Certamente, quando escreveu os versos de “Eva”, em 1982, Umberto Tozzi não imaginasse que de fato pudéssemos ter um fim. Para além do trocadilho com o título, no fundo, uma questão permeia os pensamentos de muitos: estaremos à beira de uma revolução incontrolável liderada pela inteligência artificial? Será este o “fim da aventura humana na Terra”, como diz a canção?
Em nosso cotidiano, a IA generativa já se mostra uma grande aliada. Quem nunca interagiu com um assistente virtual, como a Siri ou Alexa, para pedir uma música ou verificar o clima? Esses são exemplos simples, mas as aplicações são infinitamente maiores. Por exemplo, jornalistas estão utilizando a IA para auxiliar na redação de matérias, onde a máquina sugere estruturas, dados e até correções gramaticais em tempo real.
No setor médico, a IA generativa está sendo usada para criar modelos 3D de órgãos humanos, ajudando médicos a entenderem patologias e a planejar cirurgias com precisão milimétrica. A personalização de tratamentos médicos com base na genética do paciente é uma realidade cada vez mais próxima.
No mundo da moda e do design, a IA generativa ajuda na criação de estampas, modelos de roupas e acessórios, tornando-se uma ferramenta indispensável para os criativos do século XXI. E nos negócios? A inteligência artificial auxilia empresas a entenderem padrões de comportamento de consumidores, prever tendências e até otimizar a logística e distribuição de produtos.
E o que o futuro nos reserva?
Curto prazo:
Veremos a automatização de tarefas repetitivas, dando mais espaço para os humanos se concentrarem em atividades criativas e estratégicas. A educação será revolucionada com tutoriais e programas educativos personalizados, adaptando-se ao ritmo e estilo de aprendizagem de cada aluno.
Médio prazo:
A IA generativa poderá auxiliar no desenvolvimento de cidades inteligentes, otimizando o tráfego, a distribuição de energia e até a gestão de resíduos. A internet das coisas (IoT) viverá o seu ápice, amplificado pela produção massiva de chips modernos para processamento de dados, e com crescente aumento da tecnologia 5G, quanto maior a velocidade de compartilhamento de dados e interações, melhor serão as automações.
Longo prazo:
A convergência entre a IA e outras tecnologias, como a biotecnologia, poderá levar a soluções para desafios globais, como a mudança climática e a escassez de recursos. Plantas geneticamente modificadas para crescer em ambientes adversos, máquinas que absorvem carbono da atmosfera ou até mesmo a geração de energia limpa e infinita, tudo isso pode sair do campo da ficção para se tornar realidade.
Mas, enquanto imaginamos todos esses cenários, é essencial lembrar que a IA, por mais avançada que seja, é uma criação nossa. Nós a moldamos, direcionamos e decidimos seus limites. A essência do que nos torna humanos, nossa criatividade, empatia e capacidade de sonhar, é insubstituível. E, mesmo diante do avanço tecnológico, essas qualidades continuarão sendo nossos maiores trunfos.
A inteligência artificial, com toda sua magnitude, é uma extensão de nós mesmos. Ela não existe no vácuo. Cada algoritmo, por mais complexo que seja, aprende com base nos dados que inserimos nele. Ou seja, quando usamos exaustivamente a IA nas atividades diárias, ela se torna uma representação digital das nossas preferências, ideias e necessidades.
Uma metáfora que pode ser útil aqui é a do “ciclo do hype” da Gartner. Inicialmente, quando uma nova tecnologia emerge, há um pico de expectativas infladas. Todos esperam pelos milagres imediatos. No entanto, quando os resultados imediatos não se concretizam, nos encontramos no “vale da desilusão”. Entretanto, é exatamente neste ponto que a verdadeira inovação ocorre. Aqueles que persistem, que continuam a trabalhar com a tecnologia (mesmo quando a euforia inicial desaparece), são os que realmente colherão os benefícios quando alcançarmos o “platô de produtividade”, são os que buscam sentido diário na tecnologia.
E qual é o segredo para escalar essa montanha? A habilidade de perguntar corretamente à inteligência artificial. Em outras palavras, a arte de criar prompts (comandos). Por mais instigante que uma IA generativa pareça, ela ainda é essencialmente probabilística, as palavras são como tokens, e baseada em milhares de dados processados anteriormente, a IA cria as melhores probabilidades de uso desses “tokens”, um após o outro, e quanto maior o uso, maior sua acurácia, e logo, quanto melhores forem os nossos comandos, com detalhes claros e precisos das nossas necessidades, melhores serão nossos resultados.
Comunicar-se eficazmente com uma IA, e formular as suas perguntas corretamente é uma habilidade em si, é uma competência que será muito em breve exigida dos profissionais. Não é algo que pode ser dominado da noite para o dia. E é exatamente essa habilidade que diferenciará os líderes dos seguidores no mundo corporativo.
Além disso, a inteligência artificial é uma ferramenta que amplifica as capacidades humanas. Se a utilizarmos com persistência e sentido diário, nossas habilidades serão significativamente amplificadas. Não só nos tornaremos proficientes em interagir com ela, mas também aprenderemos a moldá-la de acordo com nossas necessidades.
Portanto, ao invés de ver a IA como uma ameaça, devemos vê-la como uma aliada. Um meio pelo qual podemos não apenas melhorar nossa eficiência, mas também nossa criatividade, empatia e nossa capacidade de inovação, reforçando habilidades essencialmente humanas. E assim, ao abraçarmos essa tecnologia, não só garantimos nosso lugar no mercado de trabalho, mas também damos um passo à frente na evolução da coexistência humana-tecnológica, onde, juntos, escrevemos os próximos capítulos da nossa jornada, e Odisseia terrestre. Esse é só o começo dela.
Por: Paulo Henrique Fernandes, Legal Ops Manager de Viseu Advogados.