Cientistas desvendaram a origem dos gatos domésticos ao estudar sua genética enquanto acompanhavam populações humanas no Crescente Fértil, há cerca de 10.000 anos, quando mudamos de caçadores-coletores para fazendeiros sedentários. Ao contrário de outros animais, os felinos se adaptaram uma única vez ao nosso convívio, se espalhando pelo mundo conosco e trazendo sua habilidade de controle de pragas, como os roedores, desde as primeiras civilizações.
Executado pela Universidade de Missouri, o estudo sobre os nossos queridos caçadores peludos de estimação vai além da mera curiosidade, e também objetiva entender as doenças que acometem tanto os animaizinhos quanto nós, humanos, já que os gatos são mais parecidos conosco biologicamente do que parece. Foram quase 200 marcadores genéticos diferentes analisados, revelando em detalhes as diferenças e semelhanças entre os felinos ancestrais e os modernos.
De onde vêm os gatos
Entre eles, estão os microssatélites, marcadores genômicos que sofrem mutações muito rapidamente e revelam segredos sobre as populações mais atuais de gatos, abarcando as raças das últimas centenas de anos. Também foram estudados os polimorfismos de nucleotídeo simples, sendo mudanças singulares que se espalham pelo genoma e contém pistas da história antiga dos animais, indo até milhares de anos no passado. Comparando essas informações, a história evolutiva dos gatos é revelada.
Criaturas como cavalos e vacas foram domesticados pelos humanos em diversas épocas e lugares diferentes, uma diversidade que os felinos não tiveram, já que parecem ter sido abrigados em nossos lares apenas no passado do Crescente Fértil — ou seja, no Oriente Médio, entre os rios Tigre e Eufrates. Atualmente, mutações genéticas passadas aos filhotes foram deixando os gatos diferentes de seus primos em outros lugares, um processo conhecido como “isolamento pela distância”.
A ciência chama os gatos, na verdade, de semi-domesticados, já que, uma vez soltos na natureza, conseguem caçar, reproduzir e viver tranquilamente apenas com seu comportamento natural, uma sobrevivência sem a ajuda de humanos — ao contrário de cães e outros animais, não modificamos muito o comportamento dos gatos. É mais uma das características que tornam os nossos amigos felinos únicos e especiais.
Benefícios aos humanos
No campo da saúde, entender o DNA felino ajudará no tratamento de doenças que afligem tanto os bichinhos quanto seus donos, como a síndrome dos rins policísticos, a cegueira e o nanismo. Uma das geneticistas felinas do estudo, Leslie A. Lyons, já estuda os animais há 30 anos, e tem esperanças de utilizar as ferramentas genéticas para melhorar a vida dos animais domésticos. De quebra, durante seus estudos, ela descobriu que a estrutura genômica dos gatos é mais parecida com a dos humanos do que qualquer outro mamífero não-primata.
Assim, descobrir curas para os felinos também permitirá que, um dia, os métodos nos beneficiem. A síndrome dos rins policísticos, por exemplo, afligia 38% dos gatos persas do mundo, segundo levantamentos em 2004, e viu uma diminuição considerável após inovações veterinárias advindas dos estudos da equipe de Lyons. A meta é, um dia, erradicar doenças genéticas como essa da espécie — traduzindo os resultados, eventualmente, para nós, humanos.
Fonte: Heredity
Por: Augusto Dala Costa