidores conforme características individuais, porém em ampla escala (por exemplo, óculos para rostos ovais ou quadrados). 

Parte desses processos já é uma realidade: meses atrás a Levi’s anunciou uma parceria com o LaLaLand.ia, estúdio holandês de moda digital, para a criação de avatares via inteligência artificial para seu catálogo de produto. O plano é usá-los em seus apps e sites de vendas. 

Levi's avatar de IAA Levi’s vai usar avatares gerados por IA para estampar peças de seu catálogo on-line.Fonte: Levi’s/ReproduçãoFonte: Levi’s/Reprodução

Moda brasileira explora a tecnologia 

O impacto da IA em setores artísticos, em especial na moda, vem na esteira de uma convergência de inovações. Há pelo menos dois anos, por exemplo, falamos no The BRIEF sobre NFTs, roupas digitais e avatares. Então a aderência a essa tecnologia no segmento vem rolando de maneira natural. 

Mas não para aí: essa tendência também está influenciando a criação de movimentos e negócios. Esse é o exemplo da brasiliense AirTificial, marca de roupas e acessórios que traz em seu DNA uma lógica  solarpunk (movimento futurista de base sustentável). O próprio nome da empresa é uma tradução desse conceito, ao unir a natureza (Air) e a tecnologia criada pela humanidade (Artificial). 

  • “É uma marca que foi construída na internet e para a internet, durante a pandemia. O processo de criação aconteceu por meio de muita reflexão sobre a indústria da moda, as possibilidades de futuro tanto em uma visão otimista quanto pessimista; de questões de gênero e questões etaristas. É uma marca que, enfim, queremos trabalhar questões de humanidade relacionadas ao futuro e sustentabilidade”, contou Igor Guimarães Borges, designer e cofundador da marca, ao The BRIEF. 

O projeto foi desenvolvido também junto aos sócios fotógrafos Max Rocha e Pedro Hermano, que atuam no ramo de moda e curtem não só a estética como também discussões relacionadas ao futurismo e os impactos das IAs. “A AirTificial acontece dentro de um mundo [próprio], e a gente queria contar uma história”, completou Igor Borges. 

As imagens que compõem o catálogo da marca no Instagram demonstram um universo que poderia ser parte de um filme de ficção científica. Mas trazer à tona esse tipo de estética de modo convencional é bastante complexo e demorado. Afinal envolve, por exemplo, modelagem 3D, o que se torna um problema na hora de divulgar as peças nas redes sociais, cuja lógica exige regularidade. 

 “Por exemplo, no início da AirTificial a gente postou uma foto que se passa em um deserto. Não temos acesso a esse tipo de cenário aqui em Brasília, então precisávamos criá-lo. Conseguiríamos fazer isso por meio de montagem, só que essa atividade exige muito tempo”, disse.

“Assim criamos cenários instantâneos, como o deserto, um objeto cenográfico; ao mesmo tempo, conseguimos dar vida às nossas ideias”, completou Igor. 

Modelos criadas por IA são vendidas 

Além da lalaLand.io, citada ali em cima, uma agência holandesa chamada Deep Agency oferece a versão beta de um catálogo de modelos digitais gerados no DALL-E 2. “Contrate modelos virtuais e crie um gêmeo virtual com um avatar que se pareça com você”, anuncia em seu site.   

O serviço funciona por meio de uma assinatura mensal de USD 29, mas, assim como o preço, a qualidade em geral é baixa. A turma do site Motherboard, por exemplo, testou a novidade e relatou falhas como tom de pele diferente do inserido no prompt. 

Modelos artificiais promptPrint do site da agência Deep Agency, que promete oferecer modelos ou gêmeos em forma de avatarFonte: Motherboard/Reprodução

No nosso papo, Igor Borges revelou que no momento estão sendo usadas apenas pessoas reais nas imagens de divulgação e catálogo da AirTificial. O designer também disse já ter experimentado a criação de modelos virtuais, porém, pelo menos via IA, o resultado não tem sido satisfatório.  

Segundo ele, a criação de avatares 3D de alta qualidade exige uma estrutura mais robusta tanto em termos de profissionais especializados no assunto quanto de investimento financeiro. 

Entretanto, a marca já conta com uma peça de roupa digital 3D e tem o interesse de incorporar a IA a outros processos, como inspiração para estamparia. “Pensamos futuramente em vender roupas virtuais também, não só para Instagram como também skins para game”, especificou. 

O futuro da moda e dos artistas 

Não tem como negar, nessa altura do campeonato, que a inteligência artificial veio para ficar em diversos processos profissionais (dentro e fora da moda). À medida que recebe mais investimento, a tendência é que esse recurso se torne mais acessível.  

E lembra-se do metaverso do Zuckerberg (que aparentemente ele deixou para trás)? Apesar de o boom das IAs generativas terem ofuscado essa tecnologia, isso não significa que seu mercado tenha deixado de existir. A grande potencialidade aqui está no ramo de games, que tem seu próprio nicho de moda virtual. 

“Nesse metaverso vão ser necessários estilistas. Aliás já existem estilistas virtuais, que só fazem roupas 3D para desfiles virtuais e há pessoas que nunca trabalharam com roupa física na vida. Com certeza vão existir profissionais de IA entrando nesse processo”, completou. 

Enfim, aos poucos tem sido criada uma demanda por talentos de dentro e de fora do mercado de moda, capazes de lidar com uma realidade que vai além do físico, do convencional. Ou seja, será preciso lidar não só com múltiplas plataformas, como também diversas ferramentas e processos com pegada fashion.  

“Não adianta lutarmos contra a tecnologia, então temos de nos atualizar a aprender a lidar com ela. Se você é uma profissional que luta contra isso, provavelmente com o tempo será atropelado por esse recurso”, aponta o designer. De acordo com ele, essa é uma oportunidade que vai abrir portas, introduzindo pessoas de outros segmentos em novos mercados. “Moda, para mim, é um desses mercados”, argumentou Igor Borges.  

E aí, já consegue imaginar seu guarda-roupa e estilo virtuais? 

Por: Camilla Cássia da Silva

Redação
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