Estamos vivendo em um mundo particular na área de Tecnologia. Mais empregos em oferta do que profissionais habilitados para preenchê-los. Isso não é novidade, mas é o que tem elevado os salários pagos no setor a números que talvez nenhum outro já tenha experimentado. Contudo, sabemos que essa realidade é provisória e nada sustentável.
A busca por caminhos para formar e aumentar o contingente de profissionais na área tem nos levado a descobertas transformadoras. Recentemente, fui conhecer de perto um desses caminhos. Há cinco anos (desde 2017) apoiamos a formação profissional de jovens em vulnerabilidade social para atuarem na área, por meio da parceria com a ONG IOS (Instituto da Oportunidade Social). Com isso, já colaboramos com a formação de 311 novos profissionais.
Com investimentos advindos principalmente das parcerias com empresas do setor, a ONG transforma, em seis meses, jovens sem experiência corporativa em profissionais prontos para atuarem nas empresas. Em mais de duas décadas já formaram mais de 42 mil profissionais. O maior impacto na sociedade está no aumento da empregabilidade após o curso. Com o emprego que conquistam após a formação, esses jovens conseguem incrementar a renda de suas famílias em até 54%, segundo dados do próprio IOS.
De acordo com levantamentos do Instituto, 17% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos já pagam suas contas e ainda contribuem com a renda da família e 6% deles, ainda em idade de desenvolvimento, já sustentam integralmente as suas famílias. Uma carga bem pesada para pessoas ainda em formação. Boa parte desses jovens têm encontrado emprego aqui nas empresas de Tecnologia.
De frente para essa realidade, é perceptível o potencial de impacto social positivo que as empresas do setor podem trazer para o país. Mais do que isso, quantas vidas podemos transformar de fato. Estamos retratando a realidade de um público do qual o desemprego mais afeta no país, que são as pessoas de 18 a 24 anos.
Ao longo da minha trajetória profissional, atuando em algumas das principais empresas do setor, essa provocação da formação de profissionais sempre esteve, de alguma forma, presente nas minhas escolhas e mostrando o quanto é importante que as lideranças entendam, de fato, que nosso papel na sociedade vai muito além das nossas rotinas diárias nas empresas.
Sempre tive o cuidado de ouvir as pessoas, e isso acabou me aproximando ainda mais desse tema. Talvez porque em minha jornada tenho entendido que é preciso estar conectado com as realidades das equipes que lideramos, e sempre atento aos desafios e oportunidades que apresentam. Esse cuidado é um caminho por onde é possível engajar, inspirar e, principalmente, compartilhar conhecimento.
O jovem que busca essas qualificações está em um momento muito complexo da vida. Ele tem muitas necessidades. Seja de prover para a família e ele mesmo a necessidade de alimento, de saber, de aprender, de conseguir, de experimentar e de conquistar. Ele precisa entender com muita urgência o que vai se tornar no mundo do trabalho. Nosso papel de liderança é imprescindível e pode dar alento a um jovem que sequer imagina que poderá um dia trabalhar com tecnologia. Percebo cada vez mais que cabe a nós, nas empresas, ajudá-los a traçar esses caminhos.
Ao mesmo tempo, compartilhar nossas experiências com eles pode trazer mais tranquilidade. Costumo dizer que, lá no início da minha carreira, com tantos planos e projeções que fiz sobre mim, jamais imaginei as escolhas que tive que fazer. Não foi possível prever absolutamente nada. Então, dividir isso é trazer a eles um conforto e uma calma necessária, para que possam trilhar carreiras sólidas, mais focadas e não em ritmo tão “flash” como o setor tem vivenciado nos dias de hoje.
A dica mais valiosa que gosto de dar a eles é sobre não ter medo de mudar. É ajudá-los a entender que o mais importante é virar o radar para onde eles querem estar e deixar acontecer. Essa é a melhor fórmula para chegar bem aonde a trajetória nos levar e onde nos deixamos ser levados.
Para esquentar ainda mais esse cenário, com a pandemia, o home office aumentou a disputa por esses profissionais que agora também são contratados por empresas estrangeiras, pagando em dólar e sem que precisem sair de casa e do país.
Não dá para fomentar essa briga insustentável por salários estratosféricos, e a saída que mais me agrada é acreditar no potencial do jovem. Nós podemos prepará-los para as urgências que o nosso mercado está trazendo de forma gritante.
Sem contar as vantagens em trazer essa nova energia para nossos times e negócios. A realidade que eles trazem é um ingrediente fundamental para a diversidade. Essa mistura nos contempla com um ambiente ainda mais propício para a inovação, para novas soluções e nos faz entender, de fato, os reais problemas sociais que podemos melhorar. Muito mais certeiro que ficar de dentro de uma sala arriscando projetos pontuais sem sequer conhecer o que de fato é a realidade distante, mas que representa a maioria dos que habitam nesse país.
Esse apoio, na verdade, transforma o jovem. Dá a ele e suas famílias a transformação social digna, empodera e o faz acreditar que é capaz, e que a Tecnologia é uma realidade possível em sua trajetória de mudanças. Olhando para isso, descobrimos o quanto esse caminho nos conecta ainda mais com as estratégias globais das empresas que, em nível mundial, estão cada vez mais sendo cobradas por devolver ao planeta e à sociedade tudo que nos é proporcionado.
Assim, venho entendendo que a maior transformação, na verdade, beneficia a própria empresa que está pronta para abrir suas portas para esses jovens talentos que ajudamos a formar. A troca é imediata. Além de pensar diferente, questionar mais e buscar mais conhecimentos, eles conseguem também humanizar mais nossas ações.
Mais que ações pontuais, a formação é uma ação contínua, que encurta os caminhos para a contratação de novos talentos, sem prazo para acabar em uma fila quase infinita de jovens ansiosos por uma possibilidade de aprender, crescer e desenvolver a si próprio e o ambiente onde estão inseridos. É ou não é um excelente negócio?
Por Walter Hildebrandi, editado por André Lucen