Fumaças de incêndios florestais e poluição, como as que estão acontecendo no Brasil, aumentam o risco de transtornos mentais em pessoas mais jovens. A informação é do novo estudo da Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA. A pesquisa está disponível no jornal acadêmico Environmental Health Perspectives.
Assim como o Brasil, o sul da Califórnia também enfrenta incêndios que afetam cidades como Las Vegas, em Nevada, e partes do estado do Colorado. Embora partículas perigosas também possam vir do trânsito ou de indústrias, Colleen Reid, coautora e geógrafa do Instituto de Ciências Comportamentais da universidade, suspeita que a maioria das exposições no estudo se devam à fumaça dos incêndios.
Estudos mostram que finas partículas (PM) — materiais com menos de 2,5 micrômetros encontrados no ar poluído –, são pequenas o suficiente para atravessar a barreira hematoencefálica — que serve para proteger o sistema nervoso de substâncias tóxicas.
Dessa forma, pode inflamar tecidos, danificar células e desencadear alterações cerebrais agudas e de longo prazo. Mas, além de prejudicar a saúde dos pulmões e do coração, a poluição do ar pode impactar na cognição e no comportamento humano.
Anteriormente, cientistas já demonstraram que internações hospitalares por depressão, tentativas de suicídio e episódios psicóticos aumentam em adultos em dias de alta poluição. Além disso, bebês têm mais chances de ter déficits motores e deficiências cognitivas mais tarde na vida quando suas mães são expostas a altos níveis de partículas durante a gestação.
Entretanto, o novo estudo é um dos primeiros a analisar os potenciais impactos em pré-adolescentes.
Como foi feito o estudo?
A equipe do autor Harry Smolker, pesquisador do Instituto de Ciência Cognitiva da universidade, analisou dados de 10 mil pessoas de 9 a 11 anos. Eles são parte do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente, a maior pesquisa de longo prazo sobre desenvolvimento cerebral e saúde infantil nos Estados Unidos.
Os cientistas examinaram os endereços dos participantes e dados de qualidade do ar. Assim, eles determinaram quantos dias ao longo de 2016 os jovens ficaram expostos a níveis de PM acima de 35 microgramas por metro cúbico, considerado inseguro pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Como resultado, cerca de um terço foi exposto a pelo menos um dia acima do padrão – um deles chegou a 173 dias. O nível mais alto de exposição relatado foi de 199 microgramas/m3, cinco vezes maior do que o nível seguro.
Analisando questionários de pais durante três anos, os pesquisadores descobriram que a exposição a níveis inseguros aumentava a probabilidade de sintomas de depressão, ansiedade e outros em jovens até um ano depois. Além disso, para cada dia de exposição, o risco aumentou em 0,01 ponto em média em uma escala de 1 a 50.
Isso aconteceu independente de fatores como gênero, raça, status socioeconômico e saúde mental dos pais. Além disso, alguns jovens também podem ter predisposição genética a serem mais vulneráveis aos impactos cognitivos e comportamentais da poluição.
Por fim, Smolker destaca que as finas partículas é apenas um dos inúmeros poluentes da fumaça que afetam o desenvolvimento dos jovens. “Coletivamente, eles podem se somar”, disse.