quinta-feira,19 setembro, 2024

Hubs de inovação amadurecem e impulsionam nova geração de startups

Espaços dedicados a fomentar conexões entre empreendedores, investidores, empresas e instituições de ensino crescem em número e escopo, mesmo com pandemia e crise no venture capital

Se nem a pandemia nem o “inverno do venture capital” foram capazes de inibir a proliferação de startups, muito se deve aos hubs de inovação. Surgidos há pouco mais de dez anos, esses espaços amadureceram junto dos empreendedores com os percalços – incluindo a alta mortalidade das startups. “A gente brinca que, antes do Vale do Silício, tem o vale do suplício”, diz Edson Machado Filho, head de Inovação e Parcerias Estratégicas do Ibmec e do Ibmec Hubs.

Mesmo assim, o número de startups não para de crescer. No Brasil, estima-se que tenham saltado de cerca de 12 mil, em 2019, para mais de 16 mil. No embalo, os hubs se multiplicaram. São ao menos 54 no país, 43 deles no estado de São Paulo, de acordo com a Sling Hub — como Cubo Itaú, Inovabra, Liga Ventures e Google For Startups, os quatro com mais interações no país, segundo a plataforma.

Cubo Itaú é um dos quatro hubs com mais interações do país, ao lado de Inovabra, Liga Ventures e Google For Startups — Foto: Divulgação

Em geral, esses espaços cobram aluguel para o empreendedor trabalhar e têm iniciativas para fomentar conexões entre startups, investidores, empresas e, em alguns casos, instituições de ensino. Costumam ser abertos, mas com processos de seleção, o que dá uma espécie de selo de qualidade para quem passa.

“O ecossistema tem muitas engrenagens, e os hubs são uma delas”, diz Eduardo Fuentes, head de Research do Distrito, que nasceu como um hub, em 2018, antes de chegar à atual versão de uma plataforma de inovação para grandes empresas.

“Hubs criam centros de gravidade”, diz Felipe Sotto-Maior, Senior Manager Business Architect no Nubank. Ele fundou uma startup, a Vérios, que passou por mais de um hub em sua jornada até ser comprada pela Easynvest, que, depois, foi adquirida pelo Nubank.

Esse fomento à serendipidade acontece de várias maneiras. Desde o catálogo das startups, que ajuda na pesquisa dos investidores, até eventos, como oficinas, palestras e hackathons.

Google for Startups: espaço foi retomado em 2022 com programas de equidade para mulheres e negros — Foto: Divulgação
Google for Startups: espaço foi retomado em 2022 com programas de equidade para mulheres e negros — Foto: Divulgação

André Barrence, diretor do Google for Startups, credita aos hubs um potencial ainda maior de transformação: “Em geral, é onde começam a ser endereçados os principais problemas da sociedade”. Após migrar para o digital na pandemia, o campus retomou o espaço em 2022 com programas de equidade para mulheres e negros.

Zona cinzenta no ecossistema

E quais as diferenças entre hubs, aceleradoras e incubadoras? A principal é a ausência, nos hubs “puro sangue”, de um plano estruturado, com programas de mentoria e metas, e de condições para investir na startup, antes ou depois.

Mas as figuras, às vezes, se misturam. Algumas incubadoras têm hubs – como o Eretz.bio, do Einstein, dedicado a inovações em saúde, e o Pulse, da Raízen.

E muitos nasceram uma coisa e viraram outra, como a Wayra, da Telefónica. “Começamos como uma aceleradora e, em 2018, viramos um hub de venture capital corporativo”, descreve Gabriela Toribio, managing director da Wayra Brasil e do Vivo Ventures.

Gabriela Toribio, managing director da Wayra Brasil e do Vivo Ventures: “Começamos como uma aceleradora" — Foto: Divulgação
Gabriela Toribio, managing director da Wayra Brasil e do Vivo Ventures: “Começamos como uma aceleradora” — Foto: Divulgação

Embora os hubs costumem ser iniciativas privadas, há locais mantidos pelo poder público. É o caso do Inspira Sampa e do Conecta.hub.sp, da Prefeitura de São Paulo.

E todos esses elos mantêm contato entre si. “Somos parceiros de hubs, aceleradoras e incubadoras, e eles nos indicam startups”, diz Orlando Cintra, presidente do grupo de investidores-anjo BR Angels.

Corporações, setorização e integração digital

Nos últimos anos, três tendências atualizaram os modelos de negócios dos hubs de inovação. A primeira foi a integração com plataformas online, com um empurrão da pandemia.

A segunda foi a aproximação de corporações, na contramão do espírito “faça você mesmo” de alguns pioneiros, como ONovoLab, de São Carlos (SP). “Em 2017, uma corretora nos ofereceu uma fábrica de tecidos abandonada que tinha virado uma cracolândia e não tinha nem telhado. E a gente topou! Foi uma coisa meio idealista, meio hacker”, diz o CEO e cofundador Anderson Criativo.

Fábrica de tecidos abandonada deu lugar ao ONovoLab, hub em São Carlos (SP) — Foto: Divulgação
Fábrica de tecidos abandonada deu lugar ao ONovoLab, hub em São Carlos (SP) — Foto: Divulgação
Após reforma, ONovoLab foi lançado em São Carlos (SP) — Foto: Divulgação
Após reforma, ONovoLab foi lançado em São Carlos (SP) — Foto: Divulgação

Mas, nos últimos anos, as “big corps”, no jargão startupeiro, passaram a se interessar. Surgiram hubs na forma de entidades sem fins lucrativos com mantenedores, como Itaú e Bradesco. Depois, essas empresas chamaram outras como parceiras. “Nossa missão é deixar as corporações mais perto da inovação. Não só em tecnologia, mas também em cultura e boas práticas”, diz Renata Petrovic, head de inovação aberta do Bradesco e do Inovabra.

O hub nasceu em 2018 e hoje reúne cerca de 200 startups, 65 recém-chegadas. Um destaque nessa história foi a Semantix, de inteligência de dados, que hoje é um unicórnio – como se chamam as startups que passam a valer mais de US$ 1 bilhão.

Renata Petrovic, do Bradesco: “Nossa missão é deixar as corporações mais perto da inovação" — Foto: Divulgação
Renata Petrovic, do Bradesco: “Nossa missão é deixar as corporações mais perto da inovação” — Foto: Divulgação

As “big corps” também passaram a se relacionar com hubs, como o próprio ONovoLab e a Liga Ventures. “Desde 2015 estamos em contato com as startups, mas sempre com as grandes empresas como clientes”, explica Guilherme Massa, cofundador da Liga.

Seja qual for o modelo, o benefício é de via dupla. “Para as big corps, os hubs servem para conhecer ideias, abrir a cabeça e terceirizar um produto ou serviço”, diz Fuentes, do Distrito.

Uma terceira transformação foi a setorização. Como no Cubo Itaú, que passou a se dividir em temas como saúde, varejo e ESG. Já são 900 startups avaliadas desde 2015. “Notamos que a especialização favorece a profundidade”, diz o CEO Paulo Costa.

Como escolher?

Para quem tem opções, é importante escolher um hub adequado ao tema e ao estágio da startup. Há lugares generalistas e outros voltados a nichos, como o AgTech Garage, em Piracicaba (SP), focado em agro, ou o Arena Hub, em São Paulo, em esportes. “O setor é um ponto de investigação. É preciso checar quem está dentro, tanto startups quanto corporações, e avaliar se faz sentido”, diz Sotto-Maior.

Já em termos de estágio, ele diz, hubs em geral miram startups iniciantes, mas não tanto: “Aquela pequena o suficiente para ainda caber no hub, mas que já saiu do PowerPoint”. Já entre os negócios com mantenedores, o alvo são startups em fase de “growth”.

“A gente começou mais próximo das early stage, mas vimos que demora para as soluções virarem. Hoje temos mais maduras que iniciantes”, diz Fábio Mota, vice-presidente de Serviços aos Negócios e Tecnologia da Raízen.

Há espaços mais conectados à academia, como ONovoLab, de São Carlos (SP), e outros voltados a fomentar a inovação entre estudantes. É o caso do Ibmec Hubs, que desde 2018 já deu espaço e orientação a 50 startups de alunos da instituição.

Uma delas, a Pay 4 Brain, recebeu um aporte de 1 milhão de euros. E vêm surgindo outras inovações, como um robô usado para filtrar telefonemas ao Hospital das Clínicas no início da covid-19 e um algoritmo que monitora ligações ao Centro de Valorização da Vida e aciona supervisores em caso de risco de suicídio.

Fonte: Época Negócios

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